Tudo aconteceu em trinta
segundos. Em meio minuto, 35 tiros foram disparados. Quando a fumaça das armas
se dissipou, três feridos sangravam e outros três homens estavam mortos, emborcados
na poeira amarela do chão de Tombstone. Vinte e seis de outubro de 1881, três
horas da tarde. Numa época de tiroteios, acabara de chegar ao fim o mais famoso
confronto do Velho Oeste americano, que só passaria a ser chamado de Gunfight at the OK Corral cinquenta anos
depois, com a publicação do livro “Wyatt
Earp: Frontier Marshall” de Stuart Lake.
A rigor, o celebrado duelo
entre os irmãos Earp e os fora-da-lei ocorreu num exíguo beco da rua Freemont,
em frente a um estúdio fotográfico, a uns vinte metros da traseira do curral
O.K. No momento em que os disparos tiveram início, a distância entre os
adversários era inferior a três metros. E foi apenas mais um capítulo da
história de rivalidade entre a família de delegados e o bando de cowboys liderados por Johnny Ringo (que
não estava na cidade no fatídico dia). A disputa começara meses antes, entre
ameaças dos bandidos e ações duras dos xerifes, e continuaria depois, com mais
mortes e prisões.
TOMBSTONE EM 1881 |
Tombstone (o nome já diz
tudo: pedra tumular) foi mais uma
cidade-cogumelo das centenas que surgiram nos territórios do sudoeste
americano, nos anos seguintes à Guerra Civil. Nascidas literalmente do nada a
partir da descoberta do veio de algum mineral precioso, atraíam o que havia de
pior da sociedade, gente que estava disposta a arriscar tudo por tudo, no sonho
de enriquecer rapidamente. Aventureiros, ladrões, contrabandistas vinham de
todo o lado, trazendo atrás de si um séquito de jogadores, prostitutas e
aproveitadores como efeito colateral. A lei, entretanto, só chegava depois, e
os policiais tinham de ser rápidos no gatilho para poder enfrentar as gangues
de pistoleiros a serviço dos recém-empossados reis do crime.
No caso de Tombstone, foi
a prata. Surgida num pequeno planalto no Condado de Pina, Território do
Arizona, em 1879 e ocupada por 100 habitantes, dois anos depois a vila já abrigava
7.000 pessoas, alguns bons restaurantes, um boliche, 4 igrejas, 1 escola, 2
bancos, 3 jornais, um teatro e uma sorveteria. E 110 saloons, 14 casas de jogo e muitos bordéis. Um caldo de interesses humanos diversos. E foi para dentro deste
panelão fervente que Virgil Earp viu-se lançado quando recebeu a nomeação de Town Marshall (Delegado Municipal), em
1880. Como a família era muito unida, seus irmãos Morgan, Warren e Wyatt, suas
esposas e filhos, decidiram ir junto. Na esteira, outro personagem famoso, o
dentista John Henry “Doc” Holliday, amigo pessoal de Wyatt, também aderiu.
A fervura do panelão era
atiçada pela rivalidade entre fazendeiros e negociantes, de um lado, e ladrões
e contrabandistas de gado, conhecidos como Cowboys
(o termo na época era pejorativo e equivalente a bandido. Os vaqueiros do bem eram
chamados de cattle ranchers ou cattle herders) do outro. A proximidade
da fronteira com o México (48 km) complicava mais as coisas para uma ação
efetiva da lei. Mas os irmãos Earp não estavam para brincadeiras. Logo à
chegada, Virgil promulgou uma postura municipal proibindo o porte de armas
dentro do perímetro urbano.
E isto foi o estopim para
o histórico duelo.
Na manhã do dia 26 de outubro, alguns
entreveros já haviam ocorrido entre os futuros adversários, com promessas de
retaliação de parte a parte. No começo da tarde, as coisas se agravaram. Perto
das três, alguns moradores vieram avisar Virgil que os irmãos Clanton (Ike e Billy),
os McLaury (Tom e Frank) e Billy Clayborne, todos cowboys do grupo de Ringo, estavam concentrados perto da pousada
onde Doc Holliday alugara um quarto e que, possivelmente, estavam armados. O
dentista, alertado por Virgil, concluiu que os bandidos estavam ali para
matá-lo. O xerife Earp resolveu então chamar os irmãos Wyatt e Morgan, que já
haviam sido nomeados deputies (delegados
auxilares), deu uma estrela também a Holliday e, juntos, rumaram para a rua
Freemont, com o objetivo de recolher as armas dos infratores e autuá-los.
WYATT EARP E "DOC" HOLLIDAY |
Como qualquer fato
histórico que se preze, há várias versões do tiroteio. Há até quem diga que os cowboys renderam-se assim que os Earp
apareceram e que foi assassinato a sangue
frio. A verdade “mais provável”, entretanto, é a que consta dos autos do
julgamento do caso e que foi corroborada por vários estudiosos do assunto. Ike
Clanton e Billy Clayborne estavam realmente desarmados e fugiram ilesos do
confronto. Os outros abriram fogo ao mesmo tempo que os irmãos Earp e Doc Holliday.
Doc acertou Tom McLaury no peito, feriu Billy Clanton e acabou sendo salvo
quando uma bala disparada por Billy acertou no seu coldre e atingiu-o apenas
superficialmente. Virgil foi logo ferido no tornozelo, mas continuou atirando.
Morgan recebeu uma bala no ombro e ficou momentaneamente fora de combate. Wyatt
cool as a cucumber (frio como um penino, nos dizeres de um
cronista da época) continuou de pé disparando seu Smith & Wesson .44 até liquidar Clanton e Frank McLaury. Trinta
segundos.
DIAGRAMA DO TIROTEIO, BASEADO NOS AUTOS |
A PRIMEIRA NOTÍCIA |
Desde o seu primeiro
relato nos jornais do Arizona, o Tiroteio no Curral OK já foi tema de centenas
de artigos, estudos e livros. Em 1955, a rede ABC americana produziu a série
televisiva “The Life and Legend of Wyatt
Earp”, com Hugh O’Brien no papel-título. Só no cinema, já foram cinco
versões. Há dias, eu e o Wilson Salazar, um grande amigo, também aficionado
dos filmes de bang-bang, as estivemos
recordando. São elas.
TOMBSTONE – THE TOWN TOO TOUGH TO DIE (1942)
MY DARLING CLEMENTINE (1946)
GUNFIGHT AT THE OK CORRAL (1957)
TOMBSTONE (1993)
WATT EARP (1994)
Nomes consagrados da telona se
revesaram nos papeis de Wyatt (Richard Dix, Henry Fonda, Burt Lancaster, Kurt
Russell, Kevin Costner) e de Holliday (Kent Taylor, Victor Mature, Kirk
Douglas, Val Kilmer, Dennis Quaid). Com imagens e maneirismos
diferentes, todos eles contribuíram para manter viva a eterna fama de duas das
figuras maiores de uma época lendária.
Oswaldo Pereira
Outubro 2015
PS.: O blog e este blogueiro vão dar férias a vocês, queridos leitores! Durante os próximos 20 dias, vocês poderão gozar a merecida paz de não serem importunados por este escriba...
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