Não me
lembro de quem foi a ideia, mas, de repente, todos nós resolvemos ir para a praia.
Faltava mais de meia-hora para a meia-noite, o baile de réveillon havia começado há pouco, mas nós não estávamos dispostos
a celebrar o Ano Novo num salão suarento e apinhado de gente. Dava para ir a
pé. E lá fomos, surrupiando umas garrafas de espumante, alguns sanduíches
(afinal, o convite fora caro...), de smoking
e vestidos longos, gravatas borboleta e penteados construídos com laquê, sapatos de verniz e saltos altos,
em direção à noite e à areia...
Achávamos
que seriamos os únicos. Mas, em outros bailes e de outras festas, muitos haviam
tido a mesma lembrança. Grupos e mais grupos em traje de gala estavam
chegando, como que convocados por um arauto visceral, um chamamento do céu de
verão que inundava nossos olhos de estrelas. E, porque éramos jovens, também de
sonhos.
Dava para
sentir o Ano chegando. Alguém-poeta disse que conseguia vê-lo cavalgando as
ondas negras para além do horizonte. “Quinze minutos!”, um não-poeta informou
com os olhos atentos no mostrador que tinha no pulso.
E, claro,
tinha de acontecer um violão. Sabíamos todas as músicas, as letras de palavras doces
misturadas com o champanhe, um coral de uma dúzia de vozes em dueto com a
brisa que, como o Ano, também vinha do mar. Uma imensa festa. Todos à rigor com os pés na areia, outros pés
sendo salgados pela marola leve, cantos e risos correndo soltos pela volta da enseada.
Meia-noite! E, num só gesto, todos nós erguemos
as taças em homenagem. O Futuro estava ali, na nossa frente. Nós o tínhamos
pela mão. Como eu disse, éramos jovens...
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A praia era Copacabana, numa época em
que a festa planetária de hoje era só uma longínqua miragem. O Ano era
1965. Há 50 anos. Putzgrilla...
Oswaldo Pereira
Janeiro 2015
Putzgrilla...
ResponderExcluirO tempo passa, o tempo voa, meu caro amigo. Ainda bem que temos esperanças e desejos para o novo ano e a certeza que curtimos os anos passados. E como era bom curtir um ano novo. Grande abraço do Thomaz.
Cacilda! Eu estava lá, também vi o ano novo chegar em nefelibata corcel plúmbeo! Sim, plúmbeo, porque em 1965 ainda acreditávamos que o poder logo seria devolvido aos civis, é ou não é?...
ResponderExcluirAcreditávamos em muita coisa... até em Direita ou Esquerda, coisas que no Brasil de hoje passaram a ser apenas uma massa política cinzenta que cheira mal a cada ano que passa...
ExcluirCacilda e putzgrilla, meu caro amigo Marcos, em que furada nos metemos...