Os eternos Shakespeare, Camões e Cervantes. Os brasileiros
Machado, Alencar, Rui Barbosa, Euclides da Cunha, até João do Rio. Há franceses
como Verne e Dumas Filho, alemães como Goethe. E muitos portugueses, desde Gil
Vicente até Florbela Espanca. E, é claro, Eça e Pessoa.
São muitas, muitas obras, clássicos inteiros, contos,
romances, peças, poesias. Uma rica biblioteca com quase 200 títulos, ali, à
mão, ou melhor, ao clique, disponíveis.
E grátis.
Trata-se do site DOMÍNIOPÚBLICO (www.dominiopublico.gov.br),
que regala, para download sem custos,
a fina flor da literatura ocidental, num arco de tempo que vem do século XVI
até os dias de hoje. Uma bela iniciativa do Governo Brasileiro, uma das poucas
flores num jardim estéril de ideias e compromissos em que se transformou a
agenda cultural oficial em meu país.
Pois bem. Recebi de um grande amigo português a notícia de
que esta pequena jóia está em vias de desaparecimento. Por DESUSO!
E então minha alma de leitor voraz foi ferida pelo desalento.
Que o livro físico, aquele meu amigo
fiel, aquele companheiro que sempre comigo compartilhou noites vazias, horas
intermináveis na cabine escura dos vôos transatlânticos, que me sussurrou palavras
e histórias em longas tardes preguiçosas estava em extinção, isto eu já
pressentia. Eu mesmo já me decidira pela via digital para divulgar meus
modestos escritos.
O presente e infausto aviso (que prontamente repassei para
alguns correspondentes meus) é mais do que isto. Pode ser o prenúncio de que se
aproxima a vitória final da famigerada literatura
em pílulas, o estilo minimalístico gerado nas entranhas dos facebooks, twitters, whatsapps e descendentes que, certamente, irão
perpetrar friamente o coup de grâce (golpe
de misericórdia) nos textos que tenham mais do que algumas linhas.
Milagres da tecnologia, dirão alguns; maravilhas da indústria
da comunicação, outros dirão. Ferramentas de uma nova era, em que gigantescas
quantidades de informação têm de ser digeridas pelos neurônios em
milissegundos, sob pena de o antenado webbrowser
ficar por fora (oh! anátema cruel...) do
último viral, se perder minutos a
mais com textos pródigos.
E, assim, frases pacientemente acumuladas por um escriba
dedicado e sonhador para compartilhar ideias e histórias nascidas de sua
imaginação, que porventura somarem mais do que dois ou três parágrafos, serão
sumariamente fuziladas pela ação apressada da tecla delete...Há tempos, pressentindo o momento, escrevi um texto aqui
neste blog a que intitulei NEO LITERATURA
(http://obpereira.blogspot.pt/2013/11/neo-literatura.html).
Espero estar redondamente enganado. Apreciaria muito que a
arte da escrita, e sua vital contrapartida, o prazer da leitura, não
desaparecessem após a minha geração despedir-se deste mundo. E que um site tão precioso como DOMÍNIO PÚBLICO não acabasse por desuso...
Oswaldo Pereira
Setembro 2014
Infelizmente nossos compatriotas não são la muito interessados em literatura ... lamentavel ! Fi²
ResponderExcluirÉ de facto verdade.Em Portugal achincalha-se e despreza-se todo o genero de cultura (literaria,musical,moral,historica artistica e outras)que dantes nos enchiam de vaidade e orgulho,mas que agora vemos fenecer rapidamente,sendo substituidas por baboseiras sem pés nem cabeça,que entretêm e enganam a nossa juventude,por quem seremos (eu não) governados (desgovernados )um dia....
ResponderExcluir