Como
qualquer pessoa nascida e criada num país de tradições liberais e acalentada no
seio de uma família de raízes multirraciais e inspirada pela tolerância, a ação
terrorista contra o Charlie Hebdo repugnou-me. Detesto violência, especialmente
quando ela é empunhada por mãos covardes e alimentada pela insensatez
religiosa.
Horroriza-me
o fato de que a Religião, um coletivo que engloba dezenas de fés cuja doutrina
nuclear repousa nos pilares da paz e da compreensão, tenha sido, ao longo da
História, o mais importante agente de guerras, perseguições, barbáries e
atrocidades. Em nome de deus, seja
ele qual for, foram desencadeadas hecatombes inimagináveis, visceralmente
contrárias à pregação de fraternidade professada por todos os credos.
Dos
sacrifícios a Baal, na Antiga Mesopotâmia, ao atentado de Paris na quarta-feira
passada, leituras fundamentalistas dos códigos sagrados das diversas religiões
serviram, e servem, de mandamento a extremistas dispostos a tudo para fazer
valer a sua verdade teológica ou para
vingar ataques aos seus profetas e santos.
Repetindo, rejeito, condeno e
abomino o que os jihadistas argelinos
perpetraram contra o jornal parisiense.
Mas, será
que eu posso dizer EU SOU CHARLIE?
CHARGE RELIGIOSA DO CHARLIE |
Para
começar, sempre achei seu humor um pouco pesado,
tipo pata de elefante. Embora
reconheça os méritos e os traços de seus cartunistas, nunca achei muita graça
nas charges publicadas, nem as políticas e nem as religiosas. Quando estive na
França, em 1992, comprei um exemplar e verifiquei que não era o meu tipo
de humor. Depois, não gostei das ridicularizações gratuitas, às vezes cruéis,
que o Charlie disparava contra figuras que deveriam merecer um pouco
mais de respeito. É claro que gosto da irreverência, de uma boutade perspicaz, da sátira fina e
elegante, mas o canhão do Hebdo tinha um calibre grosso demais
para meu paladar.
Nada disto,
evidentemente, justifica o ato praticado pelos fanáticos argelinos. Para os que
se julgam atingidos pelas charges, há
sempre o recurso aos tribunais, ou até a um contra-ataque utilizando as mesmas
armas dos ofensores, ou seja, o lápis, o papel e a inteligência. E foi um genial
francês, François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, que afirmou: “posso
não concordar com uma palavra que você disser, mas defenderei até a morte o seu
direito de dizê-las”. A liberdade de
expressão, este bem essencial à vida humana, precisa ser preservado, quanto
mais não seja pelo dever que ela tem de ser responsável, verdadeira e capaz de
assumir seus erros e exageros. Então, neste sentido, eu posso, sim, dizer:
EU
SOU CHARLIE
Oswaldo Pereira
Janeiro 2015
Existe um tipo de narcisismo patológico capaz de desencadear a ira alheia. As provocações e o deboche do Hebdo estavam a meu ver, a espera da punição que os atingiu. E mais, virou marqueting. Vão vender muuuuito.
ResponderExcluirCaro Osvaldo, abomino esta violência, seja ela política ou religiosa, portanto JE SUIS MENGÕ. Abraço do Thomaz.
ResponderExcluirRenata está se coçando para dizer o mesmo mas fica com receio de que a interpretem mal...
ResponderExcluirCaro Homerix,
ExcluirQuem escreveu a saga de Hugo Escarlate não precisa ter medo de nada...
Desde a primeira hora, publiquei em minha página "Je suis Charlie". Concordo, nada justifica o atentado bárbaro contra a liberdade de expressão. Quem não concordar com a lei do país, que lute democraticamente para mudá-la. Ou vá cantar noutra freguesia.
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