Olavo
Bilac nos convidava a ouvir estrelas. E eu vos digo que, de vez em quando, é bom falar de
Plutão. E deixar que a desilusão dos fatos, o amargor dos atos, a tirania da
inquietude imposta por um quotidiano tresloucado se dilua na bruma suave de um
delírio inocente.
Apagar
por um instante o mundo e seus gritos, seu catastrofismo crônico, diminuir o
som de seus oráculos cavernosos e de suas cassandras inquietas. Fechar os olhos
por um instante, um balsâmico instante de luz interna, e cobrir com uma pátina
de indiferença os clarões sombrios deste deserto de poesia, desta imensa aridez
dos nossos atuais dias, desta planície gélida de desânimos que impregnam o
noticiário de um século que começou com a fumaça negra das Torres Gêmeas. E,
enquanto ainda engatinha, já nos brindou com um tsunami assassino em 2004, com
a Natureza flexionando seus músculos e avisando que está incomodada conosco, com
o esfacelamento dos sub prime e o
derretimento financeiro de 2008, com a primavera que virou inferno nas arábias,
com lobos solitários que valem por um exército metralhando indistintamente
infiéis e cartunistas, com a pré-falência de uma nação ícone que já foi clássica e, no front interno, com a cambalhota grotesca de um país que abriu o
milênio com apostas firmes para o futuro.
É
bom falar de Plutão, de sua lua Caronte, de sua excentricidade travessa. Achar
graça na história de sua despromoção,
admirar as fotos da NASA, prestar atenção nas protuberâncias de seu relevo,
escutar o vento que vem das profundezas do nada. Olhar com carinho respeitoso para a New Horizons, esta pequena nave que desliza silenciosa pelos mares
siderais, este minúsculo paparazzo estelar
que nos manda recados instantâneos das fronteiras do vácuo. De lá, nosso doido
planeta é apenas uma vela acesa de brilho plácido, uma ínfima chama sem calor.
Daquela perspetiva gigantesca, nossos temores, nossos desamores, nossa sina se
reduzem a um ponto luminoso apenas, um detalhe desimportante, a nota de rodapé
de uma enciclopédia do tamanho da eternidade.
Mas,
temos de voltar. Assim que abrirmos os olhos e quebrarmos o encantamento do
nosso devaneio, o mundo estará nos esperando, ávido para nos arrastar para as
correntezas caudalosas de seus rios de realidade, para o vendaval de sua falta
de lógica, para a apneia do ar rarefeito de sua incoerência, para a presença do
deus aleatório que o comanda.
Assim,
é bom ficar mais um pouquinho a falar de Plutão. E a ouvir estrelas...
Oswaldo Pereira
Julho 2015
Olá o Oswaldo, deixo aqui meu abraço. Bom te ler.
ResponderExcluir'Brigadão, Carlinhos. Saudades do nosso tempo no Plano B...
ExcluirNovamente, Oswaldo , foi deletado meu comentário.
ResponderExcluirObrigada, Oswaldo, pelos miutos de uma leitura saudável. Minutos que me distanciaram da leitura do jornal com a descrição do que está acontecendo neste país. Abraço, Cleusa.
Obrigado novamente, Cleusa. Também não entendo porque alguns cometários aparecem e outros somem. Já consultei o google, mas não tive resposta. Tem acontecido com muita gente, infelizmente. Mas, por favor, não deixe de tentar...
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