Um terço do
ano está a caminho do fim. Um ano de final 4, como outros que marcaram as páginas
dos livros de História, urbi et orbi, ou
seja, aqui no nosso canto e no resto do mundo. Só no século passado, 1914
desencadeou a Primeira Guerra Mundial, 1944 o evento que mudou o rumo da
Segunda (o Dia D). 1954 trouxe o suicídio de Vargas e o nascimento do rock, 1964 a Redentora e os Beatles,
1974 a Revolução dos Cravos. 1984 foi
o título do fantástico livro de Orwell. E em 1994, fomos campeões pela 4ª vez.
E este 2014
promete. Ainda vai antes da metade, e já esquentou
o discurso entre russos e americanos, enfezou o clima planetário com verões
cáusticos e invernos gélidos, aproximou a Eurozona da Direita. Aqui, teve um Carnaval em março, o
encerramento do julgamento-espetáculo do Mensalão, os percalços da Petrobras.
E é aqui,
neste berço esplêndido ao som do mar, que o ano começa a desenhar os contornos de
uma decisiva procura por caminhos, um aprofundado questionamento de nossa
identidade como povo, do explodir de uma sede enorme por definições. Que Sociedade
queremos ser? Quem é esse Brasileiro-tipo? O que quer ele? Que espécie de
cidadania ele espera?
O primeiro
sintoma que dedura 2014 como sui-generis é o sentimento de desencanto
com um acontecimento esportivo que, até um passado mais ou menos recente, seria
motivo de um delirante orgulho nacional. Os 90
milhões em ação, o Brasil de
chuteiras estão sendo olhados com desconfiança, impaciência e até com certa
raiva. Muita gente não está aturando mais o bombardeio verde-amarelo da mídia,
os filmetes de propaganda com redes balançando, as mil embaixadinhas do Neymar
para vender carros ou sungas. É a primeira vez que vejo isto tão nitidamente.
Há uma certa vergonha pelo atraso das obras, uma revolta surda pelo custo delas
e o lamento indignado pela inversão de prioridades.
Depois, é a
encruzilhada das eleições. A queda livre da popularidade de Dilma pode
escancarar uma torrente aberta de fundos da Viúva para reverter o quadro, como
a ilusão do PAC serviu para elegê-la, embora as benesses governamentais já
estejam num limite por demais perigoso. Os programas de Bolsa Família sustentam
hoje 14 milhões de famílias. O funcionalismo público também. Vinte e oito milhões
de núcleos familiares que, usando a média nacional de 3,1 pessoas/grupo
familiar, correspondem a 86,8 milhões de brasileiros vivendo diretamente à
custa do Erário. Se adicionarmos os 30 milhões de aposentados do INSS,
verificamos que 60% da população pátria dependem exclusivamente do governo para
sobreviver.
Soma-se o
encolhimento da economia mundial, o fim do ciclo virtuoso que cobriu de glórias
o PT nos anos Lula. A Comunidade Europeia está numa quarentena que se estende
no tempo, os Estados Unidos apenas colocaram o nariz para fora d’água depois da debâcle de 2008, os tigres asiáticos
perderam as listras, o dragão chinês está empanturrado de dólares e arrefeceu o
ritmo. Internamente, a política de preços da energia virou refém do clima e a
probidade fiscal refém da política. O monstro da inflação abriu seus olhos. A
corrupção é endêmica. Há gente falando em revisão da Lei da Anistia. E o Brasil pode sair da Copa nas oitavas de final...
É neste
ambiente que vamos caminhar nos próximos dois terços de 2014. Um ano que pode
também entrar para a História, como seus primos de final 4. Um ano que pode não terminar.
Oswaldo Pereira
Abril 2014
Redondo o relato dos anos com final 4. Colocação bem feita dos acontecimentos e bem sintetizados.
ResponderExcluirVamos pedir a Deus que o nosso povo e principalmente os governantes pensem com carinho no BRASIL antes de se distraírem com os erros em benefício próprio.
Abraço, Cleusa.