quinta-feira, 9 de novembro de 2017

ORIGEM


Como leitor inveterado que sou, acabo voltando a ler autores que às vezes repudio ou em quem, pelo menos, não encontro grandes pendores literários. Talvez seja o fato de que, embora pobres de estilo, são eles capazes de criar boas estórias. Mesmo sem saber contá-las bem, a trama que engendram chega, por si só, a justificar a compra de seus novos lançamentos.

É o caso de Dan Brown. Seu livro “Inferno”, publicado em 2013, foi mal recebido pela crítica. Era a repetição ad nauseam de uma fórmula gasta, a mesma que havia sido original apenas no seu primeiro, e excelente, livro, “O Código Da Vinci”. Eu mesmo, neste modesto blog, desanquei “Inferno”. Se quiserem, e tiverem tempo disponível e vontade idem, podem reler minha avaliação no link abaixo.

No entanto, e apesar de tudo, acabei lendo sua mais nova produção, o muito anunciado “Origem” (Origin, no título em inglês).

Bem... Lá estão os mesmos ingredientes, outra vez. O indefectível Robert Langdon, o herói criado por Brown, uma espécie de McGyver intelectual, repete sua velha rotina de se envolver em confusões gigantescas e acabar sempre sem a mocinha (desculpem o spoiler...). O nexus da trama é, mais uma vez, a Religião e o embate milenar entre espiritualidade e materialismo agora concentra-se na procura da resposta às duas mais antigas perguntas da Humanidade. De onde viemos? e Para onde vamos?

Novamente, há um superdotado cientista, uma corrida policial, vilões declarados e insuspeitos e uma cidade-cenário. Desta vez, é Barcelona. (O livro passa longe das atuais tribulações catalãs. Deve ter sido escrito muito antes.)

Além disso, a narrativa gasta páginas demais no conflito Darwin vs. Antigo Testamento, enchendo o enredo de uma extensa ramificação de citações e pistas literárias, e suas interpretações. Tudo bem que brincar com símbolos é a marca registrada de Dan Brown e de seu personagem, Langdon, um professor de Simbologia em Harvard. Mas, algo mais rapid fire poderia enxugar um pouco o calhamaço de Origem.

Se você acha que poderá descontar isto tudo, talvez descubra, como eu, algumas boas passagens, principalmente naquilo em que Brown é um craque. Criar bons momentos de suspense e descrever com maestria as imagens de fundo. Em Origem, a superposição de dois roteiros, um centrado na revelação que um renomado cientista com ares de superstar prepara-se para apresentar ao planeta, outro numa sombria sucessão ao trono espanhol, mantém o leitor acordado. Ao fundo, ícones da cidade como a Casa Millà e a Sagrada Família merecem do autor a homenagem de uma descrição impecável.

Mais apelos turísticos para a grande cidade catalã. Só que Barcelona anda às turras com os turistas. E com a Espanha...

Oswaldo Pereira

Novembro 2017

2 comentários:

  1. Aí está a única fórmula de nos comunicarmos e esse Dan Brown tem um extraordinário sexto sentido de perceber o mercado de nossas dúvidas. Quem melhor do que ele poderia transformar Rennes-le-Chateaux como o pivot, explorado por seu personagem, de dúvidas que não abalam a fé, mas põe em risco a história, de como ela é contada. É verdade, sem ter lido, é mais do mesmo. Para nós velhos, empedernidos, idade que a poucos foi possível chegar, para descartar como mais do mesmo? Será que o mesmo não somos nós que, não conseguimos em nossa adolescência senil, discernir as revelações concretas, ie, história e nosso fim último a que temos tido acesso, sem falar com os padres?

    ResponderExcluir