Curtir, cutucar ou compartilhar?
Estas parecem ser, nestes dias de hoje, as grandes decisões.
Estamos na era da
literatura em pílulas. É o texto instantâneo, encimado por uma imagem de
impacto, enviado num átimo de segundo para todos os amigos e conhecidos. E,
quem sabe, até além disso, caindo numa galáxia universal de fragmentos de
informação, entrando numa gigantesca nuvem que paira inerte sobre um mundo virtual
.
Estamos no reinado da
mensagem descartável, cuja missão é ser apenas um recado ligeiro, que ocupe do
leitor um momento fugaz, o prazer precoce de desfrutar com pressa uma notícia
caseira, familiar ou mesmo planetária, sem bulir muito com os seus neurônios
nem sobrecarregar sua agenda.
O que se escreve hoje,
nestas cápsulas de palavras, é para ser lido em nichos de tempo que se abrem e
fecham entre uma tarefa profissional e um exercício na academia, entre uma dose
de whisky e um beijo, entre o chegar a casa, ligar a TV ou o laptop e cair na
cama. É para ser visto em telas de smart
phones, logo movimentadas pelo dedo frenético, que já relegou o mouse a um rodapé da História, para dar
lugar à notícia seguinte.
Nem é necessário
responder, embora as respostas também sejam escritas em nanossegundos. Basta
apontar a seta para as opções que gentilmente acompanham cada posting e pronto! Sua obrigação social
foi cumprida com eficiência.
Foram-se as cartas.
Cartas? Devo estar tendo sonhos antediluvianos... Foi-se o e-mail, hoje usado somente por dinossauros em extinção. Tudo bem. É
a glória do progresso, o gozo do conforto, a submissão do tempo num mundo que
gira cada vez mais rápido. É o prazer de estar sempre em contato, ao alcance da
sua tribo, alardear que você ainda está vivo. E atento...
Mas, como fica a palavra
escrita? Inexorável como as paredes de um torno invencível, a adesão às redes
sociais vem encurtando o espaço antes habitado pelos longos artigos, os
extensos attachments, os editoriais
detalhados, o relato preguiçoso de uma viagem, a defesa qualificada de uma
ideia. Uma frase, uma foto – é o quanto basta.
Acima citei os
dinossauros. Foi sua incapacidade de adaptação que os aniquilou. Eu deveria,
então, para manter-me legível, especializar-me
em twiterês, facebookês e outros
estilos neo-literários. Cento e quarenta caracteres, não mais.
Desculpem, mas não dá... Seria
uma traição aos livros que li, à língua que me ensinou a falar, ao destino que
me tornou em vício o ato de escrever. Não quero entregar os pontos sem luta.
Vou continuar montando frases, estendendo ideias no tapete liso das folhas em
branco, sem peias nem amarras, sem limites digitais e sem usar a linguagem
telegráfica e gutural dos vcs, tbs, mts e
outros criptogramas modernos... E, ainda assim, ser capaz de captar a atenção
generosa do leitor.
Espero conseguir. Se você achar
que eu cheguei lá, não se esqueça de me cutucar...
Oswaldo Pereira
Novembro 2013
Estou-te cutucando!!!
ResponderExcluirSinto-me devidamente cutucado... Obrigado, Fernanda
ResponderExcluirOi Osvaldo
ResponderExcluirSão pessoas como você que mantêm nossa 'flor do lacio' viva e bela.
Siga em frente.
Zé Correa