Há muita gente, inclusive colunistas de respeito,
dizendo que chegamos ao fundo do poço. O escândalo da Petrobras já é, em termos
do montante desviado e de amplitude de envolvidos, o maior episódio de
corrupção nacional de todos os tempos. E olhe que estamos falando de um país
recém-saído do espetáculo midiático que foi o processo do Mensalão, de um povo que convive com relatos de falcatruas esfregados
diariamente em sua cara pela imprensa, das incontáveis denúncias de malversação
do erário que saem pelos poros do tecido da sociedade brasileira.
Foram contabilizados, até agora, R$56 bilhões
(para os que me ouvem nos Estados Unidos e na Europa, o equivalente a US$22 billion ou €16 mil milhões),
desviados, propinados, lavados e
enxugados em paraísos internacionais, por uma teia pegajosa composta por
políticos, lobistas, funcionários, diretores, empresários, doleiros e outros profissionais do ramo. É estarrecedor imaginar que todo esse esquema, aparentemente vicejando impune nos corredores
da maior e mais emblemática empresa do Brasil, passou despercebido de fiscais,
dirigentes, conselheiros e auditores por tanto tempo. Quero contritamente
acreditar no que dizem os colunistas. Que este seja mesmo o fundo do poço, o
ponto final, o fim da linha. Não há mais estômago para aguentar outra dose destas.
Mas, aqui em Pindorama, quem sabe?...
E a pergunta chave é: como conseguimos chegar até
a este ponto? Quais são os ingredientes venenosos que cozinharam este caldo
pútrido que escorre viscoso por todos os níveis de atividade, sejam eles
públicos ou privados? Que vento é este que corrói o mais puro propósito, que
afoga as consciências, que ceva a ganância e assassina o pudor?
Muitos vão dizer o que sempre ouço quando falo neste
assunto: A corrupção existe em toda a
parte, até no Vaticano. A roubalheira não é apanágio nosso... Concordo.
Parece até que a desonestidade está no DNA do poder e da proximidade com o
dinheiro. Mas, para mim, a diferença entre nós e o resto do mundo, além da escala desproporcionalmente grande da
malandragem pátria, é o caráter endêmico do
mal que nos assola.
Então, como viemos parar nesta situação? Acho que
cada um de nós deve ter sua resposta, sua explicação. A minha baseia-se em dois
fatos acontecidos comigo. Há muito, muito tempo.
Como já devo ter contado aqui neste blog, em 1957
(isto mesmo, galera, há cinquenta e
sete anos), eu fui passar uma temporada nos Estados Unidos. Aí fiquei por
deslumbrados três meses, a maior parte do tempo em Nova Iorque, que devorava
com os meus olhos de adolescente. Quando voltei, relatando as maravilhas do
mundo mágico ao Norte, expliquei que lá não havia a figura do vendedor de jornais.
Os exemplares eram colocados em pilhas nas calçadas e os compradores
simplesmente pegavam o seu e deixavam o montante correspondente numa caixa que
ficava ao lado. O impacto nos meus amigos foi enorme. Como era possível isto?
Quer dizer que ninguém deixava de pagar, ou levava dois e pagava um? Que
absurdo...
Quando voltei a morar no Brasil em 1971, depois de
passar sete anos na Itália e em Portugal, espantou-me o comportamento dos
brasileiros no trânsito. Principalmente, nas estradas onde, a cada
engarrafamento, a turma não hesitava em escapar pelo acostamento. De onde eu
viera, isto era um crime de lesa-pátria, uma esperteza unanimemente condenável. Certa ocasião, observando com
raiva surda este nefando procedimento numa estrada para Minas, verifiquei que,
à frente, a Patrulha Rodoviária estabelecera um posto de controle. Antegozando
a minha vingança, aguardei ansiosamente chegar até onde estavam os policiais e
poder assistir ao doce espetáculo de ver os transgressores impedidos de
prosseguir e punidos com a devida multa. Para minha incredulidade e profundo desencanto, vi, quando lá cheguei, que os guardas paravam os que estavam na mão
correta e abriam passagem para a alegre turma dos ispertos.
Deseducação
cívica e Impunidade.
Este coquetel letal vem, há mais de cinquenta
anos, minando o organismo da sociedade e secando suas reservas morais. Há cinco
décadas que observo este processo. Quase três gerações. Será que estamos mesmo
no fim?...
Oswaldo
Pereira
Novembro
2014
Sim.
ResponderExcluir1957! Isso é estrada. Como coincide como um dos três anos que a mesma Petrobrás lançou as debêntures para financiar o seu capital de giro (1º empréstimo compulsório), vale registrar aqui que essas debêntures inauguraram, nos idos da década de 1950, o rabilongo rosário de abusos, malfeitos e fraudes, que agora amadureceram e fazem-na cair de podre com o Lava-Jato. Ela estendeu aos EUA, sua nefasta arrogância e agora está sendo investigada pelo Departamento de Justiça, SEC e NYSE. Conseguiu que um juiz morto decidisse contra a Lei que proteje a soberania dos Estados Estrangeiros, que ela não pode ser julgada em território americano. Isso para dar cobertura a uma cláusula dessas debêntures que ainda permite o direito à conversão dessas em ações preferenciais nominativas e ela nega na chamada "mão grande".
ResponderExcluirMuito bom... A história então vem de longe...
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