Pode
não ser o melhor dentre os pré-indicados para o Oscar deste ano, mas “Don’t
Look Up” (Não Olhe Para Cima) é, certamente, o mais comentado. O filme foi escrito
e dirigido por Adam McKay, um ator, roteirista e diretor de filmes americano,
famoso por seus sketches cômicos para o programa Saturday Night Live da
NBC e, através da plataforma Netflix, ganhou instantânea divulgação planetária
após seu lançamento no Natal do ano passado.
A história (atenção para spoilers. Aliás, spoilers é o cacete; repetindo em Português: atenção para as indiscrições) gira em torno da descoberta, por dois astrônomos de segundo time, de um cometa em trajetória de colisão com a Terra e a reação dos mais diferentes segmentos da sociedade ao fato. No fundo, o filme mistura habilmente ficção científica com sátira política e projeta uma alegoria do comportamento mundial diante das previsões catastróficas dos efeitos apocalípticos de mudanças climáticas.
Aliás, este tem sido um tema recorrente nas produções cinematográficas desde que Al Gore chamou a atenção do mundo para o tema. Eu mesmo, na minha modesta e quase desconhecida produção literária, já abordei o assunto no conto “O Einstein de Hitler”, que está incluído em meu último livro “O Povoador e Outros Contos” (desculpem o marketing).
Pessoalmente, tenho minhas convicções sobre o problema. Ciclos climáticos acontecem desde que esta bola em que vivemos esfriou e, aos poucos, permitiu a formação de oceanos, terra firme, organismos primevos e vida inteligente. Registros arqueológicos nos informam que, tão recentemente como 20.000 anos atrás, uma impiedosa Idade do Gelo dominou o planeta, determinando inclusive migrações que foram cruciais para o panorama racial que temos hoje.
Sem que houvesse ainda qualquer hipótese de intervenção no clima pelas tribos pré-históricas que habitavam os continentes, o gelo retrocedeu e uma nova onda de calor transformou a paisagem para o neandertal que procurava sobreviver.
Mas, minhas discutíveis considerações à parte, Don’t Look Up provoca o debate e oferece um colorido caleidoscópio das diversas reações da Humanidade, quando se depara com algo que possa ataca-la e, eventualmente, destruí-la. E, magistralmente, faz um retrato satírico da galeria de personalidades que afloram quando isto acontece. Negativistas, imbecis, aproveitadores, alarmistas, místicos e fatalistas, toda a escala do sentimento humano está representada ali. O próprio título remete à proverbial fábula do avestruz, com sua cabeça enterrada no solo. Tudo isto com uma generosa dose de humor.
Se você ainda não o viu, recomendo. Serão duas horas de um bom entretenimento.
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2022