O tempo. Melhor em maiúsculas: O TEMPO.
Tente tê-lo.
Colocá-lo em
perspetiva, retalhá-lo em momentos, reparti-lo em tranches. Tente guardá-lo em
gavetas, arquivá-lo em pastas, virtuais ou não. Tente enfiá-lo em envelopes,
colocá-lo debaixo de pisa papéis, prendê-lo em gaiolas, amarrá-lo na memória.
Tente anotá-lo em
agendas, colá-lo em álbuns, gravá-lo em CD’s. Tente prendê-lo com as mãos,
segurá-lo com a alma, aprisioná-lo com o pensamento.
Tente de tudo para
não deixá-lo fugir. Ele não volta para traz, não faz concessões. Com ele, não
há replays, melhores momentos. Os valeapenaverdenovos são apenas
fragmentos guardados no cérebro por neurônios que, aos poucos e inexoravelmente, se apagarão.
O Tempo. Uma sucessão de amanhãs que, como rabisco de um relâmpago, cortam
o céu do hoje e se tornam num ontem inerte, já gasto e imutável. Na grande maioria
das vezes, sem você sequer ver o clarão do raio, ouvir seu estrondo abafado,
entender sua mensagem. Um grande estoque de horas que já se foram, sem
remissão. Não se regrava o passado.
O Tempo. Um cronômetro que recebemos ao nascer e, por anos a fio, nem
sabemos o que fazer com ele. Um trem veloz que tomamos na maternidade em
direção ao futuro e em que passamos a maior parte da viagem simplesmente a
olhar pela janela, a ver as estações que passam, a cumprimentar e a se despedir
de gente que entra e que desce.
É o mais imaterial dos bens, o mais perecível, o de obsolescência
mais imediata. E, no entanto, o mais precioso. Aquele que não se vende, que não
se pode comprar, de que não há barganhas, future
tradings, balcão de ofertas.
Com ele não se indulge, não se obtempera, não se tergiversa. Vai seguir seu
caminho sem volta, sem ouvir nossas promessas, nossas resoluções de ano novo,
nossas súplicas, nossas orações. Vai seguir, senhor de si mesmo, sem olhar
sobre os ombros, indiferente ao nosso pecado ou ao nosso valor.
Só há um jeito, uma maneira. Para não deixá-lo escapar.
Ande com ele. Reprima o cansaço, vença a sonolência, livre-se do torpor.
Prepare as pernas, ele caminha rápido, é incansável e obstinado. Nem sempre a
estrada vai ter pavimento, há rios para cruzar, florestas para vencer. Mas, não
perca o ritmo. Não o deixe afastar-se, sumir na bruma, perder contato e fazer
aquilo que o Tempo mais gosta.
Fugir.
Oswaldo Pereira
Novembro 2013
http://www.youtube.com/watch?v=FflcA85zcOM
ResponderExcluirAbraço
Vasco
Valeu ter tempo para ler este conto. Muito bom.
ResponderExcluirMuito difícil falar sobre o tempo e você o colocou em seu lugar andando com ele ao mesmo tempo.
ResponderExcluirE, contradiz que "o tempo é um lugar que não existe" .
Muito bom, Oswaldo.
Abraço, Cleusa.
Obrigado, Cleusa.
ExcluirPois é, é preciso correr junto com o tempo, senão ele nos deixa para trás.