Quem olha
para o mapa do resultado das eleições tem esta impressão. Parece quase como se
uma fronteira dividisse o país ao meio. Um Brasil Sul e um Brasil Norte. Se
ampliarmos o foco em Minas Gerais, veremos que o estado também se dividiu no
meio, também entre sul e norte, fechando uma linha divisória que vai do Acre ao Espírito Santo. Há muitas explicações, como a ideia do Brasil
afortunado e o Brasil carente, o Brasil industrial e o Brasil clientelista, o
Brasil pagador e o Brasil subsidiado. Do
Brasil que gera a riqueza e o Brasil que a consome.
Parece, mas
não é assim tão simples. A divisão não foi horizontal, como as cores do mapa
nos mostram. Mesmo nos estado vermelhos
muita gente votou no Aécio Neves, e nos azuis
na Dilma. A divisão é, portanto, mais vertical
do que horizontal, mais permeável no estrato da sociedade do que originada
em currais políticos.
Outro dado,
que não aparece no cômputo dos votos válidos, é o percentual de eleitores que
se abstiveram, anularam o voto ou votaram em branco: 25%. São mais de 30
milhões de pessoas que, aparentemente, desaprovam tudo o que está aí e não
acreditaram nas promessas de campanha da oposição, ou se desencantaram com o
processo político.
Para os que não conhecem a legislação eleitoral brasileira, explico que o voto é obrigatório. A abstenção vai exigir a apresentação de uma justificativa às autoridades eleitorais e, eventualmente, o pagamento de uma multa, sob pena de o eleitor faltoso se ver privado de poder requerer passaporte, obter financiamento de bancos públicos, ingressar em estabelecimentos de ensino estatais, entre outras coisas. Abster-se de votar, portanto, não é uma simples distração. É um ato volitivo, de consciência.
Tudo isto é
um importante indicador. Se somarmos as abstenções aos votos em Aécio, veremos que quase dois em cada três brasileiros está
descontente, ou desiludido. Não gosta do que ouve ou vê, não confia naqueles
que continuarão a comandar por mais quatro anos, quer reformas, quer respeito,
quer justiça.
Espero que
os eleitos percebam esta mensagem das urnas. Para mim, a voz que delas veio deu
um claro recado. Existe sim, uma oposição. Ela agora tem um nome, uma coligação
partidária e 50 milhões de votos. E estará atenta.
Oswaldo Pereira
Outubro 2014