Em 1941, a atriz Hattie McDaniel foi a primeira negra a ganhar um Oscar, o de melhor atriz coadjuvante por seu papel no filme “O Vento Levou”. Mas, na cerimônia de entrega dos prêmios, ela teve de receber sua estatueta fora do palco. Até isto foi uma concessão, pois o teatro onde a festa foi realizada não permitia a entrada de negros. Quando morreu, em 1952, seu desejo de ser enterrada no cemitério de Hollywood foi negada pelo mesmo motivo.
Anteontem, na 94ª edição dos Oscars, ficou evidente o avanço que afrodescendentes e latinos fizeram no campo das artes cinematográficas. O fim das cruéis leis do racismo e do preconceito abriu espaço para o seu inquestionável talento e sua inclusão, com preponderância, no pódio dos escolhidos. Talvez isto teria sido, para mim, a marca registrada da festa. Mas, lamentavelmente, a cerimônia de 2022 ficará para sempre marcada como o “Oscar do tapa”.
Ninguém pode desvalorizar a justa revolta do ator Will Smith contra uma piada de mau gosto do comediante Chris Rock a respeito do cabelo de sua mulher Jada Pinckett Smith (ela sofre de alopecia). Mas, havia outras maneiras de resolver o assunto. A agressão e o palavrão gritado por Smith acabaram por obscurecer o resto do espetáculo.
Aliás, o espetáculo foi meticulosamente planejado para tentar reverter a queda de audiência da tradicional cerimônia. Nos últimos anos, de um pico de quase 50 milhões de espectadores mundo afora, o número caiu para perto de 10 milhões. E a desastrosa apresentação do ano passado ainda piorou o quadro. Assim, os organizadores procuraram voltar à fórmula original: um grande teatro, bons apresentadores e um cenário suntuoso. Procuraram até encurtar um pouco a festa, retirando da programação principal a premiação de algumas categorias técnicas, o que acabou provocando uma irada reclamação de vários setores. Mesmo assim, a cerimônia durou quase 4 horas.
Como não vi todos os indicados, não posso julgar a escolha dos vencedores. Dos galardoados, só assisti à atuação de Will Smith em King Richard. E gostei.
Resumindo, foi um Oscar de volta ao desenho pré-pandemia. Um acontecimento que, além de seu objetivo primordial de reconhecimento de desempenhos e trabalhos de alta qualidade, traz sempre um pouco de polêmica embutido. Desta vez, entretanto, a polêmica acabou no braço...
Oswaldo
Pereira