Brasileiros mais “antigos”, como eu, nutrem certa
desconfiança política pelo mês de agosto. Quem já estava neste planeta e neste
país, em 1954, por exemplo, com idade suficiente para perceber o que se passava
à sua roda, experimentou as grandes emoções daquele mês fatídico. O atentado
contra Carlos Lacerda no dia cinco, o terremoto midiático das investigações que
apontaram o dedo acusador para a guarda pessoal do Presidente e o capítulo
final e trágico do suicídio de Getúlio, no dia 24.
Sete anos depois, uma nova e violenta guinada no leme
da nossa História assinalava mais uma vez o oitavo mês do ano. A renúncia de
Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, atrelando o país a uma montanha russa
institucional, nos faria atravessar experiências inquietantes como a rápida
tentativa de uma quartelada impedindo a posse do vice João Goulart, passando
por um Parlamentarismo cambaleante, pela volta do Presidencialismo, até
desaguar na Redentora, em 1964. Agosto também nos levou Juscelino, Arraes e,
mais recentemente, Eduardo Campos.
Desta vez, vamos chegar lá com o cenário político
debaixo de uma tempestade perfeita. A Presidente perdeu sua base de
sustentação, o apoio de seu criador, a aprovação popular e o rumo. Como os
imperadores chineses de antanho, vive dentro dos muros de sua proteção
protocolar, evitando aparições públicas que a façam escutar o vento lúgubre das
vaias. Além disso, pode ser atingida a qualquer momento pelo martelo inquiridor
de dois dos mais importantes tribunais da República. O de Contas e o Eleitoral.
O Congresso transformou-se num campo de batalha minado,
perigoso até para as mais ardilosas raposas parlamentares, e o interesse
nacional há muito foi escorraçado de seus plenários. Para tornar a pantomima
ainda mais ridiculamente nefasta, os chefes das duas casas, a Câmara e o
Senado, um deles na linha de sucessão, estão para ser abatidos pelos
desdobramentos da Lava-Jato.
Acha pouco? Então considere a fervura que está sendo preparada
para o pressago mês que se avizinha. Programada para o dia 16, uma gigantesca
manifestação popular está sendo cozinhada nas redes sociais, com ares de viral, e que tem tudo para retumbar nas
ruas de todo o país, como os caras
pintadas dominaram a cena na época do Collor. Quem sabe somar dois mais
dois, faz logo o paralelo.
É claro que todos nós sabemos que o Brasil é hoje muito
mais sólido em termos democráticos do que nunca esteve e que o Estado de
Direito está firmemente apoiado na vontade popular. Não há lugar para delírios
românticos nem clima para aventuras golpistas. Mas que este próximo agosto
promete, lá isso promete...
Oswaldo
Pereira
Julho
2015
Analogia excelente!!!!
ResponderExcluirGostei muito. Principalmente da expressao " do vento lúgubre das vaias".
ResponderExcluirArrrrrrrrrrrr...........vai de retrô.................
ResponderExcluirO comentário de Lady Fifi não apareceu ... sorry !
ResponderExcluirAdoro agosto. É o meu mês. Seus ares lúgubres, o brilho discreto sobre a paisagem. O silencio das nuvens. Não foi a toa que W. Faulkner escreveu seu Light in August.
ResponderExcluirO agosto de Faulkner é o do hemisfério norte. O mesmo do feragosto italiano e da bela música de Aznavour, "Paris Au Moi d'Aout". E aqui, mesmo em seus tons menores, às vezes canta doces canções.
ExcluirSei disso, mas deixei por sua conta. Do livro de W.F lembro do menino atraz da cortina, devorando um tubo de pasta de dente. Um menino carente.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirCerto, Oswaldo e nosso Moro continuará na sua luta para salvar nosso país. Muito bem falado e comentado. Teremos dias melhores e nos salvaremos, se Deus quizer.
ResponderExcluirEsta é a quarta vez que tento
Cleusa, gostaria de ter a sua fé...
Excluir