Atração
obrigatória para quem visita a cidade de São Petersburgo, o Palácio de Peterhof foi construído entre 1714 e 1725, por ordens do Czar Pedro I, o Grande. O
apelido pelo qual alguns o chamam, o “Versailles russo”, não lhe faz justiça. O
magnífico edifício, a extensa área de jardins que o cerca e suas 120 fontes nada
têm a ver com a construção francesa, um intoxicante exemplo da grandiosidade dos
Reis-Sol. Peterhof, mesmo no seu rococó, é russo por natureza e, portanto, mais
romântico e, se quiserem, mais autêntico, em suas cascatas que congelam no
inverno e que, no verão, deslizam entre as mitológicas estátuas douradas que
brilham como deuses.
Foi
aí que, em 21 de fevereiro de 1903, o Czar Nicolau II realizou uma grandiosa
festa, talvez uma das mais suntuosas e ricas de uma corte famosa por seu
esbanjamento. Comemorava-se o 290° aniversário da ascensão ao poder dos Romanov, uma
dinastia que mantivera sua hegemonia mesmo durante a hecatombe da Revolução
Francesa e o vendaval de Napoleão. A festa foi um requintado espetáculo de
luxo, reunindo, durante dois movimentados dias, a nata da nobreza czarista.
Para os convidados, tudo do bom, do melhor e do mais caro. Mas nem Nicolau II,
nem seus deslumbrados convivas, poderiam jamais imaginar que esta seria sua
última festa.
Em
1903, o Império Russo reunia todas as condições que o poderiam definir como um
imenso barril de pólvora. Espalhado por um território de dimensões quase
incompreensíveis, era um oceano de pobreza com pequenas ilhas de opulência,
habitadas por famílias nobres que dominavam as terras e a produção de riqueza
existentes ao redor de suas propriedades feudais. O resto era quase um inteiro
continente de lavoura pobre, gente analfabeta e vida miserável. A industrialização,
que já vicejava com força numa Europa saída do Século da Luzes, chegara apenas
incipiente à Rússia dos czares. No resto da Europa, a imagem que o império projetava
era a de um país atrasado, empobrecido e malgovernado.
Em
1905, essa imagem deteriorou-se ainda mais, com a destruição da frota czarista
em Port Arthur e a humilhante derrota do exército russo na Manchúria. O
vencedor era uma improvável potência, durante muitos anos considerada pelo
Ocidente como incapaz de impor êxitos militares. O Japão. Na realidade, a
organização das gigantescas forças armadas russas era um espelho do país. Uma incapaz
oficialidade, dominada pela hierarquia da nobreza, comandando uma legião de
conscritos mal alimentados, mal treinados e ineficientemente armados.
O
desastre militar abalou a alma russa. Dentro do exército, pequenas revoltas
contra a incapacidade dos comandantes e as más condições de vida da soldadesca
começaram a explodir, aqui e ali. Em julho de 1905, a sublevação dos
marinheiros do couraçado Potemkin aumentou o nível de uma onda de protestos que
tivera origem, seis meses antes, em São Petersburgo. Naquele domingo sangrento, em frente ao Palácio
de Inverno, centenas de manifestantes desarmados, cujo objetivo era entregar ao
Governo uma petição para melhoria de condições de trabalho, assinada por 120
mil operários, foram massacrados pela guarda cossaca.
Com
explosões de descontentamento surgindo nos grandes centros urbanos, Nicolau II
acabou cedendo e abrindo mão de algumas parcelas de seu absolutismo. Mas,
teimoso e empedernido como era, ainda imaginava que o povo lhe devia
inquestionável devoção. Perguntado, à época, se poderia ainda recuperar a
confiança da população, respondeu com sua característica insensibilidade. Pergunte-me é se o povo ainda pode recuperar
a minha confiança.
Assim,
apesar da criação da Duma, um parlamento com limitado raio de ação, as agitações
prosseguiram. O país tentava compensar o tempo perdido através de uma rápida
industrialização. Uma nova classe, a dos operários, começava a crescer exponencialmente
e, juntamente com as máquinas importadas, importava-se também os ventos de uma
nova ordem de ideias, a maioria delas explicitadas décadas antes por Karl Marx.
Em
1914, o assassinato do arquiduque Ferdinando em Sarajevo lançou a Europa no
inferno de uma guerra sem precedentes. A carnificina provocada pela combinação
de táticas ultrapassadas de combate e a eficiência letal das novas armas
ultrapassou o imaginável. Na Rússia, já combalida pelo caos político e
econômico e pela desmoralização de seu exército, o efeito foi devastador.
Vladimir
Putin declarou que os governantes que mais detestava eram Michail Gorbachev e
Nicolau II porque tinham deixado o poder cair nas ruas. Em 1917, com a fome se
alastrando, a corte paralisada, o Governo sitiado, a guerra sendo perdida e
forças políticas surgindo do pântano institucional em que o país se encontrava,
o poder na Rússia caiu literalmente nas ruas.
(Continua)
Oswaldo Pereira
Novembro 2017
Depois vc vaí escrever o roteiro do longa metragem e definir o elenco. Ta bem ?
ResponderExcluirDesde que você faça a edição....
ExcluirAdoro teu jeito de contar a história......consistente.....instigante......prazeroso de seguir.....aguardo por mais
ResponderExcluirThank you, darling... Não é tão bom quanto o Brasil Paralelo, mas...
ExcluirOswaldo, você conseguiu esclarecer resumindo em uma página a parte da história de tantos anos. E, de maneira clara. É uma história impressionante e para mim, pesada.Mas, fascinante e como todas as outras, a luta pelo poder.
ResponderExcluirE, você , em poucas palavras, contou a história desse povo .
cleusa24 de novembro de 2017 21:09
ResponderExcluirOswaldo, você conseguiu esclarecer resumindo em uma página a parte da história de tantos anos. E, de maneira clara. É uma história impressionante e para mim, pesada.Mas, fascinante e como todas as outras, a luta pelo poder.
E, você , em poucas palavras, contou a história desse povo .
O ambiente do blog não permite grandes divagações... Assim, sou obrigado a sintetizar tudo. Obrigado pelo comentário.
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