quarta-feira, 11 de setembro de 2013

PRIMEIRA CHUVA


 
 
 
A chuva caiu. Poças, respingos, goteiras. Um filete de enxurrada descendo para a goela de um bueiro sedento. Asfalto molhado, passo apressado, uma gota dando um beijo gelado no rosto, lágrima emprestada pelas nuvens carregadas. O céu mais perto e cinzento.

Primeira chuva de outono, primeira bofetada na cara de um verão que parecia eterno. Primeiro frêmito, primeiro frio.

Agora serão meses de dias cada vez mais curtos, de tardes longas e melancólicas, de folhas que vão amarelar e cair como canções tristes que choram saudades. O ciclo eterno vai dar mais uma volta, paciente, indiferente, acima das dores e das cores, deus do tempo, escondendo cedo um sol miúdo e abrindo espaço para a noite imensa.

A terra bebe a água da chuva, até agradecida pelo fim da estiagem prolongada. Alguns riachos começam a falar grosso, rolando pedras que pareciam cravadas em seu leito seco. Uma romaria de pássaros vai em busca do bom tempo, agora longe daqui, lá para as bandas do fim do mundo onde as estrelas são outras.

Adeus, verão. Vejo-te no sul.


Oswaldo Pereira
Setembro 2013

 

4 comentários:

  1. VOCÊ CONTANDO EM TOM POÉTICO A MUDANÇA DA ESTAÇAO.

    ABRAÇO,
    CLEUSA.

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  2. Caro Primo,

    Esta sua crônica é pura poesia em prosa. Uma beleza!
    Geraldo

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    Respostas
    1. Obrigado, primo.
      Esta querida "terrinha", com suas estações marcadas, é também um poema da Natureza.

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