quinta-feira, 14 de março de 2013

ENCRUZILHADAS






Today is the Tomorrow you worried about Yesterday
(Hoje é o Amanhã que o preocupava Ontem)
Dale Carnegie

Ando no túnel do tempo. Avançando, avançando sempre. Não há retornos, não há resets...
Mas, eu queria voltar. Não para fazer ou desfazer. Só para olhar. Queria ver-me de novo, subindo alguns degraus, tropeçando em outros, enfrentando encruzilhadas, identificando os vetores que definiram o meu futuro, que agora é o meu passado...
Alguns foram tão sutis, tão aparentemente insignificantes que, na hora, nem percebi o mistério que carregavam. Foram esquinas que dobrei sem hesitação, com o coração leve e desatento, o olhar de repente hipnotizado por uma quimera, uma miragem distraída.

Assim somos nós. Em qualquer momento da vida, somos o produto final das nossas opções precedentes, nosso destino o resultado de uma sucessão de caminhos escolhidos às vezes ao acaso. E há escolhas que determinam amor ou desespero, fortuna ou desgraça, paz ou desassossego, vida ou morte.
Como não fomos aquinhoados com a faculdade de pressentir o porvir, perdoem-me os videntes, é uma maravilhosa ousadia, tão intrínseca ao ser humano, o ato de decidir, a cada segundo, se vamos pela esquerda, pela direita ou seguimos em frente. Evidentemente, em alguns momentos, valemo-nos de experiências vividas, informações armazenadas, cálculos educados de probabilidades para darmos o inevitável passo. Em outros, na inexistência daqueles arrimos e sem o benefício de um conselho confiável, acabamos por seguir o que carinhosamente chamamos de instinto ou, em outras palavras, a cara e a coragem. No fundo, temos a incômoda certeza que ambos os procedimentos nada nos garantem.

Será isto justo? É esta a proposta? Irmos pela vida às cegas, apostando contra um invisível croupier na roleta de um cassino aleatório? Termos sempre pela frente um imenso ponto de interrogação chamado Amanhã?  
Há os fatalistas, aqueles que convivem confortavelmente com a situação. Há, no ponto oposto do espectro, os que não a aceitam e tentam driblá-la, acreditando que podem redesenhar os desígnios e o mapa de suas estradas.

E há a imensa legião dos que se assustam de vez em quando, toda vez que a vida lhes prega uma peça ou lhes prepara uma surpresa, cujo sabor amargo ou doce nada teve a ver com os seus hábitos ou suas escolhas.

Virar uma esquina a cada momento. Não podemos fugir a isto. Só de uma coisa detemos o livre arbítrio. Se vamos ter medo ou esperança, recear o perigo ou achar que o melhor ainda está para começar. Se isto faz a diferença, não sei. Mas acho fascinante o ditado francês que avisa: après-demain, demain sera hier... (depois de amanhã, amanhã será ontem...) 
Oswaldo Pereira
Março 2013 

6 comentários:

  1. Perguntas para as quais a resposta é o Silencio. E o Silencio é pleno e povoado.

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  2. Muito bom, Oswaldo. Tão verdadeiro...
    Parabéns!
    Ana Flores

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  3. Muito bom.... O que me intriga também é a mudança que damos ao nosso destino nas pequenas decisões ou indecisões por que passamos. O ontem de depois de amanhã pode depender, por exemplo, do esquecimento de um objeto e a volta para pegá-lo.... e ahhhh como isso acontece comigo..... cabeça de jiló....

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  4. Excelente analise retrospecto

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  5. Creio que àqueles que se assustam com as surpresas e peças que o destino sempre nos prega jamais ocorre pensar que Deus escreve certo em linhas tortas. Na maioria das vezes, logo mais à frente a gente passa a entender e até agradecer por termos mudado de rota forçosamente, sem que houvéssemos planejado.
    Parabéns pelo texto. Gostei muito!

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