quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CIDADES QUE DÃO MÚSICA IV





PARIS


“Paris sera toujours Paris
La plus belle ville du monde”
Paris Sera Toujours Paris. Casimir Oberfeld, 1939.

“Paris será sempre Paris, a cidade mais linda do mundo”.

LA SAINTE CHAPELLE
Por volta de 250 a.C., uma tribo celta considerou o lugar adequado para armar as suas tendas. Uma ilha convenientemente situada no meio do rio, o que encurtava sua travessia para ambas as margens. Água com fartura, mobilidade assegurada pela veloz correnteza, terra fértil. Assim, no que hoje se conhece como L’Île de la Cité, os parisinos resolveram ficar. Não sabiam, mas estavam escrevendo o primeiro capítulo da crônica de uma das mais fantásticas cidades do mundo. Os volumes seguintes seriam compostos por romanos, gauleses, francos, alemanes, vikings. Pelas guerras, pelas pestes, pelas ocupações, pelas guilhotinas, pelas revoluções. Mas também pela fé, pela arquitetura, pelas artes, pelo triunfo, pela cultura, pelo Iluminismo, pela cuisine, pelas luzes. E pela música.

PARIS NO SÉCULO XIII














“Y’a la Seine, a n’importe quelle heure
Elle a ses visiteurs qui la regarde dans les yeux
Ce sont ses amoureux, à la Seine”
A Paris. Francis Lemarque, 1949.

“E há o Sena, não importa a hora ele tem seus visitantes que o olham nos olhos. São seus apaixonados, do Sena”.

Amor e Paris sempre andaram juntos. Românticos, eles vão de mãos dadas pelas margens do rio, pelas ruas de Montmartre, olham-se apaixonadamente através das velas num charmoso bistrô de Saint-Germain, beijam-se em doce abandono num banco do Jardim das Tuileries. Ardentes, acendem o pecado na efervescência de Pigalle, debaixo das árvores do Bois de Boulogne, no bas-fond dos cabarés, nos palcos do can-can. Eternos, eles atravessam o tempo nas alcovas da Idade Média, nos salões da Renascença, na corte dos luízes, nos palácios do Império, nas casas senhoriais da República, nos teatros da Belle Époque, nos porões da Résistance. Qualquer estação do ano. Com qualquer humor do tempo. Amor e Paris continuam andando juntos.


“Et le monde tremble quand Paris est en danger
Et le monde chante quand Paris s’est liberé”
Paris est en Colère. Maurice Vidalin/Maurice Jarre, 1966.

“E o mundo treme quando Paris está em perigo. E o mundo canta quando Paris se liberta”.

PARIS SOB OCUPAÇÃO ALEMÃ
Foram muitas as invasões. Desde quando o general romano Titus Labenius derrotou os gauleses, Paris se viu subjugada pelo inimigo várias vezes. Ou em perigo mortal, como na Primeira Grande Guerra, em que as tropas francesas foram para o front nos táxis da cidade. O revés mais duro, entretanto, aconteceu em maio de 1940, quando os vitoriosos soldados da Wehrmacht alemã marcharam em triunfo pelos Champs Elysés. Paris viveria quatro longos anos sob a ocupação nazista, engolindo seu orgulho, tentando conviver com uma sufocante opressão, chorando em silêncio. Mas, ao mesmo tempo, cozinhando sua libertação nos subterrâneos, nas caves, na coragem visceral dos maquis, dos partisans, de uma juventude que, em agosto de 1944, faria a cidade reencontrar-se com a liberdade.

“Sweet mirrored illusions, in an old mirrored bed
In a hotel in Paris, wishing time wasn’t dead”
Paris at 21. Peter Allen, 1979.

“Doces ilusões no espelho, numa cama espelhada, num hotel em Paris, desejando que o tempo não estivesse morto”.

JOSEPHINE BAKER. PARIS ANOS 1920
Desde o dia em que o Rei Luís IX trouxe as relíquias da paixão de Cristo para a Sainte Chapelle, no século XIII, Paris sempre foi o epicentro europeu dos movimentos culturais de vanguarda. Foi assim na religiosidade do gótico, no esplendor de Versailles, no grito da Marseillaise, no clímax de Napoleão, nos ateliers do fin-du-siècle. E, principalmente, no período compreendido entre as duas guerras mundiais do século passado. Como um ímã irresistível, a cidade atraiu o melhor da força criativa da pintura, da música, da literatura, do pensamento e Picasso, Chagal, Modigliani, Dali, Chevalier, Hemingway, Fitzgerald, Miller, Porter, entre uma legião de outros membros da Lost Generation (A Geração Perdida), vieram explodir seu talento inovador nos cafés de Montmartre e de Saint-Germain-des-Prés. Mudaram o mundo. Para melhor.

“Sous le ciel de Paris s’envole une chanson
Elle est née d’aujourd’hui dans le coeur d’un garçon”
Sous le Ciel de Paris. Hubert Giraud/Jean Dréjac, 1951.

“Sob o céu de Paris, uma canção flutua, ela nasceu hoje no coração de um menino”.


A Torre Eiffel que se ilumina às sete da noite. Um bateau mouche que singra solene as ondas do Sena. As folhas de outono pintando de amarelo-torrado a relva ainda verde do Jardin de Luxembourg. A Sacré Coeur recebendo os últimos raios de sol no alto de sua colina. Paris é isto. E mais. São os ventos da sua história, os ecos de sua desdita e de sua glória, a imagem inimitável de uma cidade que vive, e viverá sempre, no coração e no imaginário de todos nós.



Oswaldo Pereira
Outubro 2015

PS.: Esta é a quarta crônica da série “Cidades que Dão Música”. As outras três foram San Francisco, Lisboa e Rio. Se quiser relê-las, é só clicar nos links abaixo.

http://obpereira.blogspot.pt/2012/05/cidades-que-dao-musica-1.html


http://obpereira.blogspot.pt/2013/10/cidades-que-dao-musica-2.html

http://obpereira.blogspot.pt/2014/11/cidades-que-dao-musica-iii.html

17 comentários:

  1. Fui pouco a Paris .. mas fui!!
    Bela ode!

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    1. A cidade merece, isto e muito mais. E sempre vale a pena ir lá, nem que seja para um croque monsieur e um conhaque no Les Deux Magots...

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  2. Paris c'est comme un jour............cá s'en vá, cá s'en vá l'amour.......

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  3. Que pena........o Snr. Google não me deixa escrever a frase corretamente.....c'est la vie

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  4. Brilhante cronica sobre a historia que, tambem, ilumina a Cidade Luz!
    O brilho da sua escrita, nao lhe fica atras!
    Abraco

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  5. Bela crônica para uma bela cidade, inesquecível. Leve, musical, adorável, respira arte.
    Abr.,Cleusa.

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    1. Paris é sempre uma inspiração inesgotável.. Não há como resistir à vontade de cantá-la...

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  6. Parabéns Querido Primo!
    Parabéns pela belíssima crônica e parabéns pelo 17 de outubro! "Peraí", como sempre não estou bem certo se é 17, sei porém e não me esqueço, que é por perto.
    Abraços,
    Geraldo

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    1. Acertou em cheio! Parabéns para os seus neurônios... sempre bem conservados, é claro. Obrigado!

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  7. Tem um livro ótimo do Vila Matas.
    Paris não tem fim. Protagonistas como Mme Duras, Ernst Heminguay, M. Duchamps, Roland Barthes e outros mais, além do pp autor circulando pela cidade e pela ficção com pura mestria. Formidable !

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    1. Vou tentar achar. Enquanto isso, vou revendo o gostoso filme do Woody Allen sobre a cidade...

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  8. Tem um livro ótimo do Vila Matas.
    Paris não tem fim. Protagonistas como Mme Duras, Ernst Heminguay, M. Duchamps, Roland Barthes e outros mais, além do pp autor circulando pela cidade e pela ficção com pura mestria. Formidable !

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  9. Como cantava Josephine Baker, de Madeleine Peyroux ...

    "J'ai deux amours
    Mon pays et Paris
    Par eux toujours
    Mon coeur est ravi ..."

    Acaba sendo o meu caso !
    Lady Fifi

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    1. Não há quem não ame Paris. Até o Cole Porter não deixou por menos, quando compôs "I Love Paris".

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  10. Ola Oswaldo
    Belo relato sobre as cidades que dao Musica.
    Seu relato tem farto material histórico e junta todas os atributos e predicados dessa bela cidade
    Eu estive uma vez só e fiquei extasiado.
    Já programei retornar a Paris com a minha companheira Tania em 2016, porém, antes passando por Portugal.
    Lembrando a ocupação alemã e a invasão dos aliados, foram célebres os versos "Les sanglots longs, Des violons De l'automne, Blessent mon coeur, Dúne languer, Monotone. " usadas como código para iniciar a invasão no célebre dia D . Este poema de Verlaine e Rimbaud inspirou a composição de músicas de Charles Trenet e Léo Ferré.
    Abraços
    Emilio
    Emilio Telleria

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