Há muitos e muitos anos, na época de ouro dos fascículos, foi lançada no Brasil uma coleção sobre Mitologia Grega. Se bem me lembro, eram quase 50 capítulos, ricamente ilustrados e escritos por uma excelente equipe de historiadores, e que poderiam, depois de colecionados, ser encadernados em capas também distribuídas em espaços regulares, tornando-se uma obra de referência da melhor qualidade. Em suma, um item obrigatório na biblioteca de um apaixonado pelo assunto desde a leitura dos livros de Monteiro Lobato, como este que vos escreve...
É claro
que, para isso, era necessário possuir a férrea vontade de, por 50 semanas
consecutivas, comprar os fascículos no jornaleiro com religiosa disciplina.
Evidentemente que, para decepção da editora brasileira que publicou a coleção,
muito pouca gente conseguiu interessar-se a ponto de persistir na rotina e o
número de exemplares comprados, já a meio do caminho, começou a diminuir
significativamente. Como contrapartida, a gráfica passou a imprimir menos
exemplares e, nos últimos números, era particularmente difícil achá-los à
venda.
Não só porque adorava o assunto, como também porque admirava a superior
qualidade da obra, eu fui até o fim, contando com a ajuda do dono de uma banca
de jornais que, nos derradeiros capítulos, era o único a recebê-los no bairro.
A ele, algumas vezes, expressei minha indignação pelo desprezo dedicado a tão
belo trabalho pelo público carioca.
Não sei se
por coincidência, ou se intencionalmente programado pela editora, o último
fascículo falava sobre o Teatro Grego. E discorria sobre as suas origens nas dionísias, seu apogeu em Atenas,
tragédias, comédias e sátiras empolgando um povo e despertando gênios como
Sófocles, Ésquilo, Eurípedes, sua importância no dia-a-dia da Grécia Clássica.
Depois, lentamente, como num lamento, descrevia a sua lânguida decadência, o
afastamento do público, o desaparecimento dos mecenas.
E
terminava com a descrição de uma apresentação teatral em que os atores surgiam
no palco e constatavam que não havia viv'alma na plateia. Apenas a ausência. E, com a
morte na alma, representavam a peça para o silêncio. Percebi, então, a
referência – um teatro às escuras, uma coleção sem leitores.
O
derradeiro capítulo fechava com a frase:
Não há nada pior para um artista que um teatro vazio.
Quem
pinta, canta, representa ou escreve sabe disto, mais do que ninguém...
Oswaldo
Pereira
Fevereiro
2014
Escreva caro primo, escreva ainda que seja unicamente para mim e saiba que muito além de admirar sua pena, dela tenho santa inveja. Você, escrendo, se expressa tão encantadoramente como o nosso querido Gabriel Pereira quando falava. O que não quer dizer que seu "papo" não agrade. Agrade e muito ainda mais se for entremeado com alguns goles.
ResponderExcluirÓsculos
Sem dúvida que muito do que escrevo vem da verve, destilada e cristalina como uma caninha de engenho velho, de meu saudoso pai. Com ela vem também esta urgência de escrever que me aflige há tempos e a existência de ao menos um leitor atento me basta e me faz persistir. Mas os aplausos, ah! os aplausos, que falta eles fazem...
ResponderExcluirTambém eu fui sempre um interessado em mitologia grega. Para quem gosta, recomendo os dois volumes do saudoso Junito Brandão, obra excelente. Considero a mitologia, qualquer que seja sua origem étnica, um repertório de sabedoria, a compilação simbólica de milênios de experiência da humanidade. Que não encontre leitores é sinal da superficialidade em que sobrenada a maior parte dos pretendidos leitores de hoje.
ResponderExcluirSilêncio não é ausência!
ResponderExcluirMesmo lá no fundo da plateia, no escuro e em silêncio, sem que ninguém nos veja ou nos ouça, estamos bem atentos ao que se desenrola no palco!
Obrigado, grande amigo. É reconfortante saber que continua a haver gente na plateia...
ExcluirComo muito bem colocou o Wilson, nos estamos todos aqui. Prestando muita atencao nos gestos do artista. Os aplausos podem nao ser ouvidos mas estam sempre estusiamados no final de cada obra. Nas esqueca que alem de nós, partcipantes do Blog, esta tambem toda a equipe do NSA. :) Bruno
ResponderExcluirValeu, filhão. NSA também lê? Será que o Snowden sabe?
ExcluirMas o Oswaldo é um ARTISTA com uma boa plateia, pelo que tenho constatado nos comentários. Se a plateia não enche a culpa é nossa pq não divulgamos o Blog. Vou fazer a minha parte, a partir de hoje, bem merece. La Salette
ResponderExcluirObrigado, querida Salette. Tomara que muitos sigam o exemplo...
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