Não gosto de discutir
ideologias. Crenças, fés, bandeiras, inclinações, cores e até clubes de futebol
têm a força de dogmas. Geralmente, são adquiridos antes dos vinte anos,
absorvidos no inconsciente entre a adolescência e a juventude, quando os
arroubos estão vivos, a mente ávida por uma afirmação ou pelo desejo de enturmar-se,
fazer parte de uma tribo, encontrar uma identidade. Às vezes vêm do ambiente
familiar, de conceitos misturados a exemplos de comportamento de pais, tios ou
avós, de frases definitivas ditas em volta de uma mesa de jantar. Em outros casos,
nascem na escola, repassados por um mestre influente ou carismático, ou
professados por colegas admirados e respeitados.
Assim, à medida que se
sedimentam com o passar dos anos, podem se transformar numa sólida convicção,
num credo individual poderoso, resistente a qualquer tentativa de conversão
exterior. Nestes casos, a discussão torna-se estéril. Mais ainda, num caso de
extrema entrega, a ideologia passa a reverter a realidade a seu favor, forçando
uma interpretação sempre favorável às suas verdades.
Nasci no signo de Libra, a
balança zodiacal. Formei-me em Direito. Et
pour cause, dirão alguns. Desta forma, por artes dos astros e por formação
acadêmica, adoto o princípio de respeitar opiniões, mesmo aquelas que possam
divergir diametralmente das minhas. Penso sempre que elas se formaram a partir
de experiências, vivências, necessidades e oportunidades diferentes daquelas
que eu tive e, portanto, mesmo que as ache erradas ou despropositadas, têm seu
direito de existir. Sou capaz de ouvi-las
e procurar entende-las. Desde que, é claro, o interlocutor também se disponha a
ouvir-me. Quem não está comigo está contra
mim é um lema idiota, intolerante e perigoso.
Mas, eu gosto mesmo é de
fatos. Tenho verdadeiro fervor religioso pelo fato cristalino, cuja percepção
escapa a interpretações. E, no meio da densa fumaça política que encobre este
começo de Outono, eu consigo ver três fatos.
FATO UM
Dilma Rousseff não tem a competência
necessária para o cargo que ocupa. Apesar de eleita, ou reeleita, ela não reúne
mais as condições de governar. Os erros de base cometidos em seu primeiro
mandato desaguaram suas nefastas consequências agora, causando uma tempestade perfeita
de aumento do desemprego, queda da renda familiar, crescimento da inflação e
dos juros, esfacelamento das metas do déficit público e recessão econômica. Até
a promessa basilar do ideário petista, que é a melhoria de vida dos mais
pobres, definha, na medida em que são estes os que mais sofrem na atual
situação. Isto, por si só, não seria
catastrófico se o Governo tivesse mantido intactas as condições de controle e
de governabilidade. Já passamos por isto antes e revertemos a situação. A cruel
diferença de agora é que Dilma não tem qualquer sustentação política, nem apoio
popular. Seu chão desapareceu. Independentemente de qualquer cor partidária, não
há como refutar a verdade de que com ela no poder por mais três anos, o país
poderá afundar numa crise histórica e devastadora.
FATO DOIS
O Mensalão e o Petrolão não
são factoides criados pela Rede Globo. Eles existiram, e talvez ainda existam.
A imensa rede dos propinodutos, o incestuoso casamento entre empresários
corruptores e políticos corruptos, as longas listas de pixulecos e seus saborosos codinomes, o generoso Clube das Empreiteiras,
os grosseiros e petulantes diálogos ao telefone, as inocências juradas e, logo
após, desmentidas pelas evidências. Isto
não é apanágio do PT, dirão. Estão certos. A corrupção espalha-se por todo
o espectro partidário. Existe aqui e lá fora. É antiga como o Tempo. Mas, no presente
caso, há uma crucial novidade. Desta vez, ela foi usada para financiar um
projeto de poder. Se isto não é golpe...
FATO TRÊS
Assim como um avião nunca
cai por uma só razão, um impeachment nunca
acontece por um só motivo. Com mais ou menos frequência ou intensidade, pedaladas fiscais, verbas extra orçamentárias,
contribuições de campanha por baixo do pano já povoaram a crônica brasileira
desde os tempos da proclamação da República. Todas são argumento constitucional
para um processo de impedimento do Presidente. E, na verdade, dezenas de
iniciativas neste sentido já foram protocoladas no passado. O próprio PT
apresentou mais de dez pedidos de impeachment
contra Itamar Franco e outros tantos contra Fernando Henrique Cardoso. Por
que não foram para a frente? Porque, independentemente
das gravidades das acusações, um Governo com sólida base partidária e/ou grande
aceitação popular cria uma imunidade própria e consegue destruir os processos
no nascedouro. Nos Estados Unidos, Nixon foi alvo de uma ação de impeachment e teve de renunciar ante o
inevitável. Sua popularidade era ínfima e o Congresso hostil. Por sua vez,
Clinton prevaricou e mentiu, George W. Bush inventou as “armas de destruição em
massa” e levou o país à guerra no Iraque e nada aconteceu. Eram populares, bons
políticos e a nação estava bem economicamente. Lembram-se do Collor? “Caras
pintadas” nas ruas, PC Farias e trapalhadas na Economia deram cabo dele.
Exatamente o que hoje Dilma enfrenta.
Para terminar, acho que o
melhor negócio para o PT será fazer exatamente o que ele renega. Sair do poder.
Por impeachment, que parece agora uma
certeza, ou por renúncia. Raciocinem comigo. Temer será um Presidente com cara
de provisório. Não creio que ele consiga melhorar muito as coisas, até porque
toda a máquina administrativa está aparelhada e, ou eu muito me engano, ou o PT
irá fazer “terra arrasada” ao sair. Assim, governar bem será quase impossível
para o PMDB. Para Lula, agora na oposição, será um prato cheio. Livre do
desgaste e colhendo os dividendos dos percalços de Temer, Lula pode chegar a 2018 em grande forma.
Agora, se realmente
cumprirem a ameaça de ir para as ruas e tentar desestabilizar a paz social, não podemos esquecer que há um órgão da República cuja missão CONSTITUCIONAL é
manter a ordem no caso de ruptura da vida pública. E todo mundo sabe bem quem
é...
Oswaldo Pereira
Março 2016