Há certos comportamentos que me preocupam. Tenho ouvido
comentários de pessoas conhecidas, e até lido em crônicas de certos colunistas,
um deles o renomado Zuenir Ventura, que os longos desdobramentos da Operação
Lava-Jato poderiam acabar por aborrecer o
público brasileiro. Segundo eles, a demora das autoridades policiais em proprocionar um clímax(?!) (palavras
do próprio Ventura) ao processo viria determinar um inevitável cansaço na sociedade, um bocejo
preguiçoso seguido de um fatal desinteresse da população.
Meu Deus! Será que o nosso povo está tão mentalmente
obturado pela catarse das novelas que não consegue mais distinguir entre a
realidade e o folhetim? Será que não percebe que a Lava-Jato, que nada mais é
do que o segundo round do Mensalão,
não é uma série televisiva, nem um joguinho eletrônico de enredos curtos e
soluções simplistas? Fala sério! A investigação, capitaneada pelo juiz Sérgio
Moro, e alicerçada na postura correta do Procurador Geral da República, Rodrigo
Janot, não está sendo oferecida aos olhos da Nação apenas como um divertissement ligeiro ou uma produção
cinematográfica com obrigações de grandes efeitos especiais ou pirotecnias tope
de linha.
Todo o minucioso processo está sendo levado com extrema
competência pela equipe que nele vem trabalhando, construindo sua estrutura a
partir de milhares de pequenos detalhes, indícios, ilações, deduções,
corolários, entrelinhas, induções, inferências que são cuidadosamente
garimpados no mar de lama propositalmente derramado pela enorme quadrilha que
montou um dos mais sofisticados esquemas de corrupção e pilhagem do dinheiro
público da nossa História. Sinto-me profundamente insultado quando um dos
apanhados com a boca na botija do propinoduto regurgita sua defesa declarando
que não há provas concretas. Não há,
nem pode havê-las. O suborno, o jabaculê,
ou o pixuleco, como cunhou o
inacreditável Secretário do PT, não são feitos para deixar rastros evidentes.
Ninguém assina recibo de propina. A turma que orientou esta imensa safadeza é
gente da pesada, que não gosta de deixar furos.
Assim, o véu das evidências só se levanta pela mão das
delações, do cruzamento de informações de paraísos fiscais, de encontro de
contas de uma contabilidade fantasma, até de pequenos garranchos rabiscados às
pressas. Por isso, o trabalho tem de ser lento, minucioso, entediante,
paciente.
The
price of freedom is eternal vigilance (o preço da liberdade é a
eterna vigilância) era uma frase muito em voga nos Estados Unidos no século XVIII, mas vale para sempre. Se começarmos a achar chato, a mudar comodamente de canal, a
ler diagonalmente as manchetes toda vez que o assunto for a Lava-Jato e seus
desdobramentos, não nos restará mais do que a melancólica novela de um País
adormecido eternamente em berço esplêndido...
Oswaldo
Pereira
Julho
2015