quarta-feira, 16 de março de 2016

TAPA NA CARA




Nada como um dia depois de outro. E quatro dias, na volatilidade política do Brasil atual, parecem quatro décadas.

No dia 12, sábado, eu escrevera um texto sobre a cutucada da Polícia Federal em Lula, argumentando que isto poderia ter sido um erro estratégico, dando munição para que ele montasse seu circo de autolouvor, mestre que é nesse mister.

No dia seguinte, o país foi às ruas como jamais havia ido. Mesmo tirando pela média as várias contagens, no mínimo 5 milhões de brasileiros deram um inequívoco recado. Mais do que indignados com os políticos, estão revoltados com a politicagem. Estão fartos de conchavos, jabaculês, pixulecos, propinodutos, comissões, arreglos, vantagens, molhamãos, calabocas, anões, laranjas e outros entes desta antológica farra monumental com o nosso dinheirinho.

Além do foco principal da repulsa ter sido dirigido à dupla Lula & Dilma, o grito repudiou todos os homens públicos que por lá apareceram, numa demonstração inequívoca de que o desgosto e a raiva são contra a Corrupção, este óleo viscoso e corrosivo que unta todas as engrenagens do sistema político nacional.

Ao mesmo tempo, e no mesmo fervor, as manifestações santificaram Sérgio Moro, seus atos e sua cruzada. Assim, o quadro que descrevi no dia 12 mudava suas cores, diminuindo o tamanho do palco dado a Lula. Em seguida, a juíza que iria julgar a procedência legal do pedido de prisão do ex-presidente originado em São Paulo remeteu (quem tem, tem medo) a decisão para Moro.

Mais 24 horas, e tudo muda novamente. Agora, a meu ver, é a vez do Governo, e de Lula, cometerem um grave equívoco. Dilma, de convidar seu padrinho para o Ministério. Lula, de aceitar o convite.

São eles que desta vez cutucam a onça com vara curta. Esta blindagem, além de ser um tapa na cara dos milhões que foram vestidos de verde e amarelo para as ruas de mais de trezentas cidades deste país, e indicar que Lula deve e, portanto, teme, é um erro de consequências imprevisíveis.

Neste clima, na sexta-feira virão as manifestações petistas de rua, estopim final de uma polarização perigosa que pode não acabar bem.

Enquanto isto, o Brasil está parado, estagnado e com a promessa de continuar assim por meses, até que o tortuoso processo de impeachment rasteje por um Congresso ferido pela paralisia das denúncias e das investigações que atingem, além de vários parlamentares, os próprios presidentes das duas casas.

Nunca antes na História deste país eu vi algo assim...

Oswaldo Pereira
Março 2016

  

14 comentários:

  1. O problema que mais me aflige, caro Oswaldo, é que eu já vi algo assim ( com todas as possíveis nuances que mais de meio século de distância pode impor ) Foi no primeiro trimestre de 1964. Sei como acabou ...

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    1. Pois é, Jaime. Até as datas parecem trazer recordações. O famoso Comício da Central foi no dia 13 de março...

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  2. Segundo pesquisas divulgadas pela imprensa internacional , o que se transferiu do capitalismo selvagem para os cofres do partido dos trabalhadores dá para comprar todo o STF e continuar no poder. Agora é ver quem é brasileiro de verdade embaixo da toga e o que o cidadão comum pode fazer, já que só tem a arma do voto na mão.

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    1. Espero que depois desta catarse, o brasileiro saiba usar a arma do voto. Há menos de dois anos usou-a mal...

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  3. Segundo pesquisas divulgadas pela imprensa internacional , o que se transferiu do capitalismo selvagem para os cofres do partido dos trabalhadores dá para comprar todo o STF e continuar no poder. Agora é ver quem é brasileiro de verdade embaixo da toga e o que o cidadão comum pode fazer, já que só tem a arma do voto na mão.

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  4. Caro Osvaldo, como você disse, nada como um dia após o outro. Acho que o amigo terá muito pouco tempo para redigir nova nota sobre a total "esculhambação" do país, já que no dia hoje as novidades serão de arrepiar. Grande abraço do Thomaz.

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    1. Tens inteira razão, amigo Thomaz. A coisa muda de hora em hora e acho que esta semana não acaba sem outras grandes surpresas... Parece que voltei ãs décadas de 40 e 50...

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  5. Just finished watching Dilma's speech streamed live on Globo. She's a good speaker and looks sincere when she extends and olive branch. Hard to tell from this distance if that's true. She sounds a lot better than Donald Trump and makes a better speech than Hillary.

    It seems like the key question is whether the military is as polarized as the rest of the country seems to be - geographically, it's the South versus the North again. Doesn't that get us back at least to 1930?

    It's like watching a slow-motion train wreck from afar, only we don't know how it comes out.

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    1. Dear Professor,
      Seen from afar, that could be so. But Dilma is not the angel she appeared to be in the speech you watched. She is incompetent, arrogant and irremediably dumb. Her administration is inept and monumentally corrupt. And she will be impeached. The question is: what will come after she's gone...

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  6. O que chega hoje é o outono. Datado, o tempo de Deus não nos confere poder algum. A terra tem mais força que a pedra, é capaz de recobri-la, criando outro cenário. Essa hecatombe na "política", de fato amedronta mas não se estenderá. Quantas vezes já vimos coisas como tais e o dia nasceu...!

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    1. E vai continuar nascendo e morrendo a cada 24 horas... Não há drama pessoal ou planetário que altere isto. Como se dizia "o mundo gira e a Lusitana roda..."

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  7. Oswaldo, com um Homem como Moro teremos muito do dinheiro roubado devolvido aos cofres. Sabemos que nao tudo mas há a prisão que nunca pensaríamos que pudesse estar lotada de homens públicos e ricos. E, ele continua a sua rota agora em Portugal onde o CARA se escondeu e tem cidadania.Penso que isso vai demorar a terminar ou nao conseguirão terminar. E o BNDS ? Ainda não chegou lá....
    Estive presente em todas as manifestações. A maior foi a de São Paulo onde o ovo levou até crianças pequenas que eram transportadas nas costas do pai. Estava incrível !Nem conseguimos entrar na PAULISTA e todas as ruas que dao para lá se encheram. Fantástico o povo paulista.

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    1. O povo, sem dúvida, deu o seu recado. Mas ainda falta muito para termos um ambiente político responsável. O recado foi dado nas ruas. Agora, é preciso dá-lo nas urnas...

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