A festa correu bem. Até que...
Anos a fio venho acompanhando da entrega
dos Oscars. Desde que o badalado evento ganhou as redes internacionais de
televisão, acho que lá pelo final dos anos setenta, preparo-me com religiosa
fidelidade para a transmissão ao vivo da cerimônia.
Meu fervor explica-se. Nasci num mundo
sem TV. Sem vídeos, streamers, Youtubes, DVD’s.
A imagem vinha pelo pensamento e pela imaginação de cada um, transformando intimamente
em cenários os sons do rádio ou as páginas de um livro. As cores, os movimentos,
o décor eram construídos na parte
anterior dos olhos, nos meandros dos meus jovens neurônios e desenrolavam suas
cenas coloridas utilizando apenas o que a minha memória visual lhes permitia.
A fantasia real só acontecia quando íamos ao Cinema. Aí, todo um mundo de
sonho abria suas portas, convidando-nos a entrar na telona de corpo e alma.
Passado, presente e futuro estavam ali, na nossa frente, espetáculos eternos
que duravam só duas horas, mas que nos alimentavam de miragens por semanas ou
mais.
Fica fácil, assim, compreender o meu, e
o da minha geração, fascínio pelo Cinema e pelo momento em que podíamos ver seus
personagens com um pouco mais de profundidade, fora de um papel, quase como se entrassem em nossa sala de estar, a receber
seu prêmio pelo encantamento que nos haviam tão dadivosamente regalado.
Hoje, há várias cerimônias do gênero. BAFTA,
Golden Globes, SAG Awards, EMMY’s. Mas, caros amigos, igual ao velho Oscar não
há. Transmitida para mais de duzentos países, vista por mais de 2 bilhões de
habitantes do planeta, a premiação da Academia é um must, um programa imbatível para uma noite de domingo, seja em que
continente você estiver.
Mesmo quando erra, mesmo quando há
falhas. Já vi apresentadores desastrosos, piadas de mau gosto, discursos de agradecimento
intermináveis, roupas beirando o inconcebível, números musicais fracos. E,
desta vez, até uma inédita troca de envelopes...
Mas, não importa. O saldo destas oitenta
e nove edições ainda é altamente positivo. A velha magia ainda está lá. Até quando você torce inutilmente por Denzel
Washington como melhor ator ou quando acha que Moonlight não tinha a menor condição de vencer como melhor filme,
mesmo numa safra fraquíssima como foi 2016...
O que vale, mais uma vez, é o encantamento.
O encantamento que me envolveu quando as luzes se apagaram no início da minha
primeira sessão de cinema...
Oswaldo
Pereira
Fevereiro
2017