terça-feira, 13 de outubro de 2015

ÁGUAS DE MARTE




Quatro bilhões de anos atrás. Um grande oceano, com profundidades que chegam a 1,5 quilômetro, ocupa um quinto da superfície do planeta. Água em abundância. O planeta tem tudo para suportar ao menos uma rudimentar forma de vida. Talvez até mais do que isso.

Mas o planeta não é muito grande e a força de sua gravidade não consegue segurar a evaporação daquele imenso reservatório. Sua tênue atmosfera não o consegue proteger do bombardeio incessante da chuva de prótons que vem do sol e, lenta mas inexoravelmente, o precioso líquido, que colore de azul o vermelho de seu solo, vai desparecendo no espaço.

Se vida realmente houvesse, e se inteligente ela fosse, o cenário seria desolador. A seca mortal, a perda da esperança, a extinção completa.

Esta visão apocalíptica ganhou contornos mais nítidos recentemente, quando os grandes telescópios situados nos Havaí e no Chile confirmaram que Marte tem mais água do que se pensava e que pode ter abrigado pelo menos dois grandes oceanos num remoto passado. Os cinco desengonçados veículos que já desceram no chão do planeta encarnado haviam detetado vários indícios da sua infância aquosa. Agora, novos dados vêm confirmar que, no interior de alguns desfiladeiros e, principalmente, no subsolo, existem placas de gelo do tamanho dos estados americanos da Califórnia e do Texas somados. Além disso, as calotas polares, nossas conhecidas desde que Galileu apontou o seu primeiro telescópio para o céu, têm 3 quilômetros de espessura. Se derretessem, inundariam toda a superfície de Marte com uma maré de 5,6 metros de fundura. São os vestígios que contam a história de um planeta que pode ter sido uma das apostas da criação, perdida quando a água desapareceu no vazio e seus resquícios congelaram-se para sempre.


Na equação dos elementos químicos que formam tudo o que existe no universo, água é igual a vida. Assim, é uma quase certeza inferir que o nosso vizinho planetário pode ter abrigado alguma variação, mesmo bacteriana ou microscópica, de vida. E isto é o que a missão prevista para 2033, a primeira a enviar astronautas a Marte, pretende averiguar.

Na Terra tem-se falado muito em água. Com preocupações diversas. Embora os mares cubram ¾ da nossa querida esfera azul, o crescimento exponencial da poluição oceânica já levanta as sobrancelhas de ecologistas e oceanógrafos. Mas, quando o assunto é água potável, a luz vermelha já se acendeu na maioria dos gabinetes dedicados ao meio ambiente em todo o mundo. Do jeito que a coisa vai, vamos terminar o presente século tendo de economizar cada gota dos mananciais e aquíferos que nos abastecem para a agricultura, para o saneamento, para energia. E para beber. Há sempre a saída de dessanilizar as águas do mar. Mas, o custo...

Então, quando estiverem hoje tomando aquele demorado banho de chuveiro, pensem em Marte...

Oswaldo Pereira
Outubro 2015

  

3 comentários:

  1. Essa possibilidade de nossa linda Terra terminar como Marte dá arrepios.

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    1. Se em nós dá arrepios, imagine em nossos netos e bisnetos, que poderão ter de conviver com esta amarga realidade...

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  2. O brasileiro não acredita que em futuro não muito remoto, a água será uma preciosidade e a economia do precioso líquido tem que começar ontem. Na região do Sul de Minas os rios já mostram mais pedras do que água. O povo tem que colaborar, rápido. Abraço do Thomaz.

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