PARIS
“Paris sera toujours Paris
La plus belle ville du monde”
Paris
Sera Toujours Paris. Casimir Oberfeld,
1939.
“Paris será sempre
Paris, a cidade mais linda do mundo”.
LA SAINTE CHAPELLE |
Por
volta de 250 a.C., uma tribo celta considerou o lugar adequado para armar as
suas tendas. Uma ilha convenientemente situada no meio do rio, o que encurtava
sua travessia para ambas as margens. Água com fartura, mobilidade assegurada
pela veloz correnteza, terra fértil. Assim, no que hoje se conhece como L’Île de la Cité, os parisinos resolveram ficar. Não sabiam,
mas estavam escrevendo o primeiro capítulo da crônica de uma das mais
fantásticas cidades do mundo. Os volumes seguintes seriam compostos por romanos,
gauleses, francos, alemanes, vikings. Pelas guerras, pelas pestes, pelas
ocupações, pelas guilhotinas, pelas revoluções. Mas também pela fé, pela
arquitetura, pelas artes, pelo triunfo, pela cultura, pelo Iluminismo, pela cuisine, pelas luzes. E pela música.
PARIS NO SÉCULO XIII |
“Y’a la Seine, a
n’importe quelle heure
Elle a ses
visiteurs qui la regarde dans les yeux
Ce sont ses
amoureux, à la Seine”
A
Paris. Francis Lemarque, 1949.
“E há o Sena, não
importa a hora ele tem seus visitantes que o olham nos olhos. São seus apaixonados,
do Sena”.
Amor
e Paris sempre andaram juntos. Românticos, eles vão de mãos dadas pelas margens
do rio, pelas ruas de Montmartre, olham-se apaixonadamente através das velas
num charmoso bistrô de Saint-Germain, beijam-se em doce abandono num banco do
Jardim das Tuileries. Ardentes,
acendem o pecado na efervescência de Pigalle, debaixo das árvores do Bois de Boulogne, no bas-fond dos cabarés, nos palcos do can-can. Eternos, eles atravessam o
tempo nas alcovas da Idade Média, nos salões da Renascença, na corte dos luízes, nos palácios do Império, nas casas senhoriais da República, nos teatros
da Belle Époque, nos porões da Résistance.
Qualquer estação do ano. Com qualquer humor do tempo. Amor e Paris
continuam andando juntos.
“Et le monde tremble quand Paris est en danger
Et le monde chante quand Paris s’est liberé”
Paris est en
Colère. Maurice Vidalin/Maurice Jarre, 1966.
“E o mundo treme
quando Paris está em perigo. E o mundo canta quando Paris se liberta”.
PARIS SOB OCUPAÇÃO ALEMÃ |
Foram
muitas as invasões. Desde quando o general romano Titus Labenius derrotou os
gauleses, Paris se viu subjugada pelo inimigo várias vezes. Ou em perigo
mortal, como na Primeira Grande Guerra, em que as tropas francesas foram para o
front nos táxis da cidade. O revés mais duro, entretanto,
aconteceu em maio de 1940, quando os vitoriosos soldados da Wehrmacht alemã marcharam em triunfo
pelos Champs Elysés. Paris viveria
quatro longos anos sob a ocupação nazista, engolindo seu orgulho, tentando
conviver com uma sufocante opressão, chorando em silêncio. Mas, ao mesmo tempo,
cozinhando sua libertação nos subterrâneos, nas caves, na coragem visceral dos maquis,
dos partisans, de uma juventude
que, em agosto de 1944, faria a cidade reencontrar-se com a liberdade.
“Sweet mirrored illusions, in an old mirrored bed
In a hotel in Paris, wishing time wasn’t dead”
Paris
at 21. Peter Allen, 1979.
“Doces ilusões no
espelho, numa cama espelhada, num hotel em Paris, desejando que o tempo não
estivesse morto”.
JOSEPHINE BAKER. PARIS ANOS 1920 |
Desde
o dia em que o Rei Luís IX trouxe as relíquias da paixão de Cristo para a Sainte Chapelle, no século XIII, Paris
sempre foi o epicentro europeu dos movimentos culturais de vanguarda. Foi assim
na religiosidade do gótico, no esplendor de Versailles, no grito da Marseillaise, no clímax de Napoleão, nos
ateliers do fin-du-siècle. E, principalmente, no período compreendido entre as
duas guerras mundiais do século passado. Como um ímã irresistível, a cidade
atraiu o melhor da força criativa da pintura, da música, da literatura, do
pensamento e Picasso, Chagal, Modigliani, Dali, Chevalier, Hemingway,
Fitzgerald, Miller, Porter, entre uma legião de outros membros da Lost Generation (A Geração Perdida), vieram explodir seu talento
inovador nos cafés de Montmartre e de Saint-Germain-des-Prés. Mudaram o mundo.
Para melhor.
“Sous le ciel de
Paris s’envole une chanson
Elle est née
d’aujourd’hui dans le coeur d’un garçon”
Sous
le Ciel de Paris. Hubert Giraud/Jean
Dréjac, 1951.
“Sob o céu de
Paris, uma canção flutua, ela nasceu hoje no coração de um menino”.
A
Torre Eiffel que se ilumina às sete da noite. Um bateau mouche que singra solene as ondas do Sena. As folhas de
outono pintando de amarelo-torrado a relva ainda verde do Jardin de Luxembourg. A Sacré
Coeur recebendo os últimos raios de sol no alto de sua colina. Paris é
isto. E mais. São os ventos da sua história, os ecos de sua desdita e de sua
glória, a imagem inimitável de uma cidade que vive, e viverá sempre, no coração
e no imaginário de todos nós.
Oswaldo Pereira
Outubro 2015
PS.: Esta é a quarta crônica da série “Cidades
que Dão Música”. As outras três foram San Francisco, Lisboa e Rio. Se quiser
relê-las, é só clicar nos links abaixo.
http://obpereira.blogspot.pt/2012/05/cidades-que-dao-musica-1.html
http://obpereira.blogspot.pt/2013/10/cidades-que-dao-musica-2.html
http://obpereira.blogspot.pt/2014/11/cidades-que-dao-musica-iii.html
Fui pouco a Paris .. mas fui!!
ResponderExcluirBela ode!
A cidade merece, isto e muito mais. E sempre vale a pena ir lá, nem que seja para um croque monsieur e um conhaque no Les Deux Magots...
ExcluirParis c'est comme un jour............cá s'en vá, cá s'en vá l'amour.......
ResponderExcluirQue pena........o Snr. Google não me deixa escrever a frase corretamente.....c'est la vie
ResponderExcluirMas deu para entender... l'amour à Paris... Ou-là-là...
ExcluirBrilhante cronica sobre a historia que, tambem, ilumina a Cidade Luz!
ResponderExcluirO brilho da sua escrita, nao lhe fica atras!
Abraco
Obrigado, amigo Zé. Sempre vale a pena ir a Paris...
ExcluirBela crônica para uma bela cidade, inesquecível. Leve, musical, adorável, respira arte.
ResponderExcluirAbr.,Cleusa.
Paris é sempre uma inspiração inesgotável.. Não há como resistir à vontade de cantá-la...
ExcluirParabéns Querido Primo!
ResponderExcluirParabéns pela belíssima crônica e parabéns pelo 17 de outubro! "Peraí", como sempre não estou bem certo se é 17, sei porém e não me esqueço, que é por perto.
Abraços,
Geraldo
Acertou em cheio! Parabéns para os seus neurônios... sempre bem conservados, é claro. Obrigado!
ExcluirTem um livro ótimo do Vila Matas.
ResponderExcluirParis não tem fim. Protagonistas como Mme Duras, Ernst Heminguay, M. Duchamps, Roland Barthes e outros mais, além do pp autor circulando pela cidade e pela ficção com pura mestria. Formidable !
Vou tentar achar. Enquanto isso, vou revendo o gostoso filme do Woody Allen sobre a cidade...
ExcluirTem um livro ótimo do Vila Matas.
ResponderExcluirParis não tem fim. Protagonistas como Mme Duras, Ernst Heminguay, M. Duchamps, Roland Barthes e outros mais, além do pp autor circulando pela cidade e pela ficção com pura mestria. Formidable !
Como cantava Josephine Baker, de Madeleine Peyroux ...
ResponderExcluir"J'ai deux amours
Mon pays et Paris
Par eux toujours
Mon coeur est ravi ..."
Acaba sendo o meu caso !
Lady Fifi
Não há quem não ame Paris. Até o Cole Porter não deixou por menos, quando compôs "I Love Paris".
ExcluirOla Oswaldo
ResponderExcluirBelo relato sobre as cidades que dao Musica.
Seu relato tem farto material histórico e junta todas os atributos e predicados dessa bela cidade
Eu estive uma vez só e fiquei extasiado.
Já programei retornar a Paris com a minha companheira Tania em 2016, porém, antes passando por Portugal.
Lembrando a ocupação alemã e a invasão dos aliados, foram célebres os versos "Les sanglots longs, Des violons De l'automne, Blessent mon coeur, Dúne languer, Monotone. " usadas como código para iniciar a invasão no célebre dia D . Este poema de Verlaine e Rimbaud inspirou a composição de músicas de Charles Trenet e Léo Ferré.
Abraços
Emilio
Emilio Telleria