sábado, 9 de novembro de 2013

NEO-LITERATURA




Curtir, cutucar ou compartilhar? Estas parecem ser, nestes dias de hoje, as grandes decisões.
Estamos na era da literatura em pílulas. É o texto instantâneo, encimado por uma imagem de impacto, enviado num átimo de segundo para todos os amigos e conhecidos. E, quem sabe, até além disso, caindo numa galáxia universal de fragmentos de informação, entrando numa gigantesca nuvem que paira inerte sobre um mundo virtual .
Estamos no reinado da mensagem descartável, cuja missão é ser apenas um recado ligeiro, que ocupe do leitor um momento fugaz, o prazer precoce de desfrutar com pressa uma notícia caseira, familiar ou mesmo planetária, sem bulir muito com os seus neurônios nem sobrecarregar sua agenda.
O que se escreve hoje, nestas cápsulas de palavras, é para ser lido em nichos de tempo que se abrem e fecham entre uma tarefa profissional e um exercício na academia, entre uma dose de whisky e um beijo, entre o chegar a casa, ligar a TV ou o laptop e cair na cama. É para ser visto em telas de smart phones, logo movimentadas pelo dedo frenético, que já relegou o mouse a um rodapé da História, para dar lugar à notícia seguinte.
Nem é necessário responder, embora as respostas também sejam escritas em nanossegundos. Basta apontar a seta para as opções que gentilmente acompanham cada posting e pronto! Sua obrigação social foi cumprida com eficiência.
Foram-se as cartas. Cartas? Devo estar tendo sonhos antediluvianos... Foi-se o e-mail, hoje usado somente por dinossauros em extinção. Tudo bem. É a glória do progresso, o gozo do conforto, a submissão do tempo num mundo que gira cada vez mais rápido. É o prazer de estar sempre em contato, ao alcance da sua tribo, alardear que você ainda está vivo. E atento...
Mas, como fica a palavra escrita? Inexorável como as paredes de um torno invencível, a adesão às redes sociais vem encurtando o espaço antes habitado pelos longos artigos, os extensos attachments, os editoriais detalhados, o relato preguiçoso de uma viagem, a defesa qualificada de uma ideia. Uma frase, uma foto – é o quanto basta.
Acima citei os dinossauros. Foi sua incapacidade de adaptação que os aniquilou. Eu deveria, então, para manter-me legível, especializar-me em twiterês, facebookês e outros estilos neo-literários. Cento e quarenta caracteres, não mais.
Desculpem, mas não dá... Seria uma traição aos livros que li, à língua que me ensinou a falar, ao destino que me tornou em vício o ato de escrever. Não quero entregar os pontos sem luta. Vou continuar montando frases, estendendo ideias no tapete liso das folhas em branco, sem peias nem amarras, sem limites digitais e sem usar a linguagem telegráfica e gutural dos vcs, tbs, mts e outros criptogramas modernos...  E, ainda assim, ser capaz de captar a atenção generosa do leitor.
Espero conseguir. Se você achar que eu cheguei lá, não se esqueça de me cutucar...

Oswaldo Pereira

Novembro 2013

3 comentários:

  1. Sinto-me devidamente cutucado... Obrigado, Fernanda

    ResponderExcluir
  2. Oi Osvaldo
    São pessoas como você que mantêm nossa 'flor do lacio' viva e bela.
    Siga em frente.
    Zé Correa

    ResponderExcluir