terça-feira, 27 de outubro de 2015

DUELO NA TARDE



Tudo aconteceu em trinta segundos. Em meio minuto, 35 tiros foram disparados. Quando a fumaça das armas se dissipou, três feridos sangravam e outros três homens estavam mortos, emborcados na poeira amarela do chão de Tombstone. Vinte e seis de outubro de 1881, três horas da tarde. Numa época de tiroteios, acabara de chegar ao fim o mais famoso confronto do Velho Oeste americano, que só passaria a ser chamado de Gunfight at the OK Corral cinquenta anos depois, com a publicação do livro “Wyatt Earp: Frontier Marshall” de Stuart Lake.

A rigor, o celebrado duelo entre os irmãos Earp e os fora-da-lei ocorreu num exíguo beco da rua Freemont, em frente a um estúdio fotográfico, a uns vinte metros da traseira do curral O.K. No momento em que os disparos tiveram início, a distância entre os adversários era inferior a três metros. E foi apenas mais um capítulo da história de rivalidade entre a família de delegados e o bando de cowboys liderados por Johnny Ringo (que não estava na cidade no fatídico dia). A disputa começara meses antes, entre ameaças dos bandidos e ações duras dos xerifes, e continuaria depois, com mais mortes e prisões.


TOMBSTONE EM 1881
Tombstone (o nome já diz tudo: pedra tumular) foi mais uma cidade-cogumelo das centenas que surgiram nos territórios do sudoeste americano, nos anos seguintes à Guerra Civil. Nascidas literalmente do nada a partir da descoberta do veio de algum mineral precioso, atraíam o que havia de pior da sociedade, gente que estava disposta a arriscar tudo por tudo, no sonho de enriquecer rapidamente. Aventureiros, ladrões, contrabandistas vinham de todo o lado, trazendo atrás de si um séquito de jogadores, prostitutas e aproveitadores como efeito colateral. A lei, entretanto, só chegava depois, e os policiais tinham de ser rápidos no gatilho para poder enfrentar as gangues de pistoleiros a serviço dos recém-empossados reis do crime.

No caso de Tombstone, foi a prata. Surgida num pequeno planalto no Condado de Pina, Território do Arizona, em 1879 e ocupada por 100 habitantes, dois anos depois  a vila já abrigava 7.000 pessoas, alguns bons restaurantes, um boliche, 4 igrejas, 1 escola, 2 bancos, 3 jornais, um teatro e uma sorveteria. E 110 saloons, 14 casas de jogo e muitos bordéis. Um caldo de interesses humanos diversos. E foi para dentro deste panelão fervente que Virgil Earp viu-se lançado quando recebeu a nomeação de Town Marshall (Delegado Municipal), em 1880. Como a família era muito unida, seus irmãos Morgan, Warren e Wyatt, suas esposas e filhos, decidiram ir junto. Na esteira, outro personagem famoso, o dentista John Henry “Doc” Holliday, amigo pessoal de Wyatt, também aderiu.

A fervura do panelão era atiçada pela rivalidade entre fazendeiros e negociantes, de um lado, e ladrões e contrabandistas de gado, conhecidos como Cowboys (o termo na época era pejorativo e equivalente a bandido. Os vaqueiros do bem eram chamados de cattle ranchers ou cattle herders) do outro. A proximidade da fronteira com o México (48 km) complicava mais as coisas para uma ação efetiva da lei. Mas os irmãos Earp não estavam para brincadeiras. Logo à chegada, Virgil promulgou uma postura municipal proibindo o porte de armas dentro do perímetro urbano.

E isto foi o estopim para o histórico duelo. 

Na manhã do dia 26 de outubro, alguns entreveros já haviam ocorrido entre os futuros adversários, com promessas de retaliação de parte a parte. No começo da tarde, as coisas se agravaram. Perto das três, alguns moradores vieram avisar Virgil que os irmãos Clanton (Ike e Billy), os McLaury (Tom e Frank) e Billy Clayborne, todos cowboys do grupo de Ringo, estavam concentrados perto da pousada onde Doc Holliday alugara um quarto e que, possivelmente, estavam armados. O dentista, alertado por Virgil, concluiu que os bandidos estavam ali para matá-lo. O xerife Earp resolveu então chamar os irmãos Wyatt e Morgan, que já haviam sido nomeados deputies (delegados auxilares), deu uma estrela também a Holliday e, juntos, rumaram para a rua Freemont, com o objetivo de recolher as armas dos infratores e autuá-los.

WYATT EARP E "DOC" HOLLIDAY

Como qualquer fato histórico que se preze, há várias versões do tiroteio. Há até quem diga que os cowboys renderam-se assim que os Earp apareceram e que foi assassinato a sangue frio. A verdade “mais provável”, entretanto, é a que consta dos autos do julgamento do caso e que foi corroborada por vários estudiosos do assunto. Ike Clanton e Billy Clayborne estavam realmente desarmados e fugiram ilesos do confronto. Os outros abriram fogo ao mesmo tempo que os irmãos Earp e Doc Holliday. Doc acertou Tom McLaury no peito, feriu Billy Clanton e acabou sendo salvo quando uma bala disparada por Billy acertou no seu coldre e atingiu-o apenas superficialmente. Virgil foi logo ferido no tornozelo, mas continuou atirando. Morgan recebeu uma bala no ombro e ficou momentaneamente fora de combate. Wyatt cool as a cucumber (frio como um penino, nos dizeres de um cronista da época) continuou de pé disparando seu Smith & Wesson .44 até liquidar Clanton e Frank McLaury. Trinta segundos.

DIAGRAMA DO TIROTEIO, BASEADO NOS AUTOS

A PRIMEIRA NOTÍCIA
Desde o seu primeiro relato nos jornais do Arizona, o Tiroteio no Curral OK já foi tema de centenas de artigos, estudos e livros. Em 1955, a rede ABC americana produziu a série televisiva “The Life and Legend of Wyatt Earp”, com Hugh O’Brien no papel-título. Só no cinema, já foram cinco versões. Há dias, eu e o Wilson Salazar, um grande amigo, também aficionado dos filmes de bang-bang, as estivemos recordando. São elas.


TOMBSTONE – THE TOWN TOO TOUGH TO DIE (1942)
MY DARLING CLEMENTINE (1946)
GUNFIGHT AT THE OK CORRAL (1957)
TOMBSTONE (1993)
WATT EARP (1994)

Nomes consagrados da telona se revesaram nos papeis de Wyatt (Richard Dix, Henry Fonda, Burt Lancaster, Kurt Russell, Kevin Costner) e de Holliday (Kent Taylor, Victor Mature, Kirk Douglas, Val Kilmer, Dennis Quaid). Com imagens e maneirismos diferentes, todos eles contribuíram para manter viva a eterna fama de duas das figuras maiores de uma época lendária.  






















Oswaldo Pereira
Outubro 2015

PS.: O blog e este blogueiro vão dar férias a vocês, queridos leitores! Durante os próximos 20 dias, vocês poderão gozar a merecida paz de não serem importunados por este escriba...


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CIDADES QUE DÃO MÚSICA IV





PARIS


“Paris sera toujours Paris
La plus belle ville du monde”
Paris Sera Toujours Paris. Casimir Oberfeld, 1939.

“Paris será sempre Paris, a cidade mais linda do mundo”.

LA SAINTE CHAPELLE
Por volta de 250 a.C., uma tribo celta considerou o lugar adequado para armar as suas tendas. Uma ilha convenientemente situada no meio do rio, o que encurtava sua travessia para ambas as margens. Água com fartura, mobilidade assegurada pela veloz correnteza, terra fértil. Assim, no que hoje se conhece como L’Île de la Cité, os parisinos resolveram ficar. Não sabiam, mas estavam escrevendo o primeiro capítulo da crônica de uma das mais fantásticas cidades do mundo. Os volumes seguintes seriam compostos por romanos, gauleses, francos, alemanes, vikings. Pelas guerras, pelas pestes, pelas ocupações, pelas guilhotinas, pelas revoluções. Mas também pela fé, pela arquitetura, pelas artes, pelo triunfo, pela cultura, pelo Iluminismo, pela cuisine, pelas luzes. E pela música.

PARIS NO SÉCULO XIII














“Y’a la Seine, a n’importe quelle heure
Elle a ses visiteurs qui la regarde dans les yeux
Ce sont ses amoureux, à la Seine”
A Paris. Francis Lemarque, 1949.

“E há o Sena, não importa a hora ele tem seus visitantes que o olham nos olhos. São seus apaixonados, do Sena”.

Amor e Paris sempre andaram juntos. Românticos, eles vão de mãos dadas pelas margens do rio, pelas ruas de Montmartre, olham-se apaixonadamente através das velas num charmoso bistrô de Saint-Germain, beijam-se em doce abandono num banco do Jardim das Tuileries. Ardentes, acendem o pecado na efervescência de Pigalle, debaixo das árvores do Bois de Boulogne, no bas-fond dos cabarés, nos palcos do can-can. Eternos, eles atravessam o tempo nas alcovas da Idade Média, nos salões da Renascença, na corte dos luízes, nos palácios do Império, nas casas senhoriais da República, nos teatros da Belle Époque, nos porões da Résistance. Qualquer estação do ano. Com qualquer humor do tempo. Amor e Paris continuam andando juntos.


“Et le monde tremble quand Paris est en danger
Et le monde chante quand Paris s’est liberé”
Paris est en Colère. Maurice Vidalin/Maurice Jarre, 1966.

“E o mundo treme quando Paris está em perigo. E o mundo canta quando Paris se liberta”.

PARIS SOB OCUPAÇÃO ALEMÃ
Foram muitas as invasões. Desde quando o general romano Titus Labenius derrotou os gauleses, Paris se viu subjugada pelo inimigo várias vezes. Ou em perigo mortal, como na Primeira Grande Guerra, em que as tropas francesas foram para o front nos táxis da cidade. O revés mais duro, entretanto, aconteceu em maio de 1940, quando os vitoriosos soldados da Wehrmacht alemã marcharam em triunfo pelos Champs Elysés. Paris viveria quatro longos anos sob a ocupação nazista, engolindo seu orgulho, tentando conviver com uma sufocante opressão, chorando em silêncio. Mas, ao mesmo tempo, cozinhando sua libertação nos subterrâneos, nas caves, na coragem visceral dos maquis, dos partisans, de uma juventude que, em agosto de 1944, faria a cidade reencontrar-se com a liberdade.

“Sweet mirrored illusions, in an old mirrored bed
In a hotel in Paris, wishing time wasn’t dead”
Paris at 21. Peter Allen, 1979.

“Doces ilusões no espelho, numa cama espelhada, num hotel em Paris, desejando que o tempo não estivesse morto”.

JOSEPHINE BAKER. PARIS ANOS 1920
Desde o dia em que o Rei Luís IX trouxe as relíquias da paixão de Cristo para a Sainte Chapelle, no século XIII, Paris sempre foi o epicentro europeu dos movimentos culturais de vanguarda. Foi assim na religiosidade do gótico, no esplendor de Versailles, no grito da Marseillaise, no clímax de Napoleão, nos ateliers do fin-du-siècle. E, principalmente, no período compreendido entre as duas guerras mundiais do século passado. Como um ímã irresistível, a cidade atraiu o melhor da força criativa da pintura, da música, da literatura, do pensamento e Picasso, Chagal, Modigliani, Dali, Chevalier, Hemingway, Fitzgerald, Miller, Porter, entre uma legião de outros membros da Lost Generation (A Geração Perdida), vieram explodir seu talento inovador nos cafés de Montmartre e de Saint-Germain-des-Prés. Mudaram o mundo. Para melhor.

“Sous le ciel de Paris s’envole une chanson
Elle est née d’aujourd’hui dans le coeur d’un garçon”
Sous le Ciel de Paris. Hubert Giraud/Jean Dréjac, 1951.

“Sob o céu de Paris, uma canção flutua, ela nasceu hoje no coração de um menino”.


A Torre Eiffel que se ilumina às sete da noite. Um bateau mouche que singra solene as ondas do Sena. As folhas de outono pintando de amarelo-torrado a relva ainda verde do Jardin de Luxembourg. A Sacré Coeur recebendo os últimos raios de sol no alto de sua colina. Paris é isto. E mais. São os ventos da sua história, os ecos de sua desdita e de sua glória, a imagem inimitável de uma cidade que vive, e viverá sempre, no coração e no imaginário de todos nós.



Oswaldo Pereira
Outubro 2015

PS.: Esta é a quarta crônica da série “Cidades que Dão Música”. As outras três foram San Francisco, Lisboa e Rio. Se quiser relê-las, é só clicar nos links abaixo.

http://obpereira.blogspot.pt/2012/05/cidades-que-dao-musica-1.html


http://obpereira.blogspot.pt/2013/10/cidades-que-dao-musica-2.html

http://obpereira.blogspot.pt/2014/11/cidades-que-dao-musica-iii.html

terça-feira, 13 de outubro de 2015

ÁGUAS DE MARTE




Quatro bilhões de anos atrás. Um grande oceano, com profundidades que chegam a 1,5 quilômetro, ocupa um quinto da superfície do planeta. Água em abundância. O planeta tem tudo para suportar ao menos uma rudimentar forma de vida. Talvez até mais do que isso.

Mas o planeta não é muito grande e a força de sua gravidade não consegue segurar a evaporação daquele imenso reservatório. Sua tênue atmosfera não o consegue proteger do bombardeio incessante da chuva de prótons que vem do sol e, lenta mas inexoravelmente, o precioso líquido, que colore de azul o vermelho de seu solo, vai desparecendo no espaço.

Se vida realmente houvesse, e se inteligente ela fosse, o cenário seria desolador. A seca mortal, a perda da esperança, a extinção completa.

Esta visão apocalíptica ganhou contornos mais nítidos recentemente, quando os grandes telescópios situados nos Havaí e no Chile confirmaram que Marte tem mais água do que se pensava e que pode ter abrigado pelo menos dois grandes oceanos num remoto passado. Os cinco desengonçados veículos que já desceram no chão do planeta encarnado haviam detetado vários indícios da sua infância aquosa. Agora, novos dados vêm confirmar que, no interior de alguns desfiladeiros e, principalmente, no subsolo, existem placas de gelo do tamanho dos estados americanos da Califórnia e do Texas somados. Além disso, as calotas polares, nossas conhecidas desde que Galileu apontou o seu primeiro telescópio para o céu, têm 3 quilômetros de espessura. Se derretessem, inundariam toda a superfície de Marte com uma maré de 5,6 metros de fundura. São os vestígios que contam a história de um planeta que pode ter sido uma das apostas da criação, perdida quando a água desapareceu no vazio e seus resquícios congelaram-se para sempre.


Na equação dos elementos químicos que formam tudo o que existe no universo, água é igual a vida. Assim, é uma quase certeza inferir que o nosso vizinho planetário pode ter abrigado alguma variação, mesmo bacteriana ou microscópica, de vida. E isto é o que a missão prevista para 2033, a primeira a enviar astronautas a Marte, pretende averiguar.

Na Terra tem-se falado muito em água. Com preocupações diversas. Embora os mares cubram ¾ da nossa querida esfera azul, o crescimento exponencial da poluição oceânica já levanta as sobrancelhas de ecologistas e oceanógrafos. Mas, quando o assunto é água potável, a luz vermelha já se acendeu na maioria dos gabinetes dedicados ao meio ambiente em todo o mundo. Do jeito que a coisa vai, vamos terminar o presente século tendo de economizar cada gota dos mananciais e aquíferos que nos abastecem para a agricultura, para o saneamento, para energia. E para beber. Há sempre a saída de dessanilizar as águas do mar. Mas, o custo...

Então, quando estiverem hoje tomando aquele demorado banho de chuveiro, pensem em Marte...

Oswaldo Pereira
Outubro 2015

  

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

DE VOLTA AO PRESENTE





“Para mim, filmar as cenas de futuro foi a parte menos prazerosa de toda a trilogia, porque eu realmente não gosto de filmes que tentam predizer o amanhã. As únicas que eu efetivamente apreciei foram as realizadas por Stanley Kubrick, e mesmo ele não previu o PC quando fez Laranja Mecânica. Assim, ao invés de fazer uma predição cientificamente sólida, em que, de qualquer maneira, estaríamos provavelmente errados, resolvemos fazê-la apenas engraçada.”

Isto foi o que Robert Zemeckis, diretor dos três Back to the Future, disse logo após o lançamento do segundo capítulo da famosa trilogia. O roteirista Bob Gale acrescentou. “Nós sabíamos que não iriam existir carros voadores em 2015, mas, por Deus, nós tínhamos de tê-los no filme.”


Ao se aproximar o Back to the Future Day, a data escolhida pelos dois cineastas para enviar Marty McFly e Doc Brown ao futuro, tornou-se um divertido passatempo comparar o mundo visualizado por eles com a realidade do presente. Pranchas de skate voadoras, sapatos que se amarram sozinhos, casacos que se enxugam automaticamente, apesar de terem sido até patenteados por causa do filme, não sobreviveram às dificuldades técnicas e comerciais para se tornarem reais. Algumas coisas verdadeiramente aconteceram, como o aumento da influência asiática nos negócios internacionais, telas planas de TV, sistemas de comunicação tipo Skype, mas elas eram adivinhações de certo modo lógicas em 1989, quando o filme foi realizado. E o Tubarão 19, bem... acho que não chegou nem ao 3.




A história cinematográfica está cheia de tentativas de se prever o futuro. É disto que todo um gênero, o SciFi Movies, ou o cinema de ficção, trata. O problema é que aqueles que jogaram para milênios à frente o ambiente de sua imaginação deram-se bem. Por enquanto. Mas os que atiraram curto e viram suas datas serem ultrapassadas pela marcha do calendário, foram cruelmente desmentidos. Nesta categoria estão até mesmo obras-primas como Metropolis, que imagina um planeta distópico no ano 2000 ou 2001 – Uma Odisseia no Espaço, com sua parábola de um novo renascimento da espécie humana (nesta, o avião orbital que leva o personagem Heywood Floyd até a estação espacial ostenta o emblema da PanAm, que fechou suas portas na década de 1980).

Aliás, a característica dominante da ficção científica no século XX foi a aposta nas viagens interplanetárias e no contato com civilizações extra-terrestres, desde o revolucionário (para a época) Viagem à Lua, de George Méliès, filmado em 1902, até à cultuada franchise do Guerra nas Estrelas. Bandas desenhadas da época de ouro dos quadrinhos, como Flash Gordon e Brick Bradford, também povoavam a imaginação dos seus leitores com incríveis aventuras nas profundezas das galáxias. Recentemente, o enfoque mudou para cenários que preferem adivinhar o porvir da Terra, restringindo seu horizonte criativo às tribulações do amanhã do nosso querido planeta, como o denso Blade Runner ou os amargos Mad Max.

"VIAGEM À LUA" (1902)














Imaginar o futuro é uma tentação. Eu mesmo me rendi ao pecado e escrevi um conto futurista a que dei o título de O Einstein de Hitler. (para os que se interessarem, está no livro “Destinos & Origens”, logo aí ao lado. É só clicar na capa que ele abre). O problema é que sempre partimos da realidade que conhecemos, o que já  compromete, e limita, a expansão da nossa criatividade. 


Como bem disse Zemeckis, nem Kubrick previu o PC. E ninguém foi capaz de predizer as duas invenções que mais mudaram o dia-a-dia do ser humano nos tempos atuais. A telefonia celular e a Internet.



Oswaldo Pereira

Outubro 2015

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

DIAS NO PARAISO





Nesta praia algarvia, os últimos versos deste verão ainda estão sendo escritos. Enquanto olho para o sul, o norte europeu já tira os agasalhos e os dias começam a diminuir. Lá o sol faz menos sombras, o vento que desce das montanhas parece sussurrar a frase-tema dos contos de George Martin. Winter is coming.

Não aqui.

Aqui o dia se alarga num azul sem nuvens e a vista se perde num horizonte aberto em cuja linha um barco se equilibra, elegante, preciso, certo de seu rumo. As ondas espraiam-se com preguiça, sem pressas nem compromissos, deslizando pela areia macia. Águas cujo arrepio dura apenas o segundo que o corpo leva para se acostumar ao abraço leve do mar.

Aqui o tempo parou. A tarde parece eterna. Entre os dedos das rochas claras, a pequena e delicada enseada é um pedaço do paraíso, um poema de sal e sol, um dueto composto pelo marulhar da maré mansa e pela cantata aguda das gaivotas.

Não, meus amigos. Eu não estou sonhando. Este meu arrebatamento meio piegas não foi fruto da imaginação nem de alguns copos de vinho a mais... Assim é o Algarve, a mais meridional região do Portugal Continental.

Uma dádiva, uma inspiração até para pseudopoetas menores como eu, uma criação topo de gama da Natureza, uma pincelada magistral de algum deus apaixonado.

Se você gosta da paz de olhos semicerrados a esperar por um poente vagaroso, do sopro de uma viração macia que amortece os ecos do cotidiano, da quenturinha que vem de um céu infinito, não há melhor escolha do que estes dias dourados de final de setembro nas praias mágicas do Algarve.


Oswaldo Pereira

Setembro 2015.