quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SUPERHOMENS







Nós, homens, somos fortes. Nascemos para vencer e dominar. Dominus. Está no sangue, no instinto, no gene fabricado pela adrenalina de sair para a savana e ir matar a caça, sem ser transformado em presa pelo tiranossauro de plantão. Caça que iria saciar a fome da mulher e dos filhos, protegidos no fundo da caverna. Preservar a raça, este era o imperativo, a razão de ser. Foram centenas de milhares de anos assim, geração após geração.

Por isso, também somos objetivos, diretos, funcionamos pelo sistema de resultados, quanto mais rápidos e descomplicados, melhor. Assim, escolhemos a primeira camisa que nos agrada numa loja, o mesmo prato de um cardápio diversificado no restaurante de sempre, achamos perda de tempo perguntar por direções numa cidade estranha. Nosso instinto vai achar o caminho, certo?

Errado!

Isto é o que pensamos ser. Isto é a canção de ninar que nos foi cantada ao nascer, o conceito folclórico que nos foi passado por pais preocupados com a nossa fibra de vencedores. “Homem não chora!” e outras bullshits que nos venderam no jardim de infância.

O que acabamos por aprender, nos duros bancos escolares da vida, é que temos dúvidas, temos dor, temos medo.  E aí, partimos para ser “valentes”, interiorizando os sentimentos e mantendo o sorriso firme, mesmo quando a alma se dilacera por dentro. Das tripas, coração, não é assim que reza a lição? Os ícones estão por toda parte. O soldado que, mesmo ferido de morte, não deixa a bandeira cair. O gentleman que cede seu lugar no último bote do Titanic. O Sir Galahad que terça armas até o fim pela honra da donzela.

Bonito, muito bonito. Numa tira de história em quadrinhos, num filme em 3D, numa canção medieval.

Na realidade, não passamos, mesmo, de superheróis de carne e osso, paladinos com armadura de papel, cavalheiros sem fraque e cartola. Elas sabem. Basta uma dorzinha de dentes, um resfriado mais brabo, uma decepção no trabalho para transformarmo-nos em infantes desmamados e desesperados por carinho, aconchego e proteção.

Fortes? Sim. Quando tudo vai bem e o sol brilha no horizonte. Aí, somos de novo o Superhomem, capazes de para elas demonstrar nossos superiores dotes de destreza e força. É só termos cuidado para não quebrar-lhes as costelas...


Oswaldo Pereira
Fevereiro 2014

PS.: O meu LIVRO DE CONTOS continua disponível. É só clicar no ícone da capa, no alto, à direita. Como mencionei no post de lançamento, o livro está em formato pdf, ou seja, pode ser copiado, impresso, arquivado ou distribuído à vontade. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário