sábado, 12 de março de 2016

VARA CURTA




O ditado diz. Não se cutuca onça com vara curta. E eu acrescento – nem jararacas...
A “vara” da Polícia Federal, para impor a condução coercitiva do ex-Presidente Lula, foi curta.  Não pelo rito processual em si, mas pela importância política do intimado.  E nem quero eu dizer que ele está acima da lei. Apenas sugiro que deveria ter havido um pouco de bom-senso.

Por menos que se goste dele, Lula não é um cidadão comum. Tem história, tem relevância, tem peso. O próprio argumento apresentado por Sérgio Moro, de que outras 117 conduções coercitivas haviam sido efetuadas pela Justiça, sem que houvesse qualquer repercussão, é fraco. Noventa e nove por cento dos brasileiros sabiam lá quem eram Renato Duque, Fernando Baiano, Pedro Barusco et caterva até que os esgotos do propinoduto da Petrobrás fossem abertos pela polícia. O que acontecia com estes desconhecidos jamais inflamaria reações apaixonadas, à exceção das de seus bem pagos advogados. Mesmo a prisão de João Vaccari Neto não causou mais do que resmungos do PT e José Dirceu sempre foi uma figura de bastidores.

Ao contrário, Lula é uma caixa de ressonância popular. Diferentemente de Dilma, ele sempre comandou altíssimos índices de popularidade e quando deixou o cargo tinha 80% de aprovação. Sua mística de operário humilde, pobre e nordestino que chegou ao cume da hierarquia política brasileira continua presente no imaginário de uma grande parcela da população, também ela desvalida e iletrada. Ainda um herói para muita gente.

Em cima disto, o ex-Presidente é, reconhecidamente, um grande manipulador de massas. Seu discurso, se não mais consegue ter credibilidade para muitos, ainda é carismático para várias camadas da população. Sua voz ainda é um comando para a militância do PT, uma inspiração para alguns setores da esquerda.

E este foi o erro. Deram a Lula um metro quadrado de palco, um script de duas linhas, e ele foi capaz de montar uma superprodução artística de autocomiseração.  Justamente num precioso momento, em que o Brasil se prepara para levar às ruas seu descontentamento, em que o cerco se fecha em torno da mais corrupta e desonesta tribo política de que o país tem notícia. Uma lamentável falha estratégica.

E, agora, a bola está no campo de Moro e da Polícia Federal. Só provas insofismáveis, capazes de convencer o povão da existência de malandrice indesculpável, serão capazes de anular o efeito do carnaval que Lula irá armar nas próximas semanas. Um grande complicador.

E, para complicar ainda mais, veio o pedido de prisão preventiva de Lula, expedido por um promotor de São Paulo. Pedido este, então, repudiado até pela oposição e classificado como incompetente por juristas de vários lados. Aí, meu faro começa a tecer teorias. Por que um pedido tão extemporâneo? Por que tão mal fundamentado, pronto para ser rechaçado pela juíza de plantão? A quem interessa isso?

Duas hipóteses (minhas, é claro).

Uma, seria a forma de tirar momentaneamente o foco da ação de Sérgio Moro, que teve sua ordem de condução coercitiva criticada. Outra, diametralmente oposta, seria dar a Lula mais uns metros de palco.

Ambas injustificáveis...

Oswaldo Pereira

Março 2016

10 comentários:

  1. Caro Osvaldo, suas duas hipóteses são possíveis, mas acho que a 3a. seria uma tragédia: a Juíza da 4a. de São Paulo não aceitar o pedido de prisão preventiva. O Lula se acharia herói e vitima. Abraço do Thomaz.

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    1. Os fatos nos ultrapassaram. Agora, a decisão foi para o Sérgio Moro. Eletrizante...

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  2. Caro Oswaldo. Infelizmente para o Brasil sua descrição da figura de Lula está irretocável. E como ele tem consciência de que é sustentado pela grande parte da população "desvalida e iletrada", há um sério risco de forte solavanco nas operações de comandadas por Curitiba. Risco que cresce muito se outras comarcas insistirem em subir na ribalta. Forte abraço.
    Zeca





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    1. Graças ao bom Deus, as ruas deram um tremendo aval ao Moro.

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  3. Caro Primo,
    Será que não havia a maquiavélica hipótese de levar o Lula a conclamar seu "exercito" "as ruas para sua defesa e, com isso, acabar provocando a outra turma a sair em massa às ruas no 13 de março, como de fato aconteceu?
    Haja esperteza, heim?
    Abraços.
    Geraldo

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  4. De fato. O cena política, de Teatro,está se tornando um Circo dos Horrores.

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