Neste
princípio de ano, os amantes da sétima arte (estava louco para usar este
surrado lugar-comum...) foram brindados com dois filmes que podem preencher
perfeitamente as condições de representar as palavras da moda: metalinguagem
& multiverso. São as novas armas que o cinema da tela grande
está lançando para ressuscitar depois do deserto de salas vazias criado pela
COVID e para competir com o universo das telinhas. É uma luta inglória, eu sei,
mas, pelo menos nas duas produções recentes, está lutando o bom combate.
Um exemplo exuberante de metalinguagem (se quiser saber o que significa esta palavra-griffe, é só ir no Google), é Babylon (Babilônia), do jovem e talentoso diretor Damien Chazelle, que recentemente nos brindou com o mágico La La Land. Em Babylon, Chazelle cristaliza o mote central de Singing In The Rain (Cantando na Chuva, de 1952) e o envolve numa roupagem perturbadora, pintando em cores vibrantes e devastadoras o mesmo ambiente e a mesma época dos loucos anos 20 em Hollywood e o nascer do cinema falado, que haviam sido cantados e dançados com lirismo e leveza no filme de Gene Kelly.
Além dessa clara inspiração, explicitada sem reservas em Babylon, Chazelle usa diversas cenas para fazer várias citações inequívocas a gênios do passado, como Fellini e Pasolini, entre outros. Brad Pitt, Margot Robbie e o excelente mexicano Diego Calva conseguem manter o ritmo frenético e intoxicante da história.
Exagerado em certas ocasiões? Sim. Alongado e repetitivo em outras? Também (o próprio Chazelle declarou que o filme se tornou uma “fera” difícil de domar). Mas, para mim, a coisa resulta. É uma grande alegoria à era selvagem do celuloide, um culto ao exagero que iria ser seguido pelo Glamour e o Noir da década de 30, os épicos de romantismo e de guerra da década de 40, os musicais e os enredos “certinhos” da década de 50, até chegar ao novo ponto de ruptura da década de 60.
Multiverso tem sido o cenário do momento dos blockbusters, nos quais habitam os heróis da Marvel e da DC Comics, saídos como o gênio da garrafa das histórias em quadrinhos. São as fábulas dos universos paralelos que fazem a festa dos roteiristas de ficção científica. Doutor Estranho é um dos ícones do gênero; o muito subavaliado Cloud Atlas tentou fazer isso em 2012, mas não convenceu a tribo dos críticos americanos. Agora vem Everything Everywhere All at Once (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo).
Partindo da crônica simplória de uma família chinesa, dona de uma lavanderia nos Estados Unidos e às voltas como o Fisco, Everything... explode em vários universos paralelos e ilimitados, abrindo uma infinidade de planos intemporais em que tudo é possível. Aí, o enredo torna-se um exercício de imaginação em estado puro, batendo num liquidificador science fiction, comédia e ação. Dirigido pela dupla conhecida como os “Daniels” (os americanos Dan Kwan e Daniel Scheinert) e estrelado pela ótima Michelle Yeoh (que já foi Bond girl em Tomorrow Never Dies), pela não menos formidável Stephanie Hsu e pelo vietnamita Ke Huy Quan (que, aos 14 anos, fez o menino Short Round em Indiana Jones e o Templo da Perdição), o filme vem sendo aclamado pela crítica e já abocanha 11 indicações para a próxima premiação da Academia. E ainda com o brinde de uma divertida participação de Jamie Lee Curtis.
Duas opções importantes e indispensáveis para os cinéfilos, nestas semanas que antecedem a noite das estatuetas.
Em
tempo:
Não
sei se os meus parcos, mas fiéis e pacientes, leitores já sabem. Há duas
semanas, eu estreei o meu canal CONVERSA AFORA, no YouTube. É mais uma imodesta
explosão desta incontrolável febre literária que me aflige nesta provecta
idade. Se puderem, confiram. As primeiras inserções discorrem sobre o fim da
Rússia dos czares. O link do primeiro vídeo é https://youtu.be/4s8WOu6we34
Oswaldo
Pereira
Janeiro
2023
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