quarta-feira, 17 de setembro de 2014

DOMÍNIO PÚBLICO




Os eternos Shakespeare, Camões e Cervantes. Os brasileiros Machado, Alencar, Rui Barbosa, Euclides da Cunha, até João do Rio. Há franceses como Verne e Dumas Filho, alemães como Goethe. E muitos portugueses, desde Gil Vicente até Florbela Espanca. E, é claro, Eça e Pessoa.

São muitas, muitas obras, clássicos inteiros, contos, romances, peças, poesias. Uma rica biblioteca com quase 200 títulos, ali, à mão, ou melhor, ao clique, disponíveis. E grátis.

Trata-se do site DOMÍNIOPÚBLICO (www.dominiopublico.gov.br), que regala, para download sem custos, a fina flor da literatura ocidental, num arco de tempo que vem do século XVI até os dias de hoje. Uma bela iniciativa do Governo Brasileiro, uma das poucas flores num jardim estéril de ideias e compromissos em que se transformou a agenda cultural oficial em meu país.

Pois bem. Recebi de um grande amigo português a notícia de que esta pequena jóia está em vias de desaparecimento. Por DESUSO!

E então minha alma de leitor voraz foi ferida pelo desalento. Que o livro físico, aquele meu amigo fiel, aquele companheiro que sempre comigo compartilhou noites vazias, horas intermináveis na cabine escura dos vôos transatlânticos, que me sussurrou palavras e histórias em longas tardes preguiçosas estava em extinção, isto eu já pressentia. Eu mesmo já me decidira pela via digital para divulgar meus modestos escritos.

O presente e infausto aviso (que prontamente repassei para alguns correspondentes meus) é mais do que isto. Pode ser o prenúncio de que se aproxima a vitória final da famigerada literatura em pílulas, o estilo minimalístico gerado nas entranhas dos facebooks, twitters, whatsapps e descendentes que, certamente, irão perpetrar friamente o coup de grâce (golpe de misericórdia) nos textos que tenham mais do que algumas linhas.

Milagres da tecnologia, dirão alguns; maravilhas da indústria da comunicação, outros dirão. Ferramentas de uma nova era, em que gigantescas quantidades de informação têm de ser digeridas pelos neurônios em milissegundos, sob pena de o antenado webbrowser ficar por fora (oh!  anátema cruel...) do último viral, se perder minutos a mais com textos pródigos.

E, assim, frases pacientemente acumuladas por um escriba dedicado e sonhador para compartilhar ideias e histórias nascidas de sua imaginação, que porventura somarem mais do que dois ou três parágrafos, serão sumariamente fuziladas pela ação apressada da tecla delete...Há tempos, pressentindo o momento, escrevi um texto aqui neste blog a que intitulei NEO LITERATURA (http://obpereira.blogspot.pt/2013/11/neo-literatura.html).

Espero estar redondamente enganado. Apreciaria muito que a arte da escrita, e sua vital contrapartida, o prazer da leitura, não desaparecessem após a minha geração despedir-se deste mundo. E que um site tão precioso como DOMÍNIO PÚBLICO não acabasse por desuso...


Oswaldo Pereira
Setembro 2014

2 comentários:

  1. Infelizmente nossos compatriotas não são la muito interessados em literatura ... lamentavel ! Fi²

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  2. É de facto verdade.Em Portugal achincalha-se e despreza-se todo o genero de cultura (literaria,musical,moral,historica artistica e outras)que dantes nos enchiam de vaidade e orgulho,mas que agora vemos fenecer rapidamente,sendo substituidas por baboseiras sem pés nem cabeça,que entretêm e enganam a nossa juventude,por quem seremos (eu não) governados (desgovernados )um dia....

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