E depois?
Como tudo, a pandemia vai passar. Então,
será o começo dos questionamentos. O maior deles vai dividir o mundo. Quem
estava certo? Aqueles que defendiam o confinamento horizontal ou vertical? Afinal,
foram as medidas severas de quarentena que salvaram vidas ou foram elas que lançaram
irresponsavelmente a Economia mundial na recessão, criando um pânico maior que
o necessário? Vírus ou medo, qual o maior assassino?
A seguir virão as cobranças políticas.
Quem apostou certo? Quem vai ganhar ou perder dividendo eleitorais em
decorrência de seus posicionamentos? Quem receberá o aplauso do reconhecimento
e quem será atingido pelo estigma da culpa?
E por fim chegaremos às avaliações
individuais. Poucas vezes na História, a Humanidade passou por uma fase tão especial.
A sensação de estarmos no redemoinho de um pesadelo ou dentro de um mau filme catástrofe
deve ter passado pela cabeça de milhões. A mudança de hábitos, costumes e
comportamentos foi brutal. E suas consequências podem ser igualmente dramáticas.
Cada um terá seu relato. Como todas as
grandes comoções universais, aquelas que tocam com sua força planetária a vida
de cada indivíduo, a Pandemia do COVID-19 já tem seu lugar assegurado nas
lembranças que você um dia irá contar para os seus netos (embora profundamente
aborrecidos, eles terão de ouvi-lo). Assim foi com a destruição das torres gêmeas,
o assassinato de Kennedy, o ataque a Pearl Harbor. Mais para trás, o naufrágio
do Titanic, a gripe espanhola. Eventos viscerais da crônica humana.
Dada a sua natureza, a quarentena global
tem um poderoso viés individual e familiar. Pode ter fulminado relações ou
enriquecido laços. Pode ter reforçados distúrbios psíquicos ou servido para descobertas
de valores interiores. Pode ter gerado quadros depressivos ou estimulado
aptidões insuspeitadas.
Rotinas foram criadas ou descartadas.
Muita gente poderá encontrar, daqui para a frente, uma solução profissional válida
no home office. Outros farão uso mais frequente de reuniões
familiares no whatsapp. Alunos
poderão achar interessante e funcional o ensino à distância. Práticas de higiene, antes desprezadas,
poderão ser incorporadas ao dia-a-dia em milhões de lares e lugares públicos. Frases
como “distanciamento social” e “isolamento domiciliar” entrarão para o
dicionário. O mundo poderá ser um lugar diferente.
Ou não. O fim da pandemia poderá repetir
o que aconteceu ao final da Primeira Grande Guerra e a erradicação da gripe
espanhola em 1919. O mundo emergiu para os Loucos Anos Vinte. Subitamente
liberada da opressão e do pânico do conflito armado e do H1N1, a população
mundial reagiu com fatalismo, partindo para a satisfação delirante da demanda
reprimida por diversão e esquecendo-se por completo das lições porventura
aprendidas durante a crise.
De todo o modo, ninguém jamais irá
esquecer o primeiro semestre de 2020...
Oswaldo
Pereira
Abril
2020
Ah amigo como combinamos nas nossas ideias.
ResponderExcluirTodas as suas análises e principalmente as indagações também são as minhas.
Claro ficará por um tempo na memória das pessoas e mais adiante esquecida esse horror que estamos vivendo registrados apenas nos jornais revistas e anais da medicina.
Não acredito que o mundo irá melhorar, pois já passou por tantas catástrofes e não mudou em nada.
Eu creio que passado esse primeiro momento, as pessoas se tornarão mais reativas.
No competente livro do Ruy Castro recém lançado logo no primeiro capitulo ele narra a Gripe Espanhola no Rio e logo em seguida o melhor Carnaval que tiveram.
Só acreditarei no ser humano e em seus comportamentos no dia que nascer alguém com algum sentimento a mais ou a menos daqueles que todos nós temos.
Zezé
Só santos e loucos comportam-se em discordância. E ambos pagam o preço dessa ousadia. A condição humana nos condena a sermos o que somos. Mesquinhos e heroicos, sublimes e vis, abnegados e egoístas. Dá vontade de repetir Vinícius: "Aí pergunto a Deus, escute amigo. Se foi prá desfazer, por que é que fez?".
ExcluirA condição humana nos condena a sermos o que somos palavras suas e vamos sempre pagar um preço.Nós que questionamos as medidas exageradas para o vírus pagaremos também um preço, mas não paro de pesquisar a respeito e de questionar. Como disse Shakespeare: Há algo podre no reino da Dinamarca.E eu digo tem algo muito maior do que o Vírus em jogo.????????
ExcluirE bota podre nisso...
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