O nome dele é Julian
Alexander Kitchener-Fellowes, nasceu no Cairo em 1949, ostenta o título de
Barão Fellowes de West Stafford e pertence à Câmara dos Lordes do Reino Unido
desde 2011. Com estas credenciais, ninguém melhor para escrever uma das séries mais
famosas da atualidade, a superpremiada Downton Abbey, cuja quinta temporada
acabou de ser exibida aqui no Brasil. A sexta, e já anunciada como a última,
está sendo gravada atualmente na Grã-Bretanha.
A própria vida de Fellowes tem várias pitadas de um
bom folhetim. Nascido no Egito, estudou na Inglaterra e foi para Los Angeles em
1981, atrás de uma carreira de ator. Conseguiu alguns papeis secundários (para
os aficionados de Bond, apareceu na figura do Ministro da Defesa em Tomorrow Never Dies) e chegou a ser
cogitado para substituir Hervé Villechaise como o icônico mordomo do seriado Ilha da Fantasia. Não deu certo.
Enveredou, então, pelo caminho que o tornaria mundialmente conhecido. Na função
de autor e roteirista, colecionou sucessos como Vanity Fair e Young Victoria,
até chegar ao Oscar em 2001 com Gosford
Park. É o destino. Se tivesse cravado o papel de Tattoo, talvez Downton Abbey nunca tivesse existido...
Como os seguidores já sabem, a série conta a
trajetória de uma aristocrática família inglesa, os Condes de Grantham, no
período que vai da tragédia do Titanic,
em abril de 1912 (na qual morre um
dos herdeiros ao título), até 1925, em plena agitação social na Inglaterra, com
a eleição de um Primeiro Ministro trabalhista. Os efeitos dos acontecimentos
desenrolados nesses anos no dia-a-dia dos Crawley (nome de família dos condes)
e de seus contemporâneos, e seu esforço desesperado para manter o status quo do mundo privilegiado em que
vivem, é a trama central, com todos os desdobramentos que uma Guerra Mundial, a
pandemia da gripe espanhola, a quebra da hierarquia no vendaval dos roaring twenties (os estrondosos anos
vinte) e as agruras econômicas do pós-guerra podem causar.
E aí surge um dos motivos das críticas ao seriado.
É que, aparentemente presos dentro de sua
redoma e absorvidos em sua empertigada rotina diária, os habitantes da
fantástica mansão conseguem preservar seus rituais e seu estilo de vida quase
intocados, ensejando um contínuo repetir de situações, como se o roteiro
rodasse “no vazio”, o que também suscita ácidos comentários de alguns
especialistas. Superficial, melodramática e irrealista, e até anticatólica e
anti-irlandêsa, foram alguns dos elogios já
feitos à série pela imprensa inglesa.
Mas, talvez por isso mesmo Downton Abbey seja o sucesso planetário que é. As soberbas atuações de seu elenco e uma
extraordinária ambientação de época, desde o requinte das roupas e os
pormenores da decoração, ao cuidado com a reconstrução de um período histórico
nos mínimos detalhes superam amplamente os aspectos porventura negativos. E é,
quem sabe, exatamente este viés de superficialidade, de festas, jantares e
caçadas, que confere o charme à
série. A possibilidade de o espectador conviver com o escapismo de um oásis
sublime num cipoal de outras produções que só falam de violência.
Nestes últimos cinco anos, Downton Abbey criou modismos e influenciou pessoas. Foi responsável
pelo aumento na procura de mordomos, principalmente de mordomos ingleses, na China, Rússia e países do
Oriente Médio. Fez aumentar a venda de colarinhos engomados, saias midi, vestidos bordados com pérolas e
roupas de caça. Aspectos da ficção, como a impossibilidade legal de Mary
Crawley se tornar herdeira, por ser mulher, inspiraram uma real proposta de legislação para modificar a lei de sucessão no Reino Unido (não passou).
Vários atores consagrados compareceram, como Shirley MacLaine e Paul Giamatti, além da presença permanente de Elizabeth McGovern, no papel da esposa do conde e da insuperável Maggie Smith como a condessa viúva
Violet Crawley, personagem nuclear do enredo. Outros cresceram com a história,
como Joanne Froggatt (a atormentada
Anna Bates), Rob James-Collier (o
mau-caráter Thomas Barrow), Michelle
Dockery (a frívola Mary Crawley) e Jim
Carter (o mordomo-mestre de insuspeitado bom coração Charles Carson).
Água com açúcar? Pode ser. Mas, nos dias de hoje,
talvez seja disto mesmo que a gente precisa...
Oswaldo
Pereira
Março
2015
Em alguns casos, permanecer é sinal de força, eventualmente de pura elegância. Como vc por aqui; por exemplo. Em se tratando Reino Unido, é obvio que é sucesso. Eu me amarro nessas rainhas todas. Não perco nenhuma das narrativas filmicas que envolvam pos descendentes dos da Távola Redonda. Mto chique. Mto nobre.
ResponderExcluirAdorei, Oswaldo.
ResponderExcluirMas o ambiente e a vida que os personagens levam não são tão fechados e impermeáveis às mudanças, como aponta a crítica. Aos poucos vamos vendo novos hábitos e atitudes, para desespero de Lady Violet.
Adorei, Oswaldo.
ResponderExcluirMas o ambiente e a vida que os personagens levam não são tão fechados e impermeáveis às mudanças, como aponta a crítica. Aos poucos vamos vendo novos hábitos e atitudes, para desespero de Lady Violet.
Meus comentários somem quando clico em PUBLICAR, esta é a terceira vez que tento...Para onde vão ????
ResponderExcluirGosto imenso de assistir e vivo as histórias que acho deliciosas. Saimos desta vida que está nos entristecendo e mesmo em nossas casas passamos horas num mundo que gostaríamos de ter.
Não sei se a série é ou não fiel ao clima social, político e economico da Inglaterra naquele período. Me chega como um retrato que eu penso ter fixado ao longo da vida ( nascido em 35, estive ainda próximo daquele mundo, suponho ) sobre aquele país e os seus cidadãos.
ResponderExcluirComo seria bom se todas as encenações que nos chegam na Tv e no cinema carregassem as primorosas qualidades desta ...