Pátria amada, parabéns pelo teu aniversário.
Estou longe. Estive até mais longe nos passados dias, desbravando terras de
civilizações distantes, até mais sofridas que tu, torturadas por dúvidas que,
pela graça de Deus, não te afligem, embates de fés que clamaram por sangue,
disputas cruéis que exigiram vidas, sonhos, futuros. Hoje, elas reprimem a dor
das lembranças num sorriso triste, abrindo seu coração e suas ruas de paredes
crivadas de cicatrizes.
Estou longe, mas pelo menos agora de volta ao teu pai, este Portugal meu avô de
cujas praias se pode ver a História e a epopeia das aguerridas naus que te
foram descobrir. E gerou o príncipe que te deu identidade e bandeira, nas
margens de um riacho plácido, hoje sucumbido pela tua desatenção.
Sempre gostei desta data. Sete de setembro, o meu número cabalístico
repetido num prenúncio de Primavera, fanfarras militares, revoadas de pombos,
pavilhões verde-amarelos oferecidos ao vento de céus sem nuvens. Desta vez,
entretanto, estou inquieto. O Hino ecoa festivo, mas seu som soa pressago.
Acontece, pátria amada, que a encruzilhada se aproxima. Estás a dias de uma
eleição que selará teu destino por mais meia década, definirá o semblante com que
vais encarar teu povo e o mundo pelos próximos cinco anos. Se escolheres o que
aí está, estarás dizendo que te sentes contente e feliz, ou pelo menos, que ninguém
pode fazer melhor do que os que hoje te governam. Cautela, porém. Este aval poderá
significar a chancela definitiva para o estabelecimento de uma autocracia
cujos tentáculos abraçarão por muitos anos os pilares da tua novel democracia.
Se escolheres a alternativa, apostas em alguém que promete desmantelar a
máquina, espanar as teias, desinfetar as vielas do poder, redirecionar os meios,
redefinir os fins. Como tens o amargo na boca de esperanças que viraram quimeras no passado, será preciso ter fé.
Estive contigo na queda do Estado Novo, no suicídio de Getúlio, no país
“bossa nova” de Juscelino, na primeira miragem de Jânio, no Parlamentarismo, na
Redentora, nas “diretas já”, na segunda miragem de Collor, no Plano Real, na
festa de Lula. Vi muito. Senti, como todos, o sebastianismo de que tudo iria melhorar à frente, na próxima virada
da esquina, no futuro que sempre seria nosso.
Foi Geraldo Vandré, arauto dos que hoje te comandam, quem disse. Esperar não é saber. É hora de
decidires. Tens a chave do voto nas mãos para abrires uma ou outra porta.
Rezo por ti, pátria amada.
Oswaldo Pereira
Setembro 2014
Mundo melhor não vai existir, salvo este que vive dentro do coração e da alma. Palavras escritas que o digam.
ResponderExcluirÉ isso Oswaldo
ResponderExcluirA esperança uma vez mais bate à nossa porta.
GRande abraço
Zé Correa
Pátria e Petrobrás passaram a materializar o que Samuel Johnson já definiu no século XIX como o último refúgio dos canalhas. Não dá para ter esperanças, mas a certeza de que nada vai mudar com essa canalhada petista sugando o país. Vamos ver se pelo menos a delação premiada acaba com essa vanguarda do atraso.
ResponderExcluirERRATA.
ResponderExcluirSamuel Johnson sacou essa verdade que muita gente tem medo de repetir já no século XVIII e não no XIX.