Em 2009, quando acabei de escrever meu segundo livro,
“A Fórmula Etrusca”, tive a coragem de mandar os originais a uma editora no Rio
de Janeiro. Para minha grata surpresa, após alguns dias, recebi um convite para
ir até lá. Junto, vinha também uma minuta de contrato de edição que estipulava,
como condições básicas, que eu pagaria pela revisão do texto, pela paginação e
impressão dos exemplares, além de transferir para eles os direitos autorais da
obra. Das eventuais vendas do livro, eu receberia 35% do preço de capa. Uma
pechincha...
Já resolvido a optar por uma edição de autor, como também fizera com o meu livro anterior, “O
Pátio de Atenas”, decidi, mesmo assim, ir até lá. Queria entender a mecânica do
mundo editorial e perceber qual seria o caminho a ser percorrido por um
escritor desconhecido, como eu, para penetrar no rol dos bem-aventurados autores
com os quais as casas editoriais assumiam ou, ao menos, repartiam uma parte do
risco.
O dono foi muito amável, mas também muito franco. Depois de elogiar o meu trabalho, descreveu
as agruras do mercado literário. No ano anterior, disse-me ele, todos os
grandes empreendimentos livreiros dos Estados Unidos haviam perdido dinheiro.
Os únicos a se safarem tinham sido as pequenas casas editoriais, que publicavam
obras de caráter pessoal cujos autores mandavam imprimir para depois oferecer
como presente aos amigos. Na verdade, funcionavam apenas como tipografias que vendiam o serviço
gráfico sem se preocupar com o mérito da obra. Se nos States era assim, imagine no Brasil, ele continuou. As editoras
nacionais só estavam bancando autores consagrados ou aventuras literárias de famosos. Para “ilustrar”, informou-me
que estava se preparando para custear um livro da Vera Fischer...
Antes de terminar a conversa, ele falou algo que muito
me impressionou. «No Brasil inteiro», ele disse, «existem apenas 400
livrarias...»
Nos últimos seis anos, este número vem diminuindo
dramaticamente. A mais recente baixa desta guerra inglória foi a mítica Livraria Leonardo Da Vinci, uma das mais
emblemáticas do Rio. Para quem aos treze anos descobriu sua paixão devoradora
pelos livros, (como relatei no texto que deu início e o título, Palavra Escrita, a este blog), é como se as luzes estivessem se
apagando. Cada vez que uma livraria cerra suas portas neste país, eu consigo
ouvir os gemidos de Machado, Drummond, Bilac, Barreto, Alencar, Rosa,
Veríssimo, Amado, Bandeira, Lobato.
E os meus...
Oswaldo
Pereira
Maio
2015