Uma
região marcada pelo conflito. Durante boa parte parte do século passado, e até
os primórdios do Terceiro Milênio, os Bálcans foram palco de intermináveis
disputas políticas, religiosas e étnicas que sangraram suas belas montanhas,
seus férteis campos, suas cidades cheias de história e seu povo.
Só entre 1912 e 1913, foram duas guerras. Alianças instáveis entre sérvios, búlgaros, albaneses e romenos, sob a influência dos grandes impérios europeus de então, procuravam apropriar-se de pedaços do Império Otomano em vias de desintegração e oferecer proteção aos cristãos da Macedônia turca. Brigaram todos. O Tratado de Bucareste selou uma paz frouxa. Um ano depois, essa instabilidade acendeu o estopim da Primeira Guerra Mundial (mais detalhes, para quem ainda não leu, no meu post "Primeira Guerra Mundial - 100 anos").
Só entre 1912 e 1913, foram duas guerras. Alianças instáveis entre sérvios, búlgaros, albaneses e romenos, sob a influência dos grandes impérios europeus de então, procuravam apropriar-se de pedaços do Império Otomano em vias de desintegração e oferecer proteção aos cristãos da Macedônia turca. Brigaram todos. O Tratado de Bucareste selou uma paz frouxa. Um ano depois, essa instabilidade acendeu o estopim da Primeira Guerra Mundial (mais detalhes, para quem ainda não leu, no meu post "Primeira Guerra Mundial - 100 anos").
Nas
duas décadas seguintes, a região continuou fervendo seu caldeirão de
discórdias, alimentado pelo inconformismo de expatriados apanhados no lado
errado de divisões territoriais contrárias aos seus anseios nacionais,
oportunisticamente aproveitado pelas crescentes ambições de comunistas e
fascistas. A Segunda Grande Guerra transformou tudo numa enorme fogueira. Das
cinzas, nasceu um país. A Iugoslávia, engendrada basicamente pelos partisans sérvios, cuja hegemonia na
nova nação seria garantida pela mão férrea de Josep Broz Tito, sob o
beneplácito e auspícios da União Soviética.
Tudo
começou a se dissolver em 1990. Com o estilhaçamento da Iugoslávia, a seguir à glasnost russa, abriu-se um baú de
horrores. Em 1991, teve início a guerra da independência da Eslovênia; no mesmo
ano, a Croácia foi pelo mesmo caminho e, no ano seguinte, a Bósnia. Até 2001, o
mundo acompanhou, horrorizado, cenas de bombardeios implacáveis de populações
civis, chacinas medonhas rotuladas de limpezas
étnicas, o ressurgimento amargo de campos de lento extermínio. Desde 1945,
a Europa não testemunhava acontecimentos tão degradantes em seu território. Cem
mil mortos, centenas de milhares de refugiados, economias destroçadas, dor. Aos
poucos, a ONU e outras agências foram costurando uma convivência possível mas,
até agora, ainda se discute o futuro do Kosovo. De qualquer maneira, para quem
hoje lá chega em visita, a sensação é de paz e segurança.
CROÁCIA
Segunda
a terminar os combates, em 1995 (depois da Eslovênia), a Croácia teve tempo
para empreender uma espetacular reconstrução. Endereço obrigatório para que
adora praias de água cristalina, boa comida e cenários de sonho desde 1920, o
país, depois da sua independência, investiu pesado no turismo, procurando
apagar as marcas do passado recente de lutas. E o que se vê, desde a capital
Zagreb até a charmosa e praieira Cavtat (mais ou menos 500 quilômetros de estrada, dos
quais 300 margeando o Adriático), na ponta sul, é um constante apelo ao
visitante para desfrutar suas vilas históricas, sua costa recortada, suas ilhas
mágicas, marinas atulhadas de monumentais iates e veleiros, portos acolhendo oceanliners do tamanho de cidades e o verdeazul das águas. Os antigos romanos
conheciam isto como Dalmácia e iam para lá no Verão com o mesmo fervor que hoje
aportam alemães, austríacos e outros povos sedentos de sol.
ZAGREB: RUA TKALCICEVA (BAIRRO ANTIGO) |
PLITVICE: PARQUE NACIONAL |
TROGIR: TORRE DO RELÓGIO |
SPLIT: PALÁCIO DE DIOCLECIANO |
DUBROVNIK |
E aí, Dubrovnik. Cantada em prosa e verso por todas as publicações de viagens, esta Pérola do Adriático suplanta todas as expectativas. Tudo converge para a cidadela murada, um núcleo fundado no século VII e que ganhou status como poder naval, sob administração de Veneza, entre 1208 e 1358. Cidade livre, após este período, manteve sua importância até ser quase destruída por um terremoto em 1667. Recompôs-se. Foi bombardeada na guerra de 1991-1995. Recompôs-se de novo. E manteve-se como um dos mais conceituados exemplos de arquitetura de cidades intra-muros da Alta Idade Média. Tudo é para ser visto, em lenta caminhada pelas ruas, pelas escadinhas, pelos átrios, pelas muralhas, pelo cais. À noite, a magia aumenta, principalmente quando uma lua quase cheia prateia as ondas que batem nas pedras ao pé do Forte Lovrinejac. Para os aficionados da série Game of Thrones, só Dubrovnik poderia corporificar a mítica cidade de King’s Landing.
BÓSNIA
HERZEGOVINA
A
Croácia é solar; a Bósnia é sombria. Não no sentido sinistro do termo, mas na
imagem de um povo mais introspectivo, cuja simpatia, embora presente, não é tão
álacre e bem-humorada como a dos seus vizinhos.
A
paisagem humana é marcadamente diversa, com fortes traços muçulmanos, já não
tão eslava e nem tão ruidosa. Há silêncio e há minaretes em todas as vilas,
cantos de muezins chamando à prece,
bazares de arabescos e de memorabilia da guerra. Aqui, as cicatrizes estão mais
abertas, senão na alma, pelo menos nas paredes esburacadas pelas balas, nos
edifícios em ruínas que aqui e ali, mesmo na capital Sarajevo, ainda esperam
pela pátina do esquecimento.
MOSTAR: PONTE VELHA |
CEVAPCI |
MONTENEGRO
O nome é Crna Gora (literalmente, Negro Monte). E eles são, mesmo, imponentes, às vezes recortados contra o azul do céu, às vezes duplicados ao inverso nas águas mansas de algum lago. São 13 mil km² e cerca de 650 mil habitantes, um terreno montanhoso (et pour cause...) e uma costa salpicada de pequenas praias tranquilas. No século IX, príncipes eslavos reinaram por aqui, sendo absorvidos com o tempo pelo Império Bizantino. Turcos, e depois vênetos, dominaram a região até que sérvios e albaneses entrassem na disputa. Todas essas correntes culturais podem ser observadas em locais preservados, como a vila de Kotor, parada no tempo e na história.
KOTOR: CIDADE VELHA |
Assim são eles, os Bálcans. Cheios de luz, de sombras, de promessas e de lembranças. Um caldo cultural e humano. Um caleidoscópio.
Oswaldo Pereira
Setembro 2014
Em Mostar, na rua principal, comemos num restaurante cujo proprietario era muçulmano e assim, "pas d'alcool" ; nem provei o ćevapci, que me pareceu bem gostosinho pela sua descrição. Comi outros pratos. Eu não gosto de cerveja, mas para quem gosta faltou naquela hora do almoço. Achei o povo "down". Talvez por causa da guia que so contava miséria, fiquei impressionada ... Fi²
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