quinta-feira, 2 de abril de 2020

DEPOIS...




E depois?

Como tudo, a pandemia vai passar. Então, será o começo dos questionamentos. O maior deles vai dividir o mundo. Quem estava certo? Aqueles que defendiam o confinamento horizontal ou vertical? Afinal, foram as medidas severas de quarentena que salvaram vidas ou foram elas que lançaram irresponsavelmente a Economia mundial na recessão, criando um pânico maior que o necessário? Vírus ou medo, qual o maior assassino?

A seguir virão as cobranças políticas. Quem apostou certo? Quem vai ganhar ou perder dividendo eleitorais em decorrência de seus posicionamentos? Quem receberá o aplauso do reconhecimento e quem será atingido pelo estigma da culpa?

E por fim chegaremos às avaliações individuais. Poucas vezes na História, a Humanidade passou por uma fase tão especial. A sensação de estarmos no redemoinho de um pesadelo ou dentro de um mau filme catástrofe deve ter passado pela cabeça de milhões. A mudança de hábitos, costumes e comportamentos foi brutal. E suas consequências podem ser igualmente dramáticas.

Cada um terá seu relato. Como todas as grandes comoções universais, aquelas que tocam com sua força planetária a vida de cada indivíduo, a Pandemia do COVID-19 já tem seu lugar assegurado nas lembranças que você um dia irá contar para os seus netos (embora profundamente aborrecidos, eles terão de ouvi-lo). Assim foi com a destruição das torres gêmeas, o assassinato de Kennedy, o ataque a Pearl Harbor. Mais para trás, o naufrágio do Titanic, a gripe espanhola. Eventos viscerais da crônica humana.

Dada a sua natureza, a quarentena global tem um poderoso viés individual e familiar. Pode ter fulminado relações ou enriquecido laços. Pode ter reforçados distúrbios psíquicos ou servido para descobertas de valores interiores. Pode ter gerado quadros depressivos ou estimulado aptidões insuspeitadas.

Rotinas foram criadas ou descartadas. Muita gente poderá encontrar, daqui para a frente, uma solução profissional válida no home office. Outros farão uso mais frequente de reuniões familiares no whatsapp. Alunos poderão achar interessante e funcional o ensino à distância. Práticas de higiene, antes desprezadas, poderão ser incorporadas ao dia-a-dia em milhões de lares e lugares públicos. Frases como “distanciamento social” e “isolamento domiciliar” entrarão para o dicionário. O mundo poderá ser um lugar diferente.

Ou não. O fim da pandemia poderá repetir o que aconteceu ao final da Primeira Grande Guerra e a erradicação da gripe espanhola em 1919. O mundo emergiu para os Loucos Anos Vinte. Subitamente liberada da opressão e do pânico do conflito armado e do H1N1, a população mundial reagiu com fatalismo, partindo para a satisfação delirante da demanda reprimida por diversão e esquecendo-se por completo das lições porventura aprendidas durante a crise.

De todo o modo, ninguém jamais irá esquecer o primeiro semestre de 2020...

Oswaldo Pereira
Abril 2020

4 comentários:

  1. Ah amigo como combinamos nas nossas ideias.
    Todas as suas análises e principalmente as indagações também são as minhas.
    Claro ficará por um tempo na memória das pessoas e mais adiante esquecida esse horror que estamos vivendo registrados apenas nos jornais revistas e anais da medicina.
    Não acredito que o mundo irá melhorar, pois já passou por tantas catástrofes e não mudou em nada.
    Eu creio que passado esse primeiro momento, as pessoas se tornarão mais reativas.
    No competente livro do Ruy Castro recém lançado logo no primeiro capitulo ele narra a Gripe Espanhola no Rio e logo em seguida o melhor Carnaval que tiveram.
    Só acreditarei no ser humano e em seus comportamentos no dia que nascer alguém com algum sentimento a mais ou a menos daqueles que todos nós temos.
    Zezé

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Só santos e loucos comportam-se em discordância. E ambos pagam o preço dessa ousadia. A condição humana nos condena a sermos o que somos. Mesquinhos e heroicos, sublimes e vis, abnegados e egoístas. Dá vontade de repetir Vinícius: "Aí pergunto a Deus, escute amigo. Se foi prá desfazer, por que é que fez?".

      Excluir
    2. A condição humana nos condena a sermos o que somos palavras suas e vamos sempre pagar um preço.Nós que questionamos as medidas exageradas para o vírus pagaremos também um preço, mas não paro de pesquisar a respeito e de questionar. Como disse Shakespeare: Há algo podre no reino da Dinamarca.E eu digo tem algo muito maior do que o Vírus em jogo.????????

      Excluir