De repente, eu notei. Alguma coisa havia
mudado. Já estava acordado há algum tempo. Da minha janela para o nascente, a
manhã também acordava. Mas, como eu, estava diferente. Uma certa leveza, uma
certa paz.
De repente, eu me lembrei.
Quando eu era pequeno, meus pais
compraram uma obra alentada, de três volumes encadernados em negro com letras
douradas. Liam-na com fervor e brilho nos olhos. A trilogia atendia pelo nome
de “O Rio de Janeiro do Meu Tempo”, do escritor carioca Luiz Edmundo e, escrita
no final da década de 1930, reunia um conjunto de crônicas sobre a Cidade, sua
vida e seus costumes na década anterior.
Pois o Rio de Janeiro do Meu Tempo tinha
céus imaculadamente azuis, poentes delicados e majestosos, brisas que
inspiravam Johnny Alf, sol a queimar que revirava a paleta musical na valsa de
Antonio Maria, das flores que voltavam ao compasso de Paulo Soledade.
Eles estão todos de volta. E,
ironicamente, despertados de um longo sono pela dramática diminuição do
movimento imposta pelo medo e pelo poder público. Carros saíram das ruas. Menos
CO², menos motores cuspindo fumaça e
ronronando pelas esquinas, menos gritos de buzinas ansiosas.
Isto bastou. O céu acertou o azul de um
outono criança. O vento modulou seu sopro na cadência precisa. O silêncio jogou
seu manto delicado sobre as ruas desertas. E, de repente, o Rio voltou a ser o
do meu Tempo...
Oswaldo
Pereira
Março
2020
estou me sentindo tb num lugar único !
ResponderExcluiratenção plena e total alheamento.
Descobrindo valores antigos e escondidos...
ExcluirQue lindo, Oswaldo!! Hoje vi 3 borboletas e o dobro de maritacas que vem nos acordar bem cedo! Beijos carinhosos pra vcs dois!
ResponderExcluirBrigadíssimo, querida maestrina. E o Rio de Janeiro continua lindo...
Excluirolá Oswaldo
ResponderExcluirRealmente a paisagem e o movimento nas ruas no Rio diminuiu muito ao ponto de não sentir o barulho e a polução dos ônibus e caminhões.
É o outro lado da moeda que nos faz ver a cautela e a obediência as recomendações do governo.
Espero que a sociedade mude e aprenda uma lição com tudo isto.
Abraços
Emilio Telleria
Caro Emílio, quando sairmos desta, veremos um Rio (e um mundo) diferente...
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