“Auriverde
pendão da minha terra
Que
a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte
que a luz do sol encerra
E
as divinas promessas da esperança
Tu,
que da liberdade após a guerra
Foste
hasteado dos herois na lança
Antes
te houvessem roto na batalha
Que
servires a um povo de mortalha”
Esta
é, talvez, a estrofe mais famosa do poema O
Navio Negreiro, escrito por Antonio Frederico de Castro Alves em meados do
século XIX. O poeta baiano era um ferrenho abolicionista e sua obra literária,
condensada em poucos anos de intensa criação, espelha seu ódio visceral pela
escravatura. Castro Alves morreu com apenas 27 anos, vitimado pelo mal do século, a tuberculose, mas sua
obra e, principalmente, seu irresistível carisma como tribuno e declamador de
seus próprios versos, muito contribuíram para dar impulso à causa da libertação
dos escravos.
“O
Navio Negreiro” resume poderosamente sua indignação profunda contra o mercado
da servidão e a crueldade das terríveis condições subumanas no transporte dos
negros subjugados. E, na estrofe acima, ele canta sua singular amargura contra
o que ele considerava um acobertamento e uma cumplicidade do Império com a
degradante situação, a ponto de desejar ter sido preferível o Brasil ser
derrotado na Guerra da Independência a praticar tão hediondo crime contra a
humanidade.
Indignação
ao rubro. Será isto que nos falta? Será que falta
uma voz, um canto de guerra, uns versos cuja rima incite um clamor que ecoe
ensurdecedor pelos céus do país?
Será
que só “panelaços”, marchas, demonstrações, palavras de ordem nas redes sociais
serão suficientes para chegar aos insensíveis ouvidos dos nossos homens
públicos e fazê-los entender que não aguentamos mais? Que dentro de sua
blindagem espúria eles não têm o direito moral de aprovar aumentos em seus
proventos absurdos, de sequer pensar em aumentar impostos para tapar os buracos
orçamentários cavados por eles próprios em sua ganância desenfreada? Que a
melhor solução que têm a desfaçatez de apresentar a uma Nação a braços com uma
crise financeira e moral sem precedentes, ou seja, o corte dos investimentos
sociais e de infra estrutura ao invés de cortar, isso sim, nos seus gastos
indecentes, seus ministérios cuja função inequívoca é servir de moeda de troca em
nomeações políticas ou de cabide de empregos com kick-back de parte dos salários, suas secretarias, conselhos,
assessorias, divisões, departamentos, gerências e demais penduricalhos inúteis,
não nos serve? Que não podemos mais engolir como aceitável o rigor com que
achatam a aposentadoria de milhões de brasileiros comuns, enquanto o seu próprio regime especial de previdência
estabelece privilegiadíssimas relações custo/benefício que não conhecem
paralelo no mundo civilizado?
Ah!
Castro Alves, que falta você faz...
Oswaldo Pereira
Maio 2015
Esse aumento do judiciário num momento em que é exigido sacrifícios de todos com sobrecarga de impostos para cobrir desmandos.......e um tapa na cara de uma nação sofrida e incrédula com tamanha falta de bom senso e respeito
ResponderExcluirTapa na cara, e mais... Um político corrupto com a mão no cofre da nação é tão ou mais nocivo e perigoso que um adolescente "cheirado" com uma faca...
ExcluirTem algum lugar no mundo em que o poder não cometa arbitrariedades? Tem algum lugar onde o poder não exista como controle? Tem alguma parte da Humanidade isenta dos abusos dos paranóicos e tanaticos bem sucedidos que tomam e manejam o poder? Emudecer , fugir, guerrear, fingir de morto, escrever poemas, entrar na dança. Tudo isso e muito mais. Os caminhos nem sempre estão claros ou disponíveis. Hay que pelear. Minha filha Melissa chamou a tristeza de "uma senhora que as vezes me visita". Essa tristeza sempre se hospeda mas traz uma bagagem de elucidações e discernimento. Isso que Oswaldo organiza e prodigaliza seus textos.
ResponderExcluirQue linda a frase da Mel. Vi há pouco uma mensagem dela no facebook, repudiando o massacre diário de más notícias e reclamações raivosas contra a situação da nossa cidade. Deprimem, eu sei. E acabam por saturar a capacidade de reação. A quois bon parler?...
ExcluirCastro Alves, por certo, a beleza o matou. Da alma, da fisionomia, dos propósitos, dos textos. Acho que Freud ou Lacan; um deles dizia. " A beleza intoxica".
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