quarta-feira, 5 de novembro de 2014

TRIBULAÇÕES DEMOCRATAS




Pelas indicações que chegam, os resultados das eleições de meio termo americanas apontam para um crescimento da presença republicana em ambas as casas do Legislativo. Além de significar um maior descontentamento com a administração de Barack Obama, cujo índice de aprovação caiu para 42% no início de novembro, um Congresso mais adverso tornará sua tarefa de governar o país ainda mais difícil. Com o perigo de ver seus programas de governo paralisados pelos próximos dois anos, os Democratas poderão chegar em 2016, ano das eleições presidenciais, com pouca margem política para enfrentar seus adversários e a imagem de um republicano na Casa Branca fica cada vez mais nítida.

Obama já enfrenta uma pauta duríssima. Resistências à implantação abrangente de seu carro-chefe, o chamado Obamacare, uma revolução no sistema de subvenções da saúde pública dos Estados Unidos, agravadas pelo fracasso operacional do site do programa, são apenas uma das tribulações. Ainda vagueiam pelos noticiários as denúncias de Edward Snowden sobre as espionagens indevidas da NSA, a linha dura da direita acusa-o de covarde perante as atrocidades do Exército Islâmico e as decapitações de jornalistas americanos, há o aumento da imigração ilegal de crianças pela fronteira com o México, o debate cada vez mais aceso sobre a limitação da venda de armas, mercê dos frequentes atentados nas escolas. E o ebola chegou a Nova Iorque...

Então, lembrei-me de outro Presidente democrata e de seus semelhantes percalços.

Em 1963, John Kennedy, longe ainda de ser a unanimidade reverenciada com que se entronizou na História, lutava com problemas parecidos. Os Democratas haviam ganhado as eleições de meio de mandato no ano anterior com pouca margem e, mesmo assim, devido à atuação de seu Governo na crise dos mísseis cubanos. Esta vantagem havia-se evaporado no ano seguinte. A decisão de Kennedy em levar avante a aprovação de uma nova legislação de direitos civis, cujo objetivo era praticamente acabar com a segregação racial em todo território nacional, dividia os americanos. No extremo oriente, o dúbio apoio a um governo corrupto e impopular no Vietnam do Sul não dera certo, com a deposição e assassinato de Ngo Dinh Diem e a eventualidade da perda do controle do país para os comunistas.A Guerra Fria chegara ao auge com a situação de Berlim e a construção do muro. Havia o conflito interno com o FBI de J. Edgard Hoover, que detestava o Presidente e mais ainda seu irmão Bob, Advogado Geral da União, e era detestado por eles. Fidel Castro e uma Cuba comunista eram mais uma pedra no sapato e um aumento de impostos sobre a exploração de petróleo ameaçava sublevar até as lideranças democratas no Sul, principalmente no Texas, estado chave para as pretensões de reeleição no ano seguinte.

Foi com a missão de reverter este quadro que, em 20 de novembro de 1963, John Kennedy, acompanhado de Jacqueline, viajou para Houston e, dois dias depois, para Dallas. E a História seguiu seu curso...

É inegável a poderosa influência dos Estados Unidos no mundo. Como maior economia global, seus movimentos mexem com os humores de todo um planeta. Assim, o que lá acontece é assunto. Até para este modesto blog...  


Oswaldo Pereira

Novembro 2014

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