O sol se
põe, por trás de Lisboa. Oeste, cidade e mar.
Lá vai ele,
o sol.
Lá vêm
eles, os sonhos.
É março e
sou aprendiz, amanhã parto
Sem saber
prá onde vou
Sei pouco
da sorte, do fado
Sei pouco
do mundo onde vivo
Meu pai foi
lavrador,
Minha mãe
foi amor
A terra que
os cobre não é minha
É feudo
De um
senhor a quem não quis servir
Vim de
repente
Levaram-me
ao cais
“Preciso de
gente!”, alguém gritou do tombadilho
És forte,
és rapaz
O Oriente
nos espera”
Agora aqui
estou, a olhar para este mar
Profundo
O poente a
pintar de carmim
O céu do
meu destino
Vou numa
nau
De Cabral,
Ninguém
espera por mim
Vou numa
nau
De Portugal
Na direção
de uma estrela
Do outro
lado do mundo
E
o aprendiz chegou, há mais de 500 anos. Não eram as Índias e nem o Levante. E
nem foi por acaso. O destino das naus era certo. O Rei já sabia. Só não
imaginava a imensidão daquela terra de frutos, rios, e floresta. Só não podia
adivinhar suas praias sem fim, suas águas mornas, a mansidão de sua gente.
O
aprendiz deve ter querido ficar. Não o deixaram. Mas certamente levou consigo o
som dos pássaros de mil cores, o verde das palmeiras reclinadas sobre um
infinito de areias brancas, o balanço da rede ao sabor da brisa travessa com
cheiro de maresia doce. Anos depois, ao retornar do Oriente, encantava, à noite
nas tavernas, as gentes de sua aldeia com as lembranças que trouxera do
paraíso. Depois que todos se reuniam à sua volta, ele começava: “Não há nenhuma
terra igual...”
Escrevi isto
embevecido por um fim de tarde na foz do Tejo e, ao mesmo tempo, pensando no
que fizemos com aquela “terra sem igual”...
Oswaldo Pereira
Agosto 2015
O que fizemos .... e estamos fazendo .. muita falta de amor nesta terra ..
ResponderExcluirBelo poema!!! O Oriente ainda espera .... O Ocidente chegou antes...
(que bela fonte é esta??)
Caro Homerix,
ExcluirA fonte é Kristen ITC.
O Ocidente chegou, mas Alá vem por aí...Aqui na Europa, só se fala nisso...
Abraços
Ah Ah! Então o estrategista é no fundo um lírico!
ResponderExcluirEmocionante. Aí está; é o que nos acontece Qdo nos rendemos às musas, às sílfides ao supostamente indizível. Isso provoca alegria.Considerando que eh aquilo que traz para a existência, o que dorme na inexistência - poiesis - é o jeito que o homem deu pra conversar com os deuses. Ou até mesmo com Deus. Mto bom ! Fico-lhe grata. E o perfume do mar anda por aqui passeando pela mata...atlântica !
Vindo de você que tão bem e com tanta leveza transita entre musas e deuses, um elogio tem especial sabor. Merci bien.
ExcluirOlá Amigo
ResponderExcluirHá muito que não faço comentários,mas hoje depois de ler esses versos tão simples mas tão verdadeiros e conhecendo a paisagem onde fizeste o comentário tendo o Tejo como cenário,tive vontade de te dizer que gostei
1 beijo para os dois
Manela
Obrigado Manuela,
ExcluirNão tenho muito de poeta, mas o Tejo ao poente é uma inspiração irresistível.
Beijos
Parabéns Oswaldo!
Poesia, imagens e informações que encantam! Senti a beleza, a emoção e a sensação de estar mais uma vez na Foz do Tejo!
É realmente muito lindo. E a história está por toda parte. Lisboa é um livro aberto e um convite à poesia. Obrigadíssimo.
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