quarta-feira, 22 de outubro de 2014

VOO TRANSATLÂNTICO






Não há muito para fazer num voo transatlântico. Para começar, você está firmemente preso dentro de um cilindro de aço que se desloca a 10 quilômetros de altitude numa velocidade próxima da do som, respirando um ar rarefeito e, praticamente durante boa parte da viagem, sem o beneplácito de uma panorâmica vista através daqueles exíguos buracos redondos a que chamam de janelinhas. Ou lá fora está escuro ou num perene e entediante azul. O mundo está longe, lá embaixo e também é azul.

E tem sido assim ao longo destes últimos cinquenta anos.  Basicamente, voamos o mesmo equipamento, desde que o jato comercial dominou as rotas intercontinentais em meados dos anos 1960, com o Boeing 707. Evidentemente que algumas alterações, principalmente no âmbito da segurança de voo, da manobrabilidade dos aviões, da automação dos procedimentos e da amplitude dos radares meteorológicos,  vieram facilitar o trabalho dos pilotos, mas a aeronave, mesmo sendo ela um jetliner de quase 500 lugares, continua sendo uma máquina com corpo, asas, leme, rodas e reatores de turbo propulsão. E longas horas entre o tédio e o sono.

A honrosa exceção (há sempre uma) está na comodidade das pequenas telas que adornam as costas da cadeira da frente e que oferecem ao passageiro uma razoável gama de opções que vão de vários títulos de filmes a diversos canais de música, programas pré-gravados de TV, joguinhos de exigências intelectuais várias e, ainda, uma constante informação sobre o progresso da viagem. É uma conquista de alguns anos para cá, substituindo as antigas e famigeradas telas coletivas, responsáveis por muito torcicolo e problemas de vista cansada.

Para muitos cinéfilos, é hora de por em dia seu contato com a sétima arte e assistir a uma película que lhe tenha escapado por falta de tempo. Num voo de 10 horas, dá para ver, com folga, umas três projeções. Foi o que fiz, agora, na vinda de Lisboa para o Rio.




Uma delas atendeu pelo título de Dawn of the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: O Confronto) e tem alcançado boa recepção de crítica e de público em todo o lado. Desde que estreou em abril, acumulou uma receita de US$ 700 milhões. É o segundo capítulo desta nova fase da franquia baseada num futuro apocalítico em que a Terra vê-se controlada pela supremacia dos símios, que dominam e escravizam os humanos, seguindo-se a Rise of the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: A Origem), lançado em 2011.



O primeiro filme sobre o assunto foi o clássico Planet of the Apes (Planeta dos Macacos), rodado em 1968 com Charlton Heston no papel principal. Entre 1970 e 1973, mais quatro produções sobre o tema foram feitas (uma por ano), num marcante declínio de qualidade, e aceitação pelo público, até que a coisa quase descambou para o perigoso terreno da galhofa. Uma reapresentação da história em 2001 provou ser um tremendo desperdício de dinheiro e não emplacou.






As versões atuais, que se valem da extraordinária evolução das técnicas de filmagem aliadas à computação gráfica, trazem uma roupagem mais realista ao tema e transformam a figura dos macacos-dominadores numa credível personificação de sua evolução, proporcionada, segundo o argumento base da trama, pela inoculação de um vírus criado para a cura do Alzheimer.

Jogando com elementos que fazem parte da pauta de preocupação da humanidade nos atuais dias, como o combate aos efeitos do envelhecimento, vírus mortais como o ebola, preconceito e intolerância, e seus conflitos, o filme torna-se um bom entretenimento nas longas horas voando entre um continente e outro...


Oswaldo Pereira
Outubro 2014




4 comentários:

  1. Cogito de que os trâmites em torno da questão da luta pela conquista do poder, especialmente no que se refere à política no Brasil é alguma "coisa" da ordem da macaquice. Eu não iria dar nem um minutinho da minha atenção aos símios das películas. Já bastam os que circulam entre nós com a pecha de humanos. E vc Oswaldo deve ter viajado pra votar. Não seria este o melhor dos motivos para voltar, enfim, ainda assim parece que vc tem o dom de se divertir e de nos divertir tb, seja o que for, haja o que houver e seja o que Deus quiser.

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    1. Vou mais longe. Comparar os pobres símios aos nossos "políticos" é uma grande maldade. Com os macacos, naturalmente. Acertou. Voltei para votar Apesar de não acreditar nem nos homens ( e mulheres) públicos e muito menos no sistema como um todo, vou exercer meu direito cívico. No Aécio.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Pois nem me darei ao trabalho de ir até lá. Está me parecendo insano participar daquilo em que não acredito e muito menos confio ou respeito.

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