A chuva
caiu. Poças, respingos, goteiras. Um filete de enxurrada descendo para a goela
de um bueiro sedento. Asfalto molhado, passo apressado, uma gota dando um beijo
gelado no rosto, lágrima emprestada pelas nuvens carregadas. O céu mais perto e
cinzento.
Primeira
chuva de outono, primeira bofetada na cara de um verão que parecia eterno.
Primeiro frêmito, primeiro frio.
Agora serão
meses de dias cada vez mais curtos, de tardes longas e melancólicas, de folhas
que vão amarelar e cair como canções tristes que choram saudades. O ciclo
eterno vai dar mais uma volta, paciente, indiferente, acima das dores e das
cores, deus do tempo, escondendo cedo um sol miúdo e abrindo espaço para a noite
imensa.
A terra
bebe a água da chuva, até agradecida pelo fim da estiagem prolongada. Alguns
riachos começam a falar grosso, rolando pedras que pareciam cravadas em seu
leito seco. Uma romaria de pássaros vai em busca do bom tempo, agora longe
daqui, lá para as bandas do fim do mundo onde as estrelas são outras.
Adeus,
verão. Vejo-te no sul.
Oswaldo
Pereira
Setembro
2013
VOCÊ CONTANDO EM TOM POÉTICO A MUDANÇA DA ESTAÇAO.
ResponderExcluirABRAÇO,
CLEUSA.
Cleusa,
ExcluirNeste Portugal em vias de outono, tudo é poesia.
Caro Primo,
ResponderExcluirEsta sua crônica é pura poesia em prosa. Uma beleza!
Geraldo
Obrigado, primo.
ExcluirEsta querida "terrinha", com suas estações marcadas, é também um poema da Natureza.