Eu poderia dar-me o luxo de ser saudosista. Às vezes
até sou. Mas, não gosto muito de ficar olhando só pelo retrovisor. Pensar no
que o Brasil foi, ou pior, no que poderia ter sido, não adianta. Afinal, este é
um país que não gosta de aprender do passado, desconfia da sua História,
sente-se ligeiramente envergonhado de seu pedigree.
Cansei de ouvir baboseiras como “Ah! se tivéssemos sido colonizados por este ou
aquele povo”. Certa vez, num ônibus de turismo que fazia um tour pelo local da
batalha dos Guararapes, ouvi do guia, que não parava de elogiar Mauricio de
Nassau, uma pergunta retórica. “Já pensaram o que seria o Brasil se tivéssemos
sido colonizados pelos holandeses?”, jogou ele no ar triunfalmente, sem na
verdade esperar uma resposta. Mas, eu estava inspirado. Levantei o braço e
gritei : “Eu sei, eu sei...” Achando que eu iria corroborar com seu ufanismo
flamengo, declarando que certamente Recife seria Amsterdam, o guia alegremente
deu-me a palavra. “Seríamos o Suriname!”, eu falei, para o silencio magoado
dele e dos demais...
Não dá mais para ficar culpando a colonização
portuguesa pela nossa situação, qualquer que seja ela. Daqui a oito anos
comemoraremos dois séculos de independência. Mesmo que a influência do
descobridor fosse totalmente desastrosa, já houve tempo mais que suficiente
para termos revertido o possível dano. E, se pensarmos bem, Portugal não agiu
diferentemente dos outros poderes europeus de sua época. E basta olhar o mundo
colonizado de então, das Américas à África, ao Médio e ao Extremo Orientes e à
Oceania. Quem daí conseguiu entrar no clubinho do Primeiro Mundo depois de
conquistar sua identidade como país? A resposta vem logo: os Estados Unidos
e o Canadá! Então viva os ingleses e os franceses... Um momento. A ocupação do
Norte da América não foi fruto da exploração do governo inglês. No primeiro
século da descoberta, o interesse da Inglaterra estava muito mais no lucrativo
expediente de atacar os navios espanhóis que vinham da América do Sul cheios de
prata. Grandes extensões de terra sem muita promessa de encontrar ouro ou
pedras preciosas não estavam no seu cardápio. Quem acabou indo para lá foram os
membros de uma dissidência religiosa. E foram para ficar, não para usufruir. O
gelo do Canadá também só atraiu alguns valentes exploradores e comerciantes de
peles. Alguém vai mencionar a Austrália. Pode até ser, mas isto não se deve certamente
ao Império Britânico, que a usou como estabelecimento penal por mais de um
século.
Do México para baixo, do Mediterrâneo Sul até o Cabo da
Boa Esperança, dos desertos da Arábia ao Sudoeste Asiático e ao Pacífico
Meridional, ninguém até hoje entrou na confraria das nações mais ricas, com
melhor IDH. Nem sheiks com petrodólares,
nem os diamantes da África do Sul, nem a fortuna dos marajás. Estamos todos por
ali, com as nossas mazelas endêmicas, grandes hiatos entre uma ínfima minoria
milionária e o resto da populaça miserável, serviços públicos execráveis, infra-estruturas
cambaleantes. Recentemente, a maioria se converteu a um regime democrático.
Mas, Democracia requer Civismo, e Civismo requer Educação. Sem eles, o
exercício do voto é apenas uma festa vazia, uma pose falsa para a mídia e para
o mundo. Alguns professam que o caminho é mesmo esse, persistir, repetir, até
depurarmos o processo e melhorarmos o padrão. Mas eu me inclino para o que uma
vez disse o grande filósofo Millor Fernandes: É errando que se aprende...a errar.
Assim, enquanto não houver um compromisso continuado em
considerar a Educação como prioridade absoluta, não há longo prazo de
tentativas que nos leve para um patamar superior. Que necessariamente, nem
precisa ser exatamente igual ao da Europa Ocidental, da América do Norte ou do
Japão. Cada povo tem seu DNA próprio, sua idiossincrasia particular, seu jeito
de ser feliz. Somos um continente, como
a Rússia, a China, a Índia. Jamais podemos pretender que o bem estar chegue da
mesma forma e na mesma medida para todos os habitantes, como na Bélgica, por
exemplo. Ou na Holanda. O que o guia pernambucano tentava visualizar é impossível.
Recife jamais poderia ser Amsterdam. Mas poderá ser uma cidade sem crianças nas
ruas, sem bairros deteriorados, com boa infra-estrutura sanitária e de
transporte e um sistema eficiente de Saúde Pública. Como, de resto, assim
também poderão ser todas as cidades deste país. Basta sair do círculo vicioso
em que estamos enredados. Não é a Democracia que nos resgatará deste
redemoinho perverso. É a Educação.
Oswaldo
Pereira
Outubro
2013
É mesmo a educação que nos resgata! Apesar de todos os erros!
ResponderExcluirÉ isso Oswaldo
ResponderExcluirnada se cria nem se transforma sem um povo educado. Você disse bem, somos uma ficção de democracia. Mas enquanto educação for apenas uma bandeira de políticos e não uma política séria, não iremos longe.
Abraço
Zé Correa
Falou tudo. Gostaria que os políticos e educadores pensassem assim.
ResponderExcluirAna
Muito bem lançado, Oswaldo, estou inteiramente de acordo. Para mim, educação e democracia, mais do que compatíveis, se completam.
ResponderExcluirTem muito brasileiro que vive dizendo que o Brasil é um pais jovem, que ainda esta engatinhando (isso em relação aos paises europeus) e também para justificar a falta de educação e outros atrasos do povo brasileiro, mas eu sempre respondo : "pois é, chega de engatinhar ; ja esta na hora dele aprender a andar ... !!!
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