“Our landings in the Cherbourg-Havre area have failed
to gain a satisfactory foothold and I have withdrawn the troops. My decision to
attack at this time and place was based on the best information available. The
troops, the air and the Navy did all that bravery and devotion to duty could
do. If any blame or fault attaches to the attempt it is mine alone”.
(Nossos desembarques na área de Cherbourg-Havre não
conseguiram estabelecer um ponto de apoio e eu retirei as tropas. Minha decisão
de atacar neste momento e nesse lugar foi baseada nas melhores informações
disponíveis. As tropas de terra, de ar e a Marinha fizeram tudo o que a bravura
e a devoção ao dever podem fazer. Se alguma culpa ou falha pode ser atribuída à
tentativa é minha somente).
Estas palavras foram escritas pelo general americano
Dwight D. Eisenhower, comandante supremo das forças aliadas, no dia cinco de
junho de 1944. Eram a base de um pronunciamento que faria ao mundo se a
operação de desembarque em solo francês não sucedesse. A partida já havia sido
adiada para o dia seguinte devido ao mau tempo e apenas uma janela de algumas
horas de bonança no dia 6 prometia a possibilidade de um ataque em condições
mínimas. Era a última chance. Se não ocorresse ali, as circunstâncias ideais,
que conjugavam fase da lua, tabela de marés e bom tempo, só se repetiriam em
julho, mais de um mês depois. Um adiamento impossível, haja vista os problemas
de sigilo militar que cercavam a operação e a própria manutenção de quase três
milhões de soldados em solo inglês.
Este foi um dos muitos
imponderáveis que marcaram o Dia-D, por todos os motivos o dia mais decisivo da
História Moderna. Uma desistência ou um malogro, que determinaria meses até que
outra tentativa pudesse ser organizada, significaria dar à Alemanha nazista o
que ela mais precisava no momento – tempo. Estudiosos de guerra são unânimes em
afirmar que, sem uma segunda frente no oeste, Hitler teria retardado o avanço
soviético no leste, aperfeiçoado seu arsenal de bombas-voadoras, iniciado a
produção de aviões a jato (já em etapa experimental) e, até, construído seus
primeiros artefatos nucleares. Qualquer dúvida quanto à capacidade germânica de
produção é respondida pelo extraordinário poderio demonstrado pela Wehrmacht em
dezembro daquele mesmo ano, quando, já debilitada pelos impiedosos bombardeios
e pelo avanço simultâneo dos exércitos russos e aliados, ainda conseguiu montar
a ofensiva do Bulge. É assim quase
certo que, com a Alemanha de posse desses novos armamentos e livre de inimigos
no solo ocidental do continente europeu, a maré da Segunda Grande Guerra
poderia ter mudado. E o mundo não seria nada do que é hoje.
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LANCHAS DE DESEMBARQUE |
Overlord,
a
operação que viria a mudar o curso da História, começou a ser planejada no
primeiro semestre de 1943. Desde o ano anterior, Josef Stalin atormentava
Churchill e Roosevelt, exigindo o estabelecimento de uma segunda frente, com o
objetivo de aliviar a pressão dos alemães sobre os russos, que morriam aos
milhões. Enquanto o Presidente americano apoiava um ataque frontal através do
Canal da Mancha, caminho mais curto para atingir o coração da Alemanha, o premier inglês, testemunha dos massacres
sofridos pelos britânicos em batalhas semelhantes no Somme e em Passchendaele, durante
o conflito de 1914-1918, defendia um avanço através da Itália, a partir do
norte da África, já controlado pelos aliados. The soft underbelly of the crocodile (a barriga tenra do
crocodilo), era como Churchill chamava a região do Mediterrâneo, uma via mais
suave para atingir a Áustria e o sul alemão. Os americanos, que supririam a
maior parte das tropas e dos equipamentos, venceram a discussão. A campanha
italiana, já em curso, teria papel secundário.
Assim, em maio de 1943, o general inglês Frederick
Morgan foi encarregado de montar Overlord.
No caminho crítico de seu planejamento, ele trabalhava com vários
limitadores. O primeiro era o alcance do indispensável suporte aéreo, que
restringia a área de atuação a quatro objetivos: o Passo de Calais, a Península
de Contentin, a Britânia e a Normandia (como Contentin e a Britânia eram, na
verdade, istmos, permitindo um contra-ataque alemão fechando a passagem e
dividindo as tropas invasoras, as duas opções foram logo abandonadas). O
segundo era o número de lanchas de desembarque. O número adequado do efetivo
militar para um assalto daquela magnitude, inicialmente prevendo cinco divisões,
foi aumentado para sete, quando o plano foi apresentado a Eisenhower na reunião
de Quebec, em dezembro daquele ano. Isto determinava a necessidade estimada de
aproximadamente 9.000 lanchas, quantidade inexistente na época. Outro fator era
a restrição do comando aliado ao ataque direto a um porto. Embora fosse imprescindível a existência de um para o sucesso de Overlord, o desastre de Dieppe,
ocorrido um ano antes, em que os canadenses haviam sido dizimados num
assalto frontal ao bem guarnecido porto francês, excluíam a possibilidade.
Eventualmente, o pessoal da engenharia criou uma maravilha da tecnologia
moderna: as docas flutuantes Mulberry, impressionantes estruturas que seriam
rebocadas desde a Inglaterra e ancoradas perto das praias. Por último, mas
certamente não menos importante, estava o inimigo.
ROMMEL INSPECIONANDO A MURALHA DO ATLÂNTICO |
Desde o momento em que invadiu a União Soviética, em
junho de 1941, e, principalmente, após a entrada dos Estados Unidos na guerra,
Hitler começou a se preocupar com uma possível tentativa de desembarque aliado
a oeste. Isto faria ressurgir o fantasma de um conflito em duas frentes, que
havia exaurido a Alemanha na Primeira Grande Guerra. Então, já em 1942, ordenou
a construção de fortificações ao longo de toda a costa ocidental europeia,
desde o norte da Noruega até a fronteira da Espanha, um verdadeiro muro ao
longo do Atlântico, que se eternizaria com o nome de Fortaleza Europa. Evidentemente,
mesmo com o uso extensivo de trabalho escravo, seria impossível aparelhar todos
os mais de 7.000 km de costa com o mesmo padrão de bunkers, baterias, arame farpado e minas e, já no início de 1944, muita coisa
ainda estava incompleta, como verificou seu comandante, o experiente marechal
de campo Erwin Rommel. A solução foi concentrar
o aparelhamento das defesas nos sítios onde mais provavelmente o inimigo
atacaria – a costa francesa em frente à Inglaterra. Desde a colocação de
centenas de milhares de armadilhas de aço, que perfurariam o casco das
embarcações invasoras, ao reforço dos castelos de concreto onde se alojavam os
ninhos de metralhadoras e as bases dos morteiros, até ao plantio de seis
milhões de minas terrestres, tudo foi feito com precisão. Adicionalmente, como
se desconhecia o lugar exato do provável desembarque, três divisões Panzer ficariam em reserva, prontas a
serem deslocadas para onde ocorresse a ação.
Assim, no início de junho de 1944, enquanto os
preparativos finais da maior operação militar já desencadeada chegavam a seu
final em solo inglês, do outro lado do canal uma calma pressaga flutuava pelas
escarpas enevoadas da Normandia.
Oswaldo
Pereira
Junho
2014
E eu estou aqui no Porto do Havre e hoje mesmo vi um dos "bunkers" feitos pelos "bosch", crivados de buracos pelas balas alemãs ... e essa semana mesmo vai ter a "desminificação" na região.
ResponderExcluirMuito emocionante a comemoração dos 70 anos do "débarquement" com a presença dos veteranos.