terça-feira, 21 de julho de 2015

AÍ VEM AGOSTO









Brasileiros mais “antigos”, como eu, nutrem certa desconfiança política pelo mês de agosto. Quem já estava neste planeta e neste país, em 1954, por exemplo, com idade suficiente para perceber o que se passava à sua roda, experimentou as grandes emoções daquele mês fatídico. O atentado contra Carlos Lacerda no dia cinco, o terremoto midiático das investigações que apontaram o dedo acusador para a guarda pessoal do Presidente e o capítulo final e trágico do suicídio de Getúlio, no dia 24.

Sete anos depois, uma nova e violenta guinada no leme da nossa História assinalava mais uma vez o oitavo mês do ano. A renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, atrelando o país a uma montanha russa institucional, nos faria atravessar experiências inquietantes como a rápida tentativa de uma quartelada impedindo a posse do vice João Goulart, passando por um Parlamentarismo cambaleante, pela volta do Presidencialismo, até desaguar na Redentora, em 1964. Agosto também nos levou Juscelino, Arraes e, mais recentemente, Eduardo Campos.

Desta vez, vamos chegar lá com o cenário político debaixo de uma tempestade perfeita. A Presidente perdeu sua base de sustentação, o apoio de seu criador, a aprovação popular e o rumo. Como os imperadores chineses de antanho, vive dentro dos muros de sua proteção protocolar, evitando aparições públicas que a façam escutar o vento lúgubre das vaias. Além disso, pode ser atingida a qualquer momento pelo martelo inquiridor de dois dos mais importantes tribunais da República. O de Contas e o Eleitoral.  

O Congresso transformou-se num campo de batalha minado, perigoso até para as mais ardilosas raposas parlamentares, e o interesse nacional há muito foi escorraçado de seus plenários. Para tornar a pantomima ainda mais ridiculamente nefasta, os chefes das duas casas, a Câmara e o Senado, um deles na linha de sucessão, estão para ser abatidos pelos desdobramentos da Lava-Jato.

Acha pouco? Então considere a fervura que está sendo preparada para o pressago mês que se avizinha. Programada para o dia 16, uma gigantesca manifestação popular está sendo cozinhada nas redes sociais, com ares de viral, e que tem tudo para retumbar nas ruas de todo o país, como os caras pintadas dominaram a cena na época do Collor. Quem sabe somar dois mais dois, faz logo o paralelo.

É claro que todos nós sabemos que o Brasil é hoje muito mais sólido em termos democráticos do que nunca esteve e que o Estado de Direito está firmemente apoiado na vontade popular. Não há lugar para delírios românticos nem clima para aventuras golpistas. Mas que este próximo agosto promete, lá isso promete...


Oswaldo Pereira
Julho 2015



10 comentários:

  1. Gostei muito. Principalmente da expressao " do vento lúgubre das vaias".

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  2. Arrrrrrrrrrrr...........vai de retrô.................

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  3. O comentário de Lady Fifi não apareceu ... sorry !

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  4. Adoro agosto. É o meu mês. Seus ares lúgubres, o brilho discreto sobre a paisagem. O silencio das nuvens. Não foi a toa que W. Faulkner escreveu seu Light in August.

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    1. O agosto de Faulkner é o do hemisfério norte. O mesmo do feragosto italiano e da bela música de Aznavour, "Paris Au Moi d'Aout". E aqui, mesmo em seus tons menores, às vezes canta doces canções.

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    2. Sei disso, mas deixei por sua conta. Do livro de W.F lembro do menino atraz da cortina, devorando um tubo de pasta de dente. Um menino carente.

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Certo, Oswaldo e nosso Moro continuará na sua luta para salvar nosso país. Muito bem falado e comentado. Teremos dias melhores e nos salvaremos, se Deus quizer.
    Esta é a quarta vez que tento

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