A estrofe é da genial música, da não menos genial dupla
Vinícius & Toquinho, Cotidiano no. 2.
Às
vezes quero crer, mas não consigo
É
tudo uma total insensatez
Aí
pergunto a Deus: “Escute, amigo
Se
foi prá desfazer, por que é que fez?”
Há horas em que sinto o mundo se desfazendo. Como
agora, como hoje, quando os jornais respingam tenebrosos vaticínios em sua
tinta de impressão, os canais televisivos derramam imagens sobre os timbres
graves dos comentaristas do dia, os virais da web espalham sem cerimônia ou
pré-aviso vários apocalipses numa manhã de março.
Como raízes espinhosas, eles nos vão cutucando o
traseiro enquanto tomamos o café da manhã, sabem a arroz queimado no almoço e
mingau frio no jantar.
Um pequeno inventário deles.
Há um Exército Islâmico que quer trazer de volta o
califado do Mahdi, e declara sua jihad aos infiéis de todo o mundo, sejam
eles filhos de Israel ou cartunistas parisienses. A imagem da faca, do macacão
cor de abóbora e da insensatez tornou-se já icônica em seu terror visceral. E,
enquanto você lê estas linhas, jovens de várias partes marcham para o
alistamento.
Espremido pela crise econômica interna de um país
quebrado pela queda do preço do petróleo, Putin resolve redesenhar a Ucrânia,
num joguinho que, estivéssemos no romântico século XIX, inspiraria cargas de
cavalaria pelas estepes, e no pragmático XX, aviões com ogivas em seu útero.
Bolindo com um nervo sempre exposto, Bibi Netanyahu
leva sua campanha política para a América, a convite de outra campanha
política, a dos Republicanos que, além de terem manietado o Obama, mantêm os
olhos nas eleições de 2016. Um peteleco enjoado no equilíbrio de forças que
procura manter apagado o barril de pólvora do Levante.
Devagarinho, vários Governos começam a quebrar os
cadeados, a decifrar os segredos dos grandes baús suíços, onde, alegadamente,
repousam tesouros surrupiados de “contribuintes” involuntários que vão desde os
judeus saqueados pelos nazistas a pagadores de impostos das inúmeras nações
infectadas pela praga da corrupção. Os cantões iniciam seu degelo...
Há um Boko Haram na Nigéria, um Maduro na Venezuela, um
cartel de drogas poderosíssimo no México, um promotor assassinado na Argentina,
um garoto mimado querendo fazer bonito para uma gerontocracia de generais na
Coréia do Norte, um premier grego
querendo dar nó em pingo d’água...
Isto para não falar dos fins do mundo triviais, a camada de ozônio, o efeito estufa, a
poluição dos oceanos, a superpopulação, o Edward Snowden. Ou das desventuras da
Dilma...
Voltando ao Cotidiano
no. 2, acho que vou “abrir o meu
Neruda e apagar o sol...” Quem sabe se quando eu acordar haverá estrelas?...
Oswaldo
Pereira
Março
2015
Teus textos estão me emudecendo.
ResponderExcluirParbleu! Não diga uma coisa destas. Tua voz é luz, cor e necessária...
ExcluirDesculpe. Não são os textos. É o Mundo mesmo.
ExcluirA história é cíclica e no momento me parece que estamos na curva descendente. Preocupante!!
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