Pausa. Vinte e quatro horas sem a esfuziante
adrenalina da bola rolando. Acabou a primeira parte do grande espetáculo, o
drama global que nós, terráqueos, resolvemos chamar a celebração quadrienal do
futebol, este esporte que, há alguns anos, o National Geographic Magazine considerou o segundo maior motivador
da honra nacional. O primeiro, a Guerra. Um alienígena que porventura aportasse
seu disco-voador por estas plagas poderia até convencer-se que, por uma suave
ordem planetária, as diferenças eram resolvidas por uma esfera de couro pintado.
Se fosse uma refeição sofisticada, é a hora do trou normand, o “buraco normando”,
geralmente representado por um sorbet de
limão com vodca, que a culinária francesa resolveu apelidar a pausa entre os
acepipes de entrada e o prato principal. Um momento entre a sofreguidão do
início e a solenidade grave dos sabores profundos.
Para mim, terminou a melhor fase da Copa. A fase da
festa, até da inconsequência, onde uma derrota não significa necessariamente a
despedida, em que alguns pecados até podem ser perdoados. Foi a hora em que as
trinta e duas seleções ainda nutriram esperanças ligeiras, trinta e duas nacionalidades
de torcedores coloriram as margens dos estádios, e os bares das cidades-sede. E
foi aí, neste carnaval multicor que o Brasil, e o futebol, se superaram. O país, pelo acolhimento generoso que comoveu
todas as delegações estrangeiras, pelo fervor na hora do Hino capado
deselegantemente pela FIFA, pela superação dos problemas deixados por uma
administração incompetente. Pelo amor de todos os seus deuses, caros leitores,
não creditem nas urnas o sucesso (até agora) desta Copa ao Governo, seja ele
qual for, Federal, Estadual ou Municipal. Quem garantiu o placar foi o povo brasileiro.
Quanto ao esporte, já há motivos de regozijo. Com
raríssimas exceções, foram 48 jogos em que a magia do futebol mostrou-se sem
reservas. A média de gols, 2,83, já é
uma das maiores. Surpresas abundaram, derrubando opiniões de experts e bolsas de apostas pelo mundo
afora, como a eliminação prematura da Espanha, da Itália, da Inglaterra, do
Portugal de Cristiano Ronaldo. Numa chave que reunia sete títulos mundiais, a
Costa Rica (!?) classificou-se em primeiro lugar. Várias coisas entrarão para a
história, até a maior punição imposta a um jogador, Luiz Suárez do Uruguai (cá entre nós, um prato cheio para um
analista...)
Agora, algumas arenas
ficarão vazias. As suas cidades, esvaziadas das hordas coloridas. Terão de
enfrentar o seu destino e procurar defender os estádios milionários da mordida
do abandono. E uma nova fase começa. É hora dos gladiadores, do ave Caesar, morituri te salutant, do
mata-mata. Não há mais lugar para deslizes, passes mal dados, chutes a esmo.
Mais 15 dias e o drama baixará as cortinas. E aí,
para nós brasileiros, começará outro desafio.
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Oswaldo
Pereira
Junho
2014
Gostei muito da tua crónica!
ResponderExcluirObrigado, prima. Esperemos que esta catarse futebolística sirva para alguma coisa...
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