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SOUTHWICK HOUSE |
Southwick
House é uma imponente mansão, de três andares, branca e
com colunas clássicas ornando a entrada, localizada a norte da cidade inglesa
de Portsmouth. Em junho de 1944, funcionava como quartel-general do SHAEF (Supreme Headquarter Allied
Expeditionary Force) ou o Supremo Comando da Força Expedicionária Aliada. Ou
seja, da liderança da Operação Overlord. E
foi numa de suas amplas salas que, na madrugada do dia cinco, o general
americano Dwight Eisenhower, com base nas últimas avaliações do
meteorologista-chefe de sua equipe, William Stagg, tomou a crucial decisão de
levar à frente a maior operação militar já montada. Stagg finalmente informara
o que ele queria ouvir. Um breve período de calmaria no instável e traiçoeiro
tempo do Canal da Mancha, que se estenderia por todo o dia seguinte.
Ninguém se lembra ao certo o que Eisenhower falou, depois
de andar de mãos coladas às costas por vários segundos com o semblante grave. Mas,
levando em conta o estilo curto e objetivo do general, todos os que lá estavam
(incluindo o marechal Montgomery, os generais Bradley e Bedell Smith, e os
britânicos Leigh-Mallory e Ramsey) concordam que foi algo como “OK. Let´s go” (OK, vamos). Três
palavrinhas em inglês que puseram em marcha uma gigantesca máquina bélica de
11.600 aviões, 6.000 navios e embarcações e 156.000 homens.
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EISENHOWER VISITANDO OS PARAQUEDISTAS (05/06/44) |
Os primeiros a irem para o solo francês eram os
sinalizadores da 101ª Divisão Aerotransportada dos Estados Unidos. Sua missão
era tão importante quanto quase suicida – saltar à noite num território
infestado de alemães para instalar guias luminosos e orientar os aviões dos
15.000 paraquedistas que viriam a seguir. Entre os comandantes aliados, alguns
projetavam a taxa de mortalidade desses precursores em aproximadamente 70%.
Antes que os transportes aéreos levantassem voo, Eisenhower foi despedir-se
deles. Embora o moral entre os soldados estivesse alto, ele sabia que estava
mandando para a morte talvez sete em cada dez daqueles sorridentes jovens.
Foi a noite das noites, como o dia seis foi o dia
dos dias. Mesmo das tropas que desembarcariam em cinco praias da Normandia, a
expectativa “aceitável” de baixas era de 30% (isto é, quase 50.000 mortos ou
feridos). E o sucesso iria depender da capacidade dos paraquedistas
interromperem as comunicações e os acessos dos alemães à praia, da eficiência
dos ataques dos bombardeiros nos dias anteriores e das baterias dos navios de
apoio, da rapidez do desembarque sob fogo inimigo, escolhido para ser realizado
na maré baixa com o objetivo de evitar os obstáculos plantados por Rommel, da possibilidade
do solo arenoso ser suficientemente duro para suportar o peso dos blindados. E,
crucialmente, do sucesso das manobras de dissimulação que fariam os alemães acreditar
que o desembarque verdadeiro aconteceria através do Passo de Calais.
Só este planejamento, que receberia o nome de
Operação Bodyguard (Guarda Costas), consumiria
milhares de horas transmissões falsas, extraordinárias medidas de contra espionagem
e, até, a construção de um exército fictício, com campos de pouso de mentira,
aviões e tanques de papelão para enganar possíveis levantamentos aéreos,
colocados estrategicamente próximos à costa em frente a Calais. Para chefiar
esta armada-engodo, o comando aliado designou ninguém menos que o general mais
respeitado pelos nazistas – George Patton. E isto acabou por convencer os
alemães. Mesmo apesar dos inúmeros vazamentos e de indicações de agentes da Inteligência
de que o destino da invasão seria a Normandia, Hitler e seu Estado-Maior
descartavam essas fontes, creditando-as a pistas propositalmente deixadas pelos
aliados para desviá-los do objetivo verdadeiro, o Passo. E aí começou a série
de imponderáveis que brincaram com o destino e a sorte no Dia D.
Em primeiro lugar, os paraquedistas não foram
dizimados na proporção estimada, mas poucos conseguiram executar as suas
missões. Os ventos e as baterias antiaéreas os espalharam por uma larga área e
a maioria caiu longe de seus pontos pré-determinados. A seguir, embora as ondas
de soldados que desembarcaram em Sword e Gold (ingleses) e Juno (canadenses)
encontrassem pouca resistência, os americanos, em Utah e, principalmente, Omaha,
não tiveram tanta fortuna. Especialmente nesta última, as primeiras fileiras
que saíram das lanchas foram dizimadas. Só na primeira hora, morreram quase
3.000 homens. Duas horas após a chegada às praias, a situação era tão grave que
o general Omar Bradley solicitou ao seu staff
planos emergenciais de retirada. Omaha
era o objetivo tático mais importante de toda a operação, pois era o
caminho mais eficiente para a conquista do porto de Caen. Um fracasso aí, e Overlord correria um imenso risco.
Por esta hora, as notícias começavam a chegar aos
postos de comando alemães perto da costa e, logo a seguir, às chefias militares
do OKW (Alto Comando do Exército) em
Paris. Em mais uma brincadeira do destino, Rommel não estava em seu posto.
Viajara a Berlim para o aniversário da mulher. Muitos outros comandantes
estavam ausentes, participando de reuniões. A confusão era geral, enquanto se
procurava saber o que se passava, qual a extensão do ataque e, de suma
importância, se era isto a Invasão ou apenas um ardil.
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PRAIA DE OMAHA (06/06/44) |
Nas praias, a situação evoluía rapidamente. Enquanto
nas outras quatro as tropas invasoras haviam progredido para além da orla, em Omaha a 29ª Divisão de Infantaria estava
paralisada nas areias. Aos poucos, entretanto, mercê de ações individuais de rangers e engenheiros militares e das
exortações de seu comandante, o general Norman Cotta (que disse: estamos sendo mortos na praia. Então, vamos
para o interior e sermos mortos lá), as tropas começaram a avançar. Mas, só às
cinco da tarde, onze horas após o desembarque, os primeiros soldados
conseguiram ultrapassar as linhas de defesa da Wehrmacht.
Faltava, ainda, um capitulo final.
Mesmo apesar de as cabeças-de-praia terem sido
estabelecidas, na manhã do dia sete, a vitória não estava assegurada. O grosso
dos blindados ainda não chegara e os aliados estavam vulneráveis. Era a hora de
usar as divisões Panzer que estavam
em reserva. Um contra-ataque poderoso poderia jogar os invasores de volta no
mar. Aí, o destino jogou pesado. A utilização das reservas dependia de
autorização pessoal do Führer. Mas,
Hitler estava dormindo profundamente, sob a ação de barbitúricos. E o General
Jodl, Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, não quis acordá-lo...
Foi por pouco. E, por isso, o Dia D será sempre
lembrado como o mais decisivo dia da História Moderna.
Oswaldo
Pereira
Junho
2014