UÉ, VOCÊ AQUI NO GALEÃO... VAI PASSEAR? |
NÃO, AMIGO, TÔ INDO EMBORA PARA OS STATES |
«Embora? Como assim... de vez?»
«Mais ou menos. Vou dar um tempo. Tenho uns amigos por
lá. Vou tentar...»
«Puxa, mas assim de repente... Aconteceu alguma coisa?»
«Bem... De repente, mesmo, não é. É algo que veio aos
poucos, uma desilusão aqui, uma decepção ali... Um degrau para baixo todos os
dias, balas perdidas no peito de uma esperança transeunte, facadas nas costas de um sonho
teimoso. Acordar com o estômago embrulhado pelo espetáculo político visto na
véspera na televisão, antes de dormir. O café da manhã azedado pelas manchetes
dos jornais. Slogans repetidos como
um disco quebrado por quem já perdeu a noção do que se passa no Pais que devia
governar. As promessas ocas, os propósitos furados, as profissões de inocência
enganosas, os “não sei de nada” trapaceiros, bordões mentirosos recitados ad nauseam como mantras podres. Náusea.
É isto que sinto quando triplicam a verba partidária e hospitais caem aos
pedaços, quando aprovam aumentos dos salários parlamentares e escolas desabam
em cima de carteiras vazias, quando prefeitinhos embolsam o dinheiro das
merendas, certos de sua impunidade, quando o próprio Secretário de Segurança de
uma das cidades mais lindas do mundo declara alto e bom som que é melhor não
denunciar os menores assassinos que perambulam pelas ruas porque eles serão
soltos no dia seguinte e procurarão vingança. Tremores noturnos me tiram o sono toda vez que mega-projetos decantados em discursos de campanha não saem do papel ou, se saem, operam o milagre da multiplicação dos custos em obras superfaturadas, que nunca acabam. Falta de ar, amigo, me acomete
quando uma empresa símbolo é saqueada por um projeto de poder destinado a “dar
uma volta” na Democracia e pela incompetência de seus executivos. Quando recursos, agravos e outras filigranas começam a acochambrar as punições do
julgamento-esperança que foi o Mensalão. Quando as mesmas artimanhas absolvem
homicidas ao volante, facínoras no campo, exterminadores passionais e os
tribunais geram a casta dos Acima da Lei.
Quando as soluções para melhorar a sorte e recuperar o rumo se diluem no
troca-troca obsceno do Congresso, no toma
lá, dá cá de favores pessoais ou numa queda de braço ridícula. Quando o
rescaldo de toda esta pantomima é uma nação parada, condenando milhões de
jovens ao analfabetismo funcional, forçando a emigração dos mais competentes, sufocando
o empresariado e o indivíduo com impostos imorais e sem retorno. Rotularam os
anos da ditadura como os Anos de Chumbo. Como
serão conhecidos, então, estes anos agora, em que o esgoto da corrupção
derramou seu caldo fecal e fétido em cima da sociedade? Pois é, cara... Não dá mais. E
você, vai ficar?»
«É... Será que dá para comprar uma passagem no
cartão?...»
E
assim, a Turma do Bar pede o seu boné... Bye, bye Brazil.
Oswaldo
Pereira
Maio
2015
"Grande coisa é assumir a humanidade e maior coisa ainda, libertar-se dela." Murilo Mendes
ResponderExcluir"A imperturbabilidade é mais forte que o destino" O I Ching - hexagrama 47 - A Opressão.
Minha TV caiu de cara no chão e se espatifou inteira. Tenho me sentido melhor, mais normal.rs
são
os ossos do ofício: viver.
ResponderExcluirQuebrou as represas das angústias diárias e inundou com suas palavras de indignação e desanimo nossos pensamentos fazendo ecoar nosso clamor em uníssono........parabéns......
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