Como leitor inveterado que sou, acabo
voltando a ler autores que às vezes repudio ou em quem, pelo menos, não
encontro grandes pendores literários. Talvez seja o fato de que, embora pobres
de estilo, são eles capazes de criar boas estórias. Mesmo sem saber contá-las
bem, a trama que engendram chega, por si só, a justificar a compra de seus
novos lançamentos.
É o caso de Dan Brown. Seu livro “Inferno”,
publicado em 2013, foi mal recebido pela crítica. Era a repetição ad nauseam de uma fórmula gasta, a mesma
que havia sido original apenas no seu primeiro, e excelente, livro, “O Código
Da Vinci”. Eu mesmo, neste modesto blog, desanquei
“Inferno”. Se quiserem, e tiverem tempo disponível e vontade idem, podem reler
minha avaliação no link abaixo.
No entanto, e apesar de tudo, acabei lendo
sua mais nova produção, o muito anunciado “Origem” (Origin, no título em inglês).
Bem... Lá estão os mesmos ingredientes,
outra vez. O indefectível Robert Langdon, o herói criado por Brown, uma espécie
de McGyver intelectual, repete sua velha rotina de se envolver em confusões gigantescas
e acabar sempre sem a mocinha (desculpem o spoiler...).
O nexus da trama é, mais uma vez, a
Religião e o embate milenar entre espiritualidade e materialismo agora
concentra-se na procura da resposta às duas mais antigas perguntas da
Humanidade. De onde viemos? e Para onde vamos?
Novamente, há um superdotado cientista, uma
corrida policial, vilões declarados e insuspeitos e uma cidade-cenário. Desta
vez, é Barcelona. (O livro passa longe
das atuais tribulações catalãs. Deve ter sido escrito muito antes.)
Além disso, a narrativa gasta páginas
demais no conflito Darwin vs. Antigo
Testamento, enchendo o enredo de uma extensa ramificação de citações e pistas
literárias, e suas interpretações. Tudo bem que brincar com símbolos é a marca
registrada de Dan Brown e de seu personagem, Langdon, um professor de Simbologia em Harvard. Mas, algo mais rapid fire poderia enxugar um pouco o
calhamaço de Origem.
Se você acha que poderá descontar isto tudo, talvez descubra, como eu, algumas boas passagens, principalmente naquilo em que Brown é um craque. Criar bons momentos de suspense e descrever com maestria as imagens de fundo. Em Origem, a superposição de dois roteiros, um centrado na revelação que um renomado cientista com ares de superstar prepara-se para apresentar ao planeta, outro numa sombria sucessão ao trono espanhol, mantém o leitor acordado. Ao fundo, ícones da cidade como a Casa Millà e a Sagrada Família merecem do autor a homenagem de uma descrição impecável.
Mais apelos turísticos para a grande cidade
catalã. Só que Barcelona anda às turras com os turistas. E com a Espanha...
Oswaldo Pereira
Novembro 2017
Aí está a única fórmula de nos comunicarmos e esse Dan Brown tem um extraordinário sexto sentido de perceber o mercado de nossas dúvidas. Quem melhor do que ele poderia transformar Rennes-le-Chateaux como o pivot, explorado por seu personagem, de dúvidas que não abalam a fé, mas põe em risco a história, de como ela é contada. É verdade, sem ter lido, é mais do mesmo. Para nós velhos, empedernidos, idade que a poucos foi possível chegar, para descartar como mais do mesmo? Será que o mesmo não somos nós que, não conseguimos em nossa adolescência senil, discernir as revelações concretas, ie, história e nosso fim último a que temos tido acesso, sem falar com os padres?
ResponderExcluirAdolescência senil... Muito bem posto!
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