Não há muito para fazer num voo transatlântico. Para começar,
você está firmemente preso dentro de um cilindro de aço que se desloca a 10
quilômetros de altitude numa velocidade próxima da do som, respirando um ar
rarefeito e, praticamente durante boa parte da viagem, sem o beneplácito de uma
panorâmica vista através daqueles exíguos buracos redondos a que chamam de
janelinhas. Ou lá fora está escuro ou num perene e entediante azul. O mundo
está longe, lá embaixo e também é azul.
E tem sido assim ao longo destes últimos cinquenta anos. Basicamente, voamos o mesmo equipamento,
desde que o jato comercial dominou as rotas intercontinentais em meados dos
anos 1960, com o Boeing 707. Evidentemente que algumas alterações,
principalmente no âmbito da segurança de voo, da manobrabilidade dos aviões, da
automação dos procedimentos e da amplitude dos radares meteorológicos, vieram facilitar o trabalho dos pilotos, mas
a aeronave, mesmo sendo ela um jetliner de
quase 500 lugares, continua sendo uma máquina com corpo, asas, leme, rodas e
reatores de turbo propulsão. E longas horas entre o tédio e o sono.
A honrosa exceção (há sempre uma) está na comodidade das
pequenas telas que adornam as costas da cadeira da frente e que oferecem ao passageiro
uma razoável gama de opções que vão de vários títulos de filmes a diversos
canais de música, programas pré-gravados de TV, joguinhos de exigências
intelectuais várias e, ainda, uma constante informação sobre o progresso da
viagem. É uma conquista de alguns anos para cá, substituindo as antigas e
famigeradas telas coletivas, responsáveis por muito torcicolo e problemas de
vista cansada.
Para muitos cinéfilos, é hora de por em dia seu contato com a
sétima arte e assistir a uma película que lhe tenha escapado por falta de
tempo. Num voo de 10 horas, dá para ver, com folga, umas três projeções. Foi o
que fiz, agora, na vinda de Lisboa para o Rio.
Uma delas atendeu pelo título de Dawn of the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: O Confronto) e
tem alcançado boa recepção de crítica e de público em todo o lado. Desde que
estreou em abril, acumulou uma receita de US$ 700 milhões. É o segundo capítulo
desta nova fase da franquia baseada
num futuro apocalítico em que a Terra vê-se controlada pela supremacia dos
símios, que dominam e escravizam os humanos, seguindo-se a Rise of the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: A Origem),
lançado em 2011.
O primeiro filme sobre o assunto foi o clássico Planet of the Apes (Planeta dos
Macacos), rodado em 1968 com Charlton Heston no papel principal. Entre 1970 e
1973, mais quatro produções sobre o tema foram feitas (uma por ano), num
marcante declínio de qualidade, e aceitação pelo público, até que a coisa quase
descambou para o perigoso terreno da galhofa. Uma reapresentação da história em
2001 provou ser um tremendo desperdício de dinheiro e não emplacou.
As versões atuais, que se valem da extraordinária evolução das
técnicas de filmagem aliadas à computação gráfica, trazem uma roupagem mais
realista ao tema e transformam a figura dos macacos-dominadores numa credível
personificação de sua evolução, proporcionada, segundo o argumento base da
trama, pela inoculação de um vírus criado para a cura do Alzheimer.
Jogando com elementos que fazem parte da pauta de preocupação
da humanidade nos atuais dias, como o combate aos efeitos do envelhecimento, vírus
mortais como o ebola, preconceito e intolerância, e seus conflitos, o filme
torna-se um bom entretenimento nas longas horas voando entre um continente e
outro...
Oswaldo
Pereira
Outubro
2014
Cogito de que os trâmites em torno da questão da luta pela conquista do poder, especialmente no que se refere à política no Brasil é alguma "coisa" da ordem da macaquice. Eu não iria dar nem um minutinho da minha atenção aos símios das películas. Já bastam os que circulam entre nós com a pecha de humanos. E vc Oswaldo deve ter viajado pra votar. Não seria este o melhor dos motivos para voltar, enfim, ainda assim parece que vc tem o dom de se divertir e de nos divertir tb, seja o que for, haja o que houver e seja o que Deus quiser.
ResponderExcluirVou mais longe. Comparar os pobres símios aos nossos "políticos" é uma grande maldade. Com os macacos, naturalmente. Acertou. Voltei para votar Apesar de não acreditar nem nos homens ( e mulheres) públicos e muito menos no sistema como um todo, vou exercer meu direito cívico. No Aécio.
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ExcluirPois nem me darei ao trabalho de ir até lá. Está me parecendo insano participar daquilo em que não acredito e muito menos confio ou respeito.
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