Quando o Sputnik foi lançado, eu tinha 17 anos. Como toda a minha geração, a fascinação pelo espaço e pelas viagens interplanetárias havia sido poderosamente instilada em meus sonhos pelos quadrinhos de Flash Gordon e Brick Bradford, e filmes como Destino À Lua (Destination Moon, de 1950). Além disso, o mundo vivera, a partir de 1953, uma verdadeira paranoia com os discos voadores. Notícias, relatos e testemunhos enchiam jornais e revistas. E eu, um adolescente ávido por coisas extraterrenas, tive a pachorra de recortar e colar num álbum todas as reportagens publicadas às quais eu conseguia ter acesso (Um dia ainda vou escrever um texto sobre isto...). Passava horas lendo e relendo os recortes, e torcendo para que eu tivesse a ventura de ser abduzido...
A colocação no espaço do pequeno satélite russo, além de encantar e/ou alarmar o mundo inteiro, deu início a uma acirrada competição, que duraria mais de uma década: a corrida espacial, uma disputa de prestígio entre os dois superpoderes de então. Um tio meu torcia pelos soviéticos; eu, pelos americanos. As discussões eram intermináveis...
Já era jovem adulto, casado e pai, quando, numa das mais vívidas memórias que tenho, vi a imagem em preto e branco, um pouco desfocada e indefinida, de Armstrong descendo no Mar da Tranquilidade. Com a informação de que, pela primeira vez, centenas de milhões de pessoas viam a mesma cena naquele momento, foi a única vez que me senti parte de uma coisa chamada Humanidade.
E foi como parte dessa Humanidade que segui os angustiantes momentos do problema da Apollo XIII, o alívio toda vez que paraquedas coloridos e gigantescos pousavam gentilmente as cápsulas no mar, as declarações dos astronautas sobre as sensações vividas ao verem a Terra como uma bola azul recortada pela imensidão do Universo.
Assim, os meus parcos, mas resilientes leitores podem avaliar o que foi para mim visitar, há dias, a NASA ou, melhor dizendo, o Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral.
Prá começo de conversa, quis o destino (e, é claro, um dedicado monitoramento de minha filha Andrea), que a visita tivesse, como bônus, a oportunidade de assistir ao lançamento do Space X Falcon, em sua missão de colocar pequenos satélites em órbita. Estar ali, contritamente acompanhando com os presentes a contagem regressiva, vendo o artefato elevar-se e ouvindo os poderosos rugidos do lift off, fez-me entrar numa máquina do tempo.
A partir daí, não consegui mais voltar ao presente. Estava de novo nos anos cinquenta/sessenta. A sala de controle das missões lunares, os ciclópicos foguetes Saturno, as acanhadas cápsulas e claustrofóbicos módulos, a incrível nave Atlantis, os trajes espaciais, todo o drama e toda a glória de uma história de coragem, desafio, inteligência e trabalho duro estão ali. O Centro, afinal, é uma Disney do espaço. Mas uma Disney que tem como mote, não uma inspiração ficcional e lúdica, mas a saga real do milagre da tecnologia e da ousadia de gênios loucos que, há mais de 50 anos, colocaram homens na Lua.
Foi um dia de sonho. Dos meus sonhos. Se você participou desse extraordinário tempo, ponha na sua agenda uma visita a Cabo Canaveral. Não irá se arrepender.
Oswaldo
Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário