O ditado diz. Não se cutuca onça com vara curta. E
eu acrescento – nem jararacas...
A “vara” da Polícia Federal,
para impor a condução coercitiva do ex-Presidente Lula, foi curta. Não pelo rito processual em si, mas pela importância
política do intimado. E nem quero eu
dizer que ele está acima da lei. Apenas sugiro que deveria ter havido um pouco
de bom-senso.
Por menos que se goste dele,
Lula não é um cidadão comum. Tem história, tem relevância, tem peso. O próprio
argumento apresentado por Sérgio Moro, de que outras 117 conduções coercitivas
haviam sido efetuadas pela Justiça, sem que houvesse qualquer repercussão, é
fraco. Noventa e nove por cento dos brasileiros sabiam lá quem eram Renato
Duque, Fernando Baiano, Pedro Barusco et
caterva até que os esgotos do propinoduto da Petrobrás fossem abertos pela
polícia. O que acontecia com estes desconhecidos jamais inflamaria reações
apaixonadas, à exceção das de seus bem pagos advogados. Mesmo a prisão de João
Vaccari Neto não causou mais do que resmungos do PT e José Dirceu sempre foi
uma figura de bastidores.
Ao contrário, Lula é uma
caixa de ressonância popular. Diferentemente de Dilma, ele sempre comandou
altíssimos índices de popularidade e quando deixou o cargo tinha 80% de
aprovação. Sua mística de operário humilde, pobre e nordestino que chegou ao
cume da hierarquia política brasileira continua presente no imaginário de uma
grande parcela da população, também ela desvalida e iletrada. Ainda um herói
para muita gente.
Em cima disto, o
ex-Presidente é, reconhecidamente, um grande manipulador de massas. Seu discurso,
se não mais consegue ter credibilidade para muitos, ainda é carismático para
várias camadas da população. Sua voz ainda é um comando para a militância do PT,
uma inspiração para alguns setores da esquerda.
E este foi o erro. Deram a
Lula um metro quadrado de palco, um script
de duas linhas, e ele foi capaz de montar uma superprodução artística de
autocomiseração. Justamente num precioso
momento, em que o Brasil se prepara para levar às ruas seu descontentamento, em
que o cerco se fecha em torno da mais corrupta e desonesta tribo política de
que o país tem notícia. Uma lamentável falha estratégica.
E, agora, a bola está no
campo de Moro e da Polícia Federal. Só provas insofismáveis, capazes de
convencer o povão da existência de malandrice indesculpável, serão capazes de
anular o efeito do carnaval que Lula irá armar nas próximas semanas. Um grande
complicador.
E, para complicar ainda
mais, veio o pedido de prisão preventiva de Lula, expedido por um promotor de São Paulo. Pedido
este, então, repudiado até pela oposição e classificado como incompetente por
juristas de vários lados. Aí, meu faro começa a tecer teorias. Por que um pedido
tão extemporâneo? Por que tão mal fundamentado, pronto para ser rechaçado pela juíza de plantão? A quem interessa isso?
Duas hipóteses (minhas, é
claro).
Uma, seria a forma de tirar momentaneamente
o foco da ação de Sérgio Moro, que teve sua ordem de condução coercitiva criticada. Outra, diametralmente oposta, seria
dar a Lula mais uns metros de palco.
Ambas injustificáveis...
Oswaldo Pereira
Março 2016
Me orgulho muito da sua lucidez.........
ResponderExcluir"Brigadinho", meu amor...
ExcluirCaro Osvaldo, suas duas hipóteses são possíveis, mas acho que a 3a. seria uma tragédia: a Juíza da 4a. de São Paulo não aceitar o pedido de prisão preventiva. O Lula se acharia herói e vitima. Abraço do Thomaz.
ResponderExcluirOs fatos nos ultrapassaram. Agora, a decisão foi para o Sérgio Moro. Eletrizante...
ExcluirCaro Oswaldo. Infelizmente para o Brasil sua descrição da figura de Lula está irretocável. E como ele tem consciência de que é sustentado pela grande parte da população "desvalida e iletrada", há um sério risco de forte solavanco nas operações de comandadas por Curitiba. Risco que cresce muito se outras comarcas insistirem em subir na ribalta. Forte abraço.
ResponderExcluirZeca
Graças ao bom Deus, as ruas deram um tremendo aval ao Moro.
ExcluirCaro Primo,
ResponderExcluirSerá que não havia a maquiavélica hipótese de levar o Lula a conclamar seu "exercito" "as ruas para sua defesa e, com isso, acabar provocando a outra turma a sair em massa às ruas no 13 de março, como de fato aconteceu?
Haja esperteza, heim?
Abraços.
Geraldo
Agora vêm as manifestações do PT. Só quero ver...
ExcluirDe fato. O cena política, de Teatro,está se tornando um Circo dos Horrores.
ResponderExcluirSó nos resta vaiar...
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