O
State of the Union Address, ou o Discurso sobre o Estado da Nação, é uma
tradicional prática da democracia americana e está consagrada na Constituição dos
Estados Unidos, que incumbe o Presidente de apresentar ao Congresso, com a frequência
necessária, um relatório sobre a situação político-econômica do país. Desde os
primeiros ocupantes do cargo, a sua frequência passou a ser anual. A princípio,
tratava-se de uma mensagem escrita apresentada ao Parlamento. Depois de 1913,
Woodrow Wilson resolveu torna-la presencial e levada a cabo no Capitólio.
Com o aparecimento do rádio, e depois da TV, o evento tornou-se um espetáculo midiático da maior importância no calendário institucional americano e, hoje em dia, comanda uma audiência que anda na casa dos 50 milhões de espectadores.
Uma janela desse tamanho traz consigo um impacto político significativo e pode, às vezes, ser decisivo para direcionar ou reverter preferências eleitorais e influenciar as taxas de aprovação da, ou de discordância com, a atuação do ocupante da Casa Branca.
Ontem foi o primeiro Address de Joe Biden, que chegou ao evento com um índice de desaprovação de 56%, um dos mais altos experimentados por um Presidente em seu primeiro ano de mandato. Pandemia, inflação e um orçamento deficitário, e mais a proximidade das eleições de meio-termo, cujo resultado será crucial para a preponderância Democrata no Congresso e nos Estados, constituíam um grande desafio e exigiam uma performance impecável. Com a invasão russa à Ucrânia com pano de fundo, a tarefa de Biden era realmente difícil.
Por isso mesmo, o Discurso foi coreografado com extremo cuidado. Escrito com o assessoramento de uma equipe de speech writers, ele foi, segundo informações internas, ensaiado à exaustão pelo Presidente. O resultado foi visualmente um show.
Com manda a praxe, o discurso é feito na presença dos deputados e senadores dos dois partidos, mais os membros da Suprema Corte e dos chefes militares. Além deles, o Presidente pode convidar até 24 pessoas que tenham relação com acontecimentos ligados ao Governo, heróis, empresários talentosos e inovadores, gente comum que tenha contribuído para o país de alguma forma inspiradora. A praxe também manda que a bancada do partido do Presidente se manifeste como uma torcida organizada, aplaudindo ruidosamente e de pé a cada frase do pronunciamento.
Nesse ambiente, Biden usou de todo a sua astúcia de velha raposa política para desfiar um pronunciamento que discorreu, de início, sobre a situação internacional e, mais extensamente, sobre seus planos para o futuro da nação.
No caso do conflito ucraniano, ele foi duro, mas calibrado. Apesar de evidenciar seu apoio incondicional ao país invadido (a Embaixadora ucraniana estava presente como convidada e propositalmente sentada ao lado da Primeira Dama Jill Biden) e reforçar a lista de sanções a serem impostas à Rússia, ele repetiu a indicação de que não enviará tropas à Ucrânia.
No plano doméstico, depois de citar algumas realizações de sua gestão, baseando-se em estatísticas que chegaram a ser desafiadas posteriormente, Biden usou e abusou do apelo ao patriotismo para promover seus planos e diretivas que, segundo ele, irão resolver os problemas hoje enfrentados pelos Estados Unidos.
Não sei quão cosméticas são essas assertivas. Algumas tiveram o condão de levantar também para aplausos a bancada adversária, o que é raro. O final foi apoteótico, com os Democratas em ruidosa celebração.
Ainda não li as análises e as avaliações dos especialistas. Mas, todo o evento foi, mais uma vez, um grande espetáculo da Democracia americana.
Oswaldo
Pereira
Março
2022
amigo Oswaldo, mais uma vez voce analisou bem a situacao, parabens
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