O rei do Egito Faruk I
disse, quando foi destronado por um movimento militar liderado por Gamal Abdel Nasser em 1952, que, no futuro, só existiriam cinco reis no mundo – o da Inglaterra
e os quatro do baralho.
Não acertou de todo. Ainda
há várias casas monárquicas em plena atividade na Europa, na Ásia e na África.
Talvez o futuro a que ele se referia
ainda não chegou... Mas, pelo menos quanto à durabilidade do trono britânico,
ele não poderia estar mais certo.
Elizabeth II acabou de
bater o recorde de permanência real da história da Grã-Bretanha. No passado dia
9, ela completou 63 anos e 217 dias de reinado, superando a marca de sua
trisavó, Vitória.
ELIZABETH CRIANÇA |
Elizabeth
Alexandra Mary Windsor não nasceu para ser rainha. Suas
chances na linha de sucessão eram pequenas pois seu pai, o príncipe Albert
Frederick, era o segundo filho de George V. O primogênito, Edward, fora criado
com todos os pressupostos para assumir o cetro real. Além disso, havia sido
generosamente aquinhoado pela natureza com uma personalidade cativante, à qual
uma requintada formação trouxera os maneirismos sofisticados da nobreza. Em acentuado contraste, o irmão mais novo era
tímido e introspectivo. E gago.
Tudo mudou em dezembro de
1936, quando Edward, já ungido pela coroa em janeiro do mesmo ano, resolveu
abdicar, nos dizeres de seu próprio discurso de renúncia, “for the woman I love” (“pela mulher que eu amo”). Essa mulher
chamava-se Wallis Simpson, uma socialite
com “defeitos” gravíssimos para o estômago da corte inglesa. Era americana e duas
vezes divorciada.
Um parêntese. Além de mudar o futuro da jovem Elizabeth, a
abdicação de Edward VIII mudou também o futuro do mundo. Já no início da década
de 1930, era notória a admiração de Edward pela transformação que Adolf Hitler
operava na Alemanha. Se tivesse continuado no trono, seria bem provável que o
posicionamento do Reino Unido com relação ao Terceiro Reich fosse de conciliação
e não de antagonismo. Dificilmente, ele convidaria Winston Churchill, um
visceral anti-nazista, para o cargo de Primeiro-ministro, preferindo as
atitudes mais conciliatórias de Halifax, ou mesmo de Chamberlain. Mas o se é apenas uma esquina do tempo que não
foi virada...
Assim e de repente, Albert
Frederick foi relutantemente catapultado para o lugar de Rei, com o nome de
George VI, e Elizabeth para a linha de frente da sucessão. E, nos anos da
Guerra, ela começou a esmerar sua formação para o cargo que agora já lhe aparecia
no horizonte e a trabalhar com zelo a imagem que iria projetar para seu povo. Em
1952, no mesmo ano em que o rei Faruk disse sua famosa frase, George VI morreu
e Elizabeth foi coroada.
ELIZABETH EM UNIFORME: TÉRMINO DA SEGUNDA GUERRA |
COROAÇÃO DE ELIZABETH II |
A segunda metade do século
XX pode bem passar à História como um dos mais modificadores períodos da
humanidade. Uma reviravolta alucinante nos conceitos morais, sociais e
políticos, alimentada por galopantes avanços tecnológicos em todas as áreas do
saber, mudou radicalmente comportamentos, crenças e expectativas. A década e
meia do século XXI já nos avisou que o ritmo vai acelerar ainda mais. Adaptação é a palavra-chave.
"TROOPING THE COLOUR". ANIVERSÁRIO DA RAINHA |
E é isto que a Rainha
Elizabeth II tem feito com suprema eficiência. Só para citar alguns dos
acontecimentos que mexeram com o United
Kingdom, nestes últimos 63 anos tivemos a guerra do Canal de Suez em 1956,
a saída da África do Sul em 1959 da Comunidade Britânica e o começo da desintegração política do
Império, o IRA e seus conflitos na Irlanda do Norte, a introdução do sistema
decimal em 1971, a guerra das Malvinas em 1982, a queda do muro de Berlim e a
reunificação alemã em 1989, a guerra do Golfo em 1991, a criação do Parlamento
Europeu em 1993, o divórcio do príncipe Charles em 1996, a morte da princesa
Diana em 1997, o onze de setembro, plebiscitos na Escócia e em Gales e a crise
econômica de 2008. Tivemos Beatles, James Bond, bebês de proveta, mais
divórcios reais, escândalos familiares estampados numa imprensa marrom e
impertinente. De Churchill a Cameron foram 12 Primeiros-ministros, enquanto Trabalhistas
e Conservadores alternaram-se no comando do Parlamento.
A julgar pela segurança
com que se desincumbe de sua agenda e pela simpatia e o respeito que cada vez
mais inspira em seus súditos, ela é forte candidata a suplantar outros reis
longevos, como o tailandês Bhumipol Adulyadej (69 anos de reinado) e o francês
Luís XIV (72 anos) e assegurar a continuidade de uma monarquia nascida no ano
de 871 com Alfred the Great.
God Save the
Queen
Oswaldo Pereira
Setembro 2015
Tão austera e tão fofa. Gostaria de ouvi-la, de repente me dei conta de que nunca ouvi o pronunciamento de um monarca. É isso mesmo? Os Reis não falam???
ResponderExcluirA Rainha lê. Seus discursos são preparados por uma equipe de "speechwriters" composta de assessores políticos, econômicos, etc. Nunca de improviso, como alguns governantes que conhecemos...
ExcluirTenho grande admiraçao pela Inglaterra, pela Rainha e pelo povo. País pequeno e vive com independencia e dignidade. E isso no mundo que hoje é só escândalo, roubo e desorganização.
ResponderExcluirComo dizem, "de perto ninguem é normal". A Inglaterra tem vários esqueletos no armário. Mas, pelo menos, tem organização e, sobretudo, adora as tradições.
ExcluirAcho q tb estou de luto.
ResponderExcluirAcho q tb estou de luto
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