O primeiro texto seria
sobre a Índia, esse fabuloso semi-continente que tive a ventura, e a aventura,
de atravessar durante os últimos quinze dias. Mas quis o destino que a nossa
volta de Mumbai para a Europa, inicialmente reservada num voo da Lufthansa com
destino a Frankfurt, fosse, por causa da greve dos alemães, reprogramada para
Paris pela Air France. Nosso avião decolou às duas e vinte da madrugada de
sábado, dia 14. Na França, eram nove e quarenta da noite do dia 13. Hora em que
o inferno abria suas portas na capital francesa.
A vagem aérea foi
extremamente tranquila. Em algum escaninho do cérebro, a única preocupação era
o pouco tempo da escala, menos de duas horas entre a chegada e a partida do voo
para Lisboa, na imensidão do Charles de Gaulle. Nada, entretanto, que viajantes
experimentados em conexões apertadas não fossem capazes de administrar.
A primeira sensação de que
algo não estava bem foi logo à entrada do terminal 2. A esta altura, enormes
filas formavam-se onde não era suposto sequer existirem. Controles minuciosos
de bagagem e de documentação engasgavam a movimentação usualmente frenética do
grande aeroporto, como que petrificando-a no silêncio de longos compassos de espera.
Nesse momento, a França fechava seu espaço aéreo e suspendia o Acordo Schengen,
praticamente erguendo um muro em suas fronteiras. Foi por milagre que
conseguimos, quase sem fôlego, pegar o avião para Portugal. E, então, entender
a dimensão da tragédia que ferira a cidade que, há menos de um mês, nos
aconchegara num belo fim de semana outonal.
Já muito escrevi neste blog sobre violência religiosa, sobre o
mistério paradoxal que não consegue explicar como as diversas crenças, cuja
filosofia central assenta-se na prática do bem e da compaixão, foram, durante a
longa história da humanidade, as maiores responsáveis pela intolerância, pelos
conflitos e pelas guerras. E, em pleno século XXI, a leitura radical dos
códigos sagrados de um desses credos está transformado-se numa evocação
sangrenta. A virulência do braço armado do ISIS, absolvido pelo silêncio
praticado pelos dirigentes do mundo árabe, não deixa dúvidas. O Islã
levanta-se.
E já foram coincidências demais para desqualificar
esta afirmação como um surto paranoico da teoria da conspiração. É muito
estranho que, de repente, uma disputa intestina na Síria se transforme em palco
central de uma queda de braço que traz reminiscências da Guerra Fria. Que a
política de preços da Arábia Saudita leve à penúria os grandes exportadores
ocidentais de petróleo. Que a decantada Primavera Árabe tenha-se transformado
num deserto árido de disputas tribais. Que uma onda de refugiados nunca vista
desde a Segunda Guerra Mundial tenha despejado em solo europeu mais de um milhão
de muçulmanos da África Setentrional e do Oriente Médio. Podem ser movimentos
autônomos, sem conexão entre eles? Podem. Pode ser tudo parte de uma grande
estratégia? Também pode.
O que vi no Aeroporto
Charles de Gaulle foi uma França assustada. E foram necessários apenas seis
jovens kamikazes, a maioria deles
islamitas com cidadania francesa, para fazer Paris dobrar os joelhos e levar o
pânico de Londres a Roma. O Daesh anuncia que, infiltrados nas hordas de
migrantes recolhidas nos últimos meses, 4.000 “soldados” do ISIS penetraram no
continente europeu. É de tirar o sono.
Oswaldo Pereira
Novembro
2015
Tenho conseguido vencer o medo e o horror pela humanidade, e a insônia eventual com poucos minutos de meditação durante a madrugada. E mágico! E a ciencia ja comeca a admitir que a prática milenar no oriente e na Índia, consegue reconfigurar alguma áreas do cérebro. Seu texto e otimo. Firme e coeso. Abç
ResponderExcluirNamastê! Esvaziar a mente ao som de um mantra. Ômmmm.... Como é difícil fazê-lo...
ExcluirImportante é a introspecção e a liberdade dela advinda. Até para guerreiros. O décor, os floreios, são firula.
ResponderExcluirOlá Oswaldo
ResponderExcluirè o começo de uma grande guerra onde de um lado estará o mundo Cristão e do outro lado o Islamismo.
O que podemos fazer?
Att
Emilio
Enfrentar. Só que é difícil lutar contra inimigos cuja noção de felicidade suprema é explodir-se em nome da fé... A solução é ir às origens e tentar eliminar os que comandam esta pregação extremada do Corão. Aí, talvez haja paz. Talvez...
ExcluirImagina sair da India e chega na França naquele dia, triste dia. Seu texto nos informa bem sobre aquele país que não conheço, tem maravilhas, diferenças enormes de nosso mundo mas uma cultura belisima. E exótica para nossos olhos, peculiar e bela.
ResponderExcluirDiferente de tudo o que já vi, a Índia é ao mesmo tempo mistério e lição. E seriam precisos vários meses lá para entender ambos...
ExcluirE eu que perdi o avião! Naquela correria perdi-vos de vista- Se não fosse o Zé Luís não sei que seria de mim - senti-me tão velha.
ResponderExcluirDepois da Índia, os meu olhos vêm as coisas de maneira diferente, e obviamente as sensações tb não são iguais.