domingo, 23 de janeiro de 2022

BOND 60 (7): GOLDFINGER (PARTE I)

 


Luzes se apagando. Cinema cheio. Na tela, a perspectiva vista de dentro do cano de um revólver. O homem aparecendo e virando-se. O tiro, o vermelho derramando-se, os primeiros acordes staccato do James Bond Theme. A arma vacilando e perdendo a mira. Pronto. Mais um filme de 007. Mas este ia ser especial.

No dia 17 de setembro de 1964, Goldfinger teve sua première em Londres, no cinema Odeon da Leicester Square. A expectativa era grande. Após o inesperado sucesso dos dois filmes anteriores, a EON decidira entrar de cabeça na crescente onda de interesse que as produções sobre o agente britânico criado por Ian Fleming despertavam. E resolveu investir US$ 3 milhões (US$ 25 milhões em dólares de hoje), praticamente o que gastara para fazer Dr. No e From Russia With Love somados.

Significativa parte desse dinheiro foi empregada em propaganda e promoção e, pela primeira vez, uma atmosfera de antecipação e curiosidade precedeu o lançamento. O resultado foi estrondoso. Em pouco tempo, mais e mais salas de cinema mundo afora projetaram, para teatros lotados, o novo filme de Bond. Está no Guinness: Goldfinger tem o título de the fastest grossing picture of all times, ou seja, a película que mais rapidamente obteve seu retorno financeiro na história da sétima arte. Até hoje, já entraram nos cofres da EON mais de US$ 130 milhões.

O roteiro, escrito por Richard Maibaum e Paul Dehn em etapas diferentes e com muitas idas e vindas (era a primeira aventura cinematográfica de Bond nos Estados Unidos e os dois roteiristas discutiram muito entre si o grau de americanismo do script), apoiava-se com bastante fidelidade no livro homônimo de Fleming.

A pré-sequência, agora já parte integrante da marca Bond, mostra o agente em plena ação de explodir o depósito de um laboratório fabricante de drogas em algum lugar da América Latina. É a primeira vez que a introdução nada tem a ver com o enredo principal e, é claro, nunca fez parte da obra de Ian Fleming.

Depois dos títulos iniciais (um magnífico trabalho do artista gráfico Robert Brownjohn, com imagens e letreiros deslizando sobre um corpo feminino pintado de dourado), o filme propriamente dito começa com James Bond gozando umas férias em Miami Beach. Seu amigo e agente da CIA Felix Leiter o encontra e repassa uma instrução do MI6 para que investigue um tal Auric Goldfinger que, neste momento, está depenando um otário num jogo de cartas às margens da piscina do hotel.

Bond logo descobre a armação. Da varanda da suíte de Goldfinger, uma garota de binóculos bisbilhota as cartas do adversário e passa a informação para o auscultador que ele usa à guisa de aparelho auditivo. Bond invade o aposento, interrompe a jogada e ainda obriga Goldfinger a perder uma boa quantia nas cartas.

Jill Masterson, a garota, logo se encanta com o agente e os dois acabam por passar a noite em meio a lençóis e champagne no apartamento dele. No momento em que Bond resolve ir apanhar mais uma garrafa, um vulto surge e o nocauteia com um golpe de karatê. O que parece ser horas depois, Bond acorda. Ao voltar para o quarto, ele se depara com a cena que entraria para a iconografia do cinema do século XX: o corpo de Jill nu e integralmente pintado de dourado em cima da cama. Ela está morta. (Quem desejar rever a inesquecível sequência, é só clicar neste    LINK    .)

Só como pormenor, a razão dada no filme para a morte de Jill, com a explicação de ter sido “sufocação cutânea”, não é sustentada cientificamente. O corpo só reponde por 0,4% do oxigênio de que precisamos. Mesmo integralmente coberto de tinta, o ser humano sobreviverá. Mas, na época, muita gente acreditou...

Bond volta a Londres decidido a se vingar. Entretanto, numa reunião com o Administrador do Banco da Inglaterra, na presença de seu chefe M, ele fica sabendo que Goldfinger é muito mais do que um simples trapaceiro do baralho. Há suspeitas de que ele seja um grande contrabandista de ouro e é nisto que se concentrará a missão de 007. Descobrir a rede de contrabando e prender o bandido.  Os inimigos não são desta vez os russos ou a SPECTRE. É um homem poderoso, impiedoso e maquiavélico.

(continua)

Oswaldo Pereira
Janeiro 2022

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