Andar por Portugal é sempre um passado-presente. Do futuro,
estão eles cuidando, os jovens e o destino. O presente está nas estradas novas,
no vestir fashion da nova geração,
nos últimos modelos de Audis e BMWs, nos onipresentes i-pads.
O passado está na História, com agá maiúsculo, escrupulosamente guardada em castelos, mosteiros,
cidades muradas, moinhos medievais, pontes romanas, árvores milenares.
Por exemplo.
UMA OLIVEIRA DE 2.300 ANOS |
Na porta da sede da indústria vinícola Bacalhôa,
numa localidade que atende pelo charmoso nome de Vila Nogueira de Azeitão, está
viva e imponente uma oliveira. Idade?
2.300 anos. Quer dizer, trezentos anos antes do início da era cristã, desta
árvore brotaram azeitonas que provavelmente foram colhidas por algum faminto
guerreiro celta, séculos antes de os romanos por lá chegarem. A dois
quilômetros, está o palácio que, em finais do século XV, foi construído, a
partir de um pavilhão de caça real, por Dona Brites. E quem era Dona Brites?
Nada mais, nada menos que a mãe de D. Manuel I, o Venturoso, aquele que enviou
as naus de Cabral para o Novo Mundo. Em 1528, foi regalado como régio presente
a D. Brás de Albuquerque, filho do Vice-Rei da Índia. O presenteado era um
autêntico playboy quinhentista, herdeiro de uma incalculável fortuna.
Sua grande contribuição foi o belo recanto que mandou construir à frente de um
espelho d’água e que, na crônica da corte, era apelidado de “casa do prazer”.
Imaginem o porquê...
PALÁCIO DA BACALHÔA |
CONVENTO DO ESPINHEIRO |
A primeira aparição da Virgem Maria em Portugal não foi em
Fátima. Foi em 1400, num espinheiro próximo
da cidade de Évora. Em 1412, um oratório foi levantado no local tornando-se, a
partir daí, um centro de peregrinação tão importante que, quarenta anos depois,
o Rei Afonso V mandou erigir uma igreja e um convento, administrados pelos
monges da Ordem de São Jeronimo. Mas, nem mesmo estas paredes tão impregnadas
de santidade foram capazes de impedir um notório caso de sexo pré-marital. Em
novembro de 1490, um outro Afonso, filho de D. João II e herdeiro do trono
português, não resistiu aos encantos da princesa espanhola Isabel, sua
prometida e, antes das bodas reais, “visitou” sua alcova no convento. Conta a
lenda que os céus, indignados com a profanação, atingiram com um raio uma parte
da Igreja, causando severos danos. O hotel de 5 estrelas em que hoje se
transformou o magnífico conjunto tem o condão de transportar o hóspede para a
Idade Média e para o encanto de suas lendas, ao mesmo tempo em que o permite fruir
dos confortos do século XXI e de um delicioso breakfast.
HOTEL CONVENTO DE SÃO PAULO |
E é continuar a andar em terras alentejanas mais um pouquinho
em direção ao norte e chegamos à Serra d’Ossa, onde outro bocado do passado
nos espera. É o Convento de São Paulo, construído em 1182 pelos monges da Ordem
de São Paulo Eremita como um lugar de oração e recolhimento. Reis e rainhas
passaram por ali, em busca talvez de inspiração divina ou de uma simples graça,
que tornasse seu fardo de governante mais suave ou mais justo. Hoje passam os
afortunados que escolhem o convento como pousada de descanso e contemplação, em
meio ao silêncio das horas canônicas e a um dos mais notáveis acervos de
azulejaria no mundo. São 54.000 azulejos, que adornam as paredes dos corredores,
das escadarias e das capelas, livros abertos de cenas religiosas e mitológicas.
AZULEJARIA DO CONVENTO DE SÃO PAULO |
É o passado trazido para o presente, para ser reverenciado,
celebrado e conservado para o futuro.
Oswaldo Pereira
Outubro 2014
Obrigada Oswaldo e... Feliz Aniversario !
ResponderExcluirObrigado eu, pelos votos e pela atenção.
ExcluirEu não lhe dizia que o Convento de São Paulo era algo que não poderia deixar de visitar e quanto a mim, por lá ficar. Passaram por lá reis e um deles o D. Sebastião,antes de ir para Alcácer Quibir.
ResponderExcluirTODO ELE É ESTRONDOSO MAS A AZULEJARIA É MONUMENTAL.
Um abração da Paula Calisto e do Alberto
Graças à gentil indicação de vocês pudemos conhecer esta maravilha. O lugar é realmente belíssimo e inspirador. Obrigadíssimo.
ExcluirQuerido Primo,
ResponderExcluirEstivemos na Quinta da Bacalhoa. Realmente um local lindo, no seus jardins senti o Eça ao meu lado e, depois, na adega alí ao lado, tomei um porre civizado (se isso existe) e declamei Pessoa, afinal: "para ser grande, sê inteiro".
Liguei para o Rio ontem e, se você estivesse por lá, a título de cumprimento, teria dito:
Ah, embaixador desaminado!
Vá dizer para vosso monarca
Que em França estou, que em França cheguei!
Trago declarações de guerra para tú e vós!"
E, Querido Primo, com essas palavras, paro por aqui, a fim de continuar bebendo a sua saúde.
Ralamatiquem
Geraldo
Que os deuses do Reisado nos acompanhem... em ambos os lados deste Atlântico das naus...Grande abraço
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