segunda-feira, 18 de março de 2013

CIDADES QUE DÃO MÚSICA I




SAN FRANCISCO


"If you're going to San Francisco
Be sure to wear some flowers in your hair…"
San Francisco. John Phillips, 1967

Se você vai para San Francisco, não deixe de usar flores em seus cabelos…"

HAIGHT-ASHBURY  

Eles ainda lá estão. Mais velhos, claro. Os cabelos estão brancos, mas ainda cheios de flores, as mulheres vestindo largas batas de seda pintada com rosas psicodélicas, os homens com suas jeans surradas e velhos casacos de couro. Eles ficaram. São os eternos hippies, sobreviventes do fantástico Verão de 1967, o inesquecível Summer of Love, quando centenas de jovens cantando slogans pela paz, "viajando" nos mais diversos alucinógenos disponíveis e pregando a nova Era de Aquarius invadiram esta parte da cidade. Nem desconfiavam que a sua mensagem iria ganhar um país, um mundo, marcar um época, inspirar uma geração. Hoje talvez nem fumem, à exceção de um ou outro baseado, cujo perfume acri-doce a gente sutilmente percebe quando entra em suas charmosas lojinhas. Para os maiores de 60 anos, é uma volta mágica ao passado. Posters, buttons, velhas fotos, Jimmy Hendriks, Janes Joplin, roupas da época, cordões e colares, "make love not war"… Se você ainda se emociona ouvindo "California Dreamin'", não deixe de visitar.

"I'm sitting on the Dock of the Bay
Watching the tide roll away…"
(Sitting on) The Dock of the Bay. Otis Redding & Steve Cropper, 1968

 “Estou sentado na doca da Baía, vendo a maré baixar ”…

 FISHERMAN'S WHARF/PIER 39 

Os leões marinhos saúdam o sol, enquanto ele pacientemente se prepara para mergulhar. Faz isso todos os dias, há zilhões de anos. O pier está cheio de fotógrafos amadores, namorados nem tanto, turistas descabelados pelo vento.  Outros mais devem estar andando pelo passeio do Embarcadero, comendo o obrigatório clam chowder in the sourbread bowl, (literalmente traduzido como creme de ameijoas dentro de um pão de massa azeda. Bem melhor do que possa soar na tradução, é o prato sãofranciscano por excelência. Jamais diga a um nativo daqui que você não gostou. Dá briga). Esteja também preparado para encontrar os tipos mais inesperados, estátuas vivas, camelôs falantes e bandas extraordinárias. Ande, olhe, escute.E se tiver tempo, olhe para o meio da baía. Entre a cidade e a outra margem, como diria Drummond "há uma pedra no meio do caminho". Uma pedra que é uma ilha, ou uma ilha que é uma pedra. Chama-se Alcatraz. Se já ouviu falar, o nome certamente lhe trará arrepios. Pois lá foi instalada, em 1934, a primeira prisão de segurança máxima dos Estados Unidos. Tipos simpáticos como Al Capone e "Machine Gun" Kelly foram alguns de seus "hóspedes". Até sua desativação, em 1963, e sua transformação numa atração turística, não há registro oficial de alguma fuga bem sucedida. Entende-se. Além de ser quase impossível burlar a vigilância e pular n'água, a ilha era cercada por atentos e famintos tubarões.

"I guess you could say that it was fate
How else could I have met my love on the Golden Gate…"

Got The Date On The Golden Gate. Mel Torme, 1949

"Eu acho que se pode chamar de destino. De outro modo, como poderia eu ter encontrado meu amor na Golden Gate…"

 

PONTE GOLDEN GATE

Ela deve ser o sinônimo visual da cidade. Quando se pensa São Francisco, se pensa na ponte, pintada de vermelho, sublime e olímpica sobre a entrada da baía, primeira a receber o fog que vem do mar e a dar as boas vindas aos navios que chegam, e última despedir-se deles quando se vão e dos suicidas que dela se jogam. Em todo o mundo, é a campeã na preferência deles. Foi terminada em 1937, custando US$1,3 milhões menos do que os projetados US$35 milhões. Coisa de gente honesta e competente. São 1970 metros de comprimento, que você pode atravessar a pé, de bicicleta, moto, automóvel, como quiser. Vale a pena. Do outro lado lhe espera uma fantástica vista da cidade e uma graciosa vila chamada Sausalito. A extensão verde desta área turística é a colina do Presidio, que foi dos índios, dos espanhóis, dos mexicanos e, a partir de 1846, do Exército americano. Árvores, silȇncio, sombras, belvederes, passado e história. Tudo junto. Numa das pontas do imenso parque, está um inesperado templo greco-romano no melhor estilo dos filmes épicos, chamado Palace of Fine Arts (Palácio das Belas Artes). Passeie por aí, deite na grama como os da terra, fotografe e fotografe-se. Quer mais uma área verde? Ande até o Golden Gate Park. Leva o nome da espetacular ponte e é tão fantástico quanto ela. Se você tiver fôlego e o dia estiver claro, siga para oeste. Quando o parque terminar, você estará na praia, de frente para o Pacífico infinito. Ninguém é de ferro, certo? Então, tome um vodka martini alla James Bond no Beach Chalet, olhando o vento entortar as árvores na marginal da Great Hyway e pentear de branco as ondas.


"To be where little cable cars
Climb halfway to the stars…"

I Left My Heart In San Francisco. George Cory & Douglass Cross, 1954

"Estar onde os bondinhos sobem até meio caminho para as estrelas…"


PASSEIO DE BONDINHO

Eles sobem, mesmo. Até o topo da Nob Hill, passando pela chinatown, pelo labirinto florido da Lombard Street, indo até a Mason. Uma vertigem gostosa, ver as docas lá embaixo e o céu azul lá em cima. No estribo, a coisa é ainda mais excitante. Sem dúvida, a melhor maneira de ver um pouco do centro da cidade. No ponto final, deixe-se ficar pela zona do mercado, compre um pão na Boudin e aceite ser envolvido pela tontura macia de estar numa das cidades mais agradáveis do planeta. E prometa-se voltar.



Oswaldo Pereira
Maio 2012

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