SAN FRANCISCO
"If
you're going to San Francisco
Be sure
to wear some flowers in your hair…"San Francisco. John Phillips, 1967
Se você vai para San Francisco, não
deixe de usar flores em seus cabelos…"
HAIGHT-ASHBURY
Eles
ainda lá estão. Mais velhos, claro. Os cabelos estão brancos, mas ainda cheios
de flores, as mulheres vestindo largas batas de seda pintada com rosas
psicodélicas, os homens com suas jeans surradas e velhos casacos de couro. Eles
ficaram. São os eternos hippies, sobreviventes do fantástico Verão de 1967, o
inesquecível Summer of Love,
quando centenas de jovens cantando slogans pela paz,
"viajando" nos mais diversos alucinógenos disponíveis e pregando a
nova Era de Aquarius invadiram esta parte da cidade. Nem desconfiavam que a sua
mensagem iria ganhar um país, um mundo, marcar um época, inspirar uma geração.
Hoje talvez nem fumem, à exceção de um ou outro baseado,
cujo perfume acri-doce a gente sutilmente percebe quando entra em suas
charmosas lojinhas. Para os maiores de 60 anos, é uma volta mágica ao passado.
Posters, buttons, velhas fotos, Jimmy Hendriks, Janes Joplin, roupas
da época, cordões e colares, "make love not war"… Se você
ainda se emociona ouvindo "California Dreamin'", não deixe de
visitar.
(Sitting on) The Dock of the Bay. Otis Redding & Steve Cropper, 1968
Os
leões marinhos saúdam o sol, enquanto ele pacientemente se prepara para
mergulhar. Faz isso todos os dias, há zilhões de anos. O pier está cheio
de fotógrafos amadores, namorados nem tanto, turistas descabelados pelo
vento. Outros mais devem estar andando
pelo passeio do Embarcadero, comendo o obrigatório clam chowder in the
sourbread bowl, (literalmente traduzido como creme de ameijoas dentro de
um pão de massa azeda. Bem melhor do que possa soar na tradução, é o prato
sãofranciscano por excelência. Jamais diga a um nativo daqui que você não
gostou. Dá briga). Esteja também preparado para encontrar os tipos mais
inesperados, estátuas vivas, camelôs falantes e bandas extraordinárias. Ande,
olhe, escute.E
se tiver tempo, olhe para o meio da baía. Entre a cidade e a outra margem, como
diria Drummond "há uma pedra no meio do caminho". Uma pedra que é uma
ilha, ou uma ilha que é uma pedra. Chama-se Alcatraz. Se já ouviu falar, o nome
certamente lhe trará arrepios. Pois lá foi instalada, em 1934, a primeira
prisão de segurança máxima dos Estados Unidos. Tipos simpáticos como Al Capone
e "Machine Gun" Kelly foram alguns de seus "hóspedes". Até
sua desativação, em 1963, e sua transformação numa atração turística, não há
registro oficial de alguma fuga bem sucedida. Entende-se. Além de ser quase
impossível burlar a vigilância e pular n'água, a ilha era cercada por atentos e
famintos tubarões.
"I guess
you could say that it was fate
How
else could I have met my love on the Golden Gate…"
Got The Date On The Golden Gate. Mel
Torme, 1949
"Eu acho que se pode chamar de destino.
De outro modo, como poderia eu ter encontrado meu amor na Golden Gate…"
PONTE GOLDEN GATE
Ela
deve ser o sinônimo visual da cidade. Quando se pensa São Francisco, se pensa
na ponte, pintada de vermelho, sublime e olímpica sobre a entrada da baía,
primeira a receber o fog que vem do mar e a dar as boas vindas aos navios que
chegam, e última despedir-se deles quando se vão e dos suicidas que dela se
jogam. Em todo o mundo, é a campeã na preferência deles. Foi terminada em 1937,
custando US$1,3 milhões menos
do que os projetados US$35 milhões. Coisa de gente honesta e competente.
São 1970 metros de comprimento, que você pode atravessar a pé, de bicicleta,
moto, automóvel, como quiser. Vale a pena. Do outro lado lhe espera uma
fantástica vista da cidade e uma graciosa vila chamada Sausalito. A
extensão verde desta área turística é a colina do Presidio, que foi dos
índios, dos espanhóis, dos mexicanos e, a partir de 1846, do Exército
americano. Árvores, silȇncio,
sombras, belvederes, passado e história. Tudo junto. Numa das pontas do imenso
parque, está um inesperado templo greco-romano no melhor estilo dos filmes
épicos, chamado Palace of Fine Arts (Palácio das Belas Artes). Passeie
por aí, deite na grama como os da terra, fotografe e fotografe-se. Quer
mais uma área verde? Ande até o Golden Gate Park. Leva o nome da
espetacular ponte e é tão fantástico quanto ela. Se você tiver fôlego e o dia
estiver claro, siga para oeste. Quando o parque terminar, você estará na praia,
de frente para o Pacífico infinito. Ninguém é de ferro, certo? Então, tome um vodka
martini alla James Bond no Beach Chalet, olhando o vento entortar as
árvores na marginal da Great Hyway e pentear de branco as ondas.
"To
be where little cable cars
Climb
halfway to the stars…"
I Left My Heart In San Francisco. George
Cory & Douglass Cross, 1954
PASSEIO DE BONDINHO
Eles
sobem, mesmo. Até o topo da Nob Hill, passando pela chinatown, pelo
labirinto florido da Lombard Street, indo até a Mason. Uma vertigem gostosa,
ver as docas lá embaixo e o céu azul lá em cima. No estribo, a coisa é ainda
mais excitante. Sem dúvida, a melhor maneira de ver um pouco do centro da
cidade. No ponto final, deixe-se ficar pela zona do mercado, compre um pão na Boudin
e aceite ser envolvido pela tontura macia de estar numa das cidades mais
agradáveis do planeta. E prometa-se voltar.
Oswaldo Pereira
Maio 2012
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